Marcello Quintanilha
Conrad Editora (Brasil, 2009)
215 x 280 mm, 64 p., cor, cartonado
R$ 39,00
Resumo
Este tomo compila seis histórias curtas: “Plena de Flôroi”, “De como Djalma Branco perdeu o amigo em dia
de jogo”, “Dorso”, “Escola primária”, “Atualidade” e “A fuga de Zé Morcela”.
Desenvolvimento
Se em tempos, falar de banda desenhada brasileira (ou
histórias em quadrinhos!) em Portugal, era sinónimo das revistas de pequeno
formato da Turma da Mônica, Disney, Marvel e DC Comics – curiosamente Tex e as
outras criações Bonelli, há décadas nas bancas portuguesas, ficaram sempre um
tanto à margem desta identificação – hoje em dia, o mercado brasileiro de HQ
está num outro (invejável) patamar e são muitos os criadores com propostas
estimulantes que urge descobrir.
Porque, por mais (tristes e inúteis) acordos ortográficos
que se façam, apesar da (distante?) proximidade que tantos apregoam, no que à
BD diz respeito – a esta BD… - Portugal e Brasil continuam de costas (quase)
completamente voltadas.
E enquanto nós persistimos neste desconhecimento, mercados
como o norte-americano e (já também o) europeu vão desfrutando os autores
brasileiros.
Entre eles está Marcello Quintanilha – a publicar
actualmente na Le Lombard a série Sette balles pour Oxford, cuja autoria
partilha com Montecarlo – que neste álbum explora as potencialidades da BD na
crónica social e do quotidiano.
Sábado dos meus amores é um conjunto de narrativas curtas,
pequenos apontamentos de um certo quotidiano (bem) brasileiro, a vários níveis,
embora todos os protagonistas tenham um ponto em comum: são gente simples,
desfavorecida, perdedores crónicos, habitantes dos subúrbios ou do interior,
gente que está longe de tudo. Sejam eles o adepto (hiper-)supersticioso do
magnífico “De como Djalma Branco
perdeu o amigo em dia de jogo”, que só por si justifica a leitura do álbum, a
jovem (ainda) analfabeta em busca do primeiro amor de “Escola primária”, o
carregador que carrega o seu insuportável passado em “Dorso”, o operário
iludido pelo destino em “Atualidade” ou o ajudante de circo com aspirações a
(ajudante de) artista de “A fuga de Zé Morcela”.
Com eles, através
deles, Quintanilha traça retratos humanos, sentidos, incómodos, que revelam
degraus menores da escala da vida humana, que desconhecemos ou pensamos só
existirem na ficção.
Fá-lo num tom
neo-realista, com um traço rigoroso na composição de fundos e cenários, mas no
qual se destacam, sempre, os (pobres) seres humanos, cujas histórias banais,
comuns, (aparentemente) desinteressantes até, são autênticos documentários
sociais, que Quintanilha partilha connosco.
A reter
- O incómodo que a
maior parte destes contos provoca, por serem espelho das tão grandes diferenças
que ainda existem a nível social. E humano.
- O tom a um tempo
irónico mas profundamente doloroso de “De como Djalma Branco perdeu o amigo em dia de jogo”.
Menos conseguido
- Mais um título
que podia (devia?) estar – mas não está – disponível em Portugal.