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02/04/2013

A arte de... Marc-Antoine Mathieu


















Julius Corentin Acquefacques 6. Le décalage
Marc-Antoine Mathieu
Delcourt
França, Março de 2013

25/03/2010

Le dessin

Marc Antoine Mathieu (argumento e desenho)
Delcourt (França, Maio de 2001)
228 x 320 mm, 48 p., pb + cor, cartonado

Em "Le Dessin" tudo começa num cemitério, numa banal cena de um funeral. Banal, inevitável, mas custosa - são sempre difíceis os funerais. Neste, quem sofre é Émile, um pintor, pois o seu grande amigo, Édouard, deixou-o. Só. Sem os "passeios discursivos sobre o sentido da arte", sem "as controvérsias insensatas sobre as qualidades comparadas do mistério e do enigma"... Solidão que Marc-Antoine Mathieu retrata admiravelmente através das pinturas de Émile, no início de uma história, num preto e branco sóbrio mas marcante - às vezes opressivo - sobre presença e ausência.
Ausência mais presente quando a chegada de uma carta de Édouard surpreende Émile. Nela, o falecido convida-o a ir ao seu armazém de obras de arte escolher uma qualquer, para si, como última recordação da sua amizade. Após uma busca de muitas horas num "imenso armazém que parecia conter espécimes de todas as artes da humanidade", por entre obras "que lhe lembravam o olhar que Édouad tinha do mundo", a escolha recai - porquê? - "numa pequena gravura insignificante". Talvez porque o desenho "representasse o apartamento de Édouard" e tivesse um título "que o intrigava... ‘reflexão' ".
E a reflexão que Émile faz sobre o desenho, torna-se quase em obsessão. Por isso, recordado do gosto que o amigo tinha pelos enigmas, começa a analisá-lo ao pormenor, cada vez mais meticulosamente, reproduzindo - reflectindo - cada milímetro do desenho nos seus próprios quadros, numa busca incessante, iniciática, que se transforma na essência da sua existência, na sua única razão de ser, de viver, no seu destino, em que arte e vida se unem numa só realidade.
No final de uma narrativa poética e melancólica, no final, também, de uma vida de 'reflexão', de reflexões, também de reflexos - não é tudo o que fazemos e dizemos um reflexo, uma imagem da forma como vemos (reflectimos) o que nos rodeia? - Émile descobre – na cor, que nunca utilizou, para a qual o amigo o conduziu - o segredo daquele desenho - o desígnio da sua vida - que revela o seu lado infinitamente complexo e o seu lado infinitamente simples. Como também existe em tudo. Na vida.

Curiosidade
O álbum está divido em três capítulos - Le Dessin (O desenho), Le Destin (O destino), Le Dessein (O Desígnio) – cuja sonoridade é muito semelhante no original francês.

(Versão revista do texto publicado no Jornal de Notícias de 9 de Janeiro de 2002)

11/12/2009

Dieu en personne

Mac-Antoine Mathieu (argumento e desenho)
Delcourt (França, Setembro 2009)
187 x 265 mm, 128 p., cartonado


Resumo
Numa fila de espera, um homem aguarda a sua vez. Quando finalmente é atendido, apresenta-se como Deus e revela não ter documentos ou domicílio conhecido.

Desenvolvimento
O pretexto é prometedor: Deus regressa à Terra que criou, para ver o seu estado, combater a solidão que sente e aprender a faculdade de rir. Um Deus (bem) humano…
Mas este também é um Deus que mostra a sua divindade, pois é capaz de saber quantas moléculas há numa sala num determinado instante ou de resolver postulados matemáticos ou físicos até então insolúveis.
E se a primeira reacção dos humanos é de incredulidade, depois a multidão passa à crença. A que se segue, inevitavelmente, num mundo globalizado, o interesse mediático e o aproveitamento comercial. O primeiro, analisando o facto de todos os ângulos, o segundo, potenciando o “criador” sob todas as formas: logótipos, livros, música, puzzles, canecas, jogos, campanhas promocionais, sessões de autógrafos, entrevistas, espectáculos, um site…
Mas depois, aos poucos – quando o efeito “novidade” desaparece -, surge uma onda de revolta pelos (muitos) “defeitos” encontrados na sua criação que, golpe de teatro, acaba por originar um processo judicial duma dimensão sem precedentes.
Ao longo desse julgamento, duma enorme incongruência, vão-se acumulando as situações caricatas, as mais absurdas pretensões, com todos – advogados, cientistas, feministas, sociólogos, imprensa, economistas, psiquiatras, filósofos – sem lugar para o homem comum? – a tentarem apresentar e definir Deus.
Um Deus que face a tudo isto se revela cada vez mais cansado e farto de tudo e cuja (breve) história terrena termina (?) com um longo comunicado difundido através da televisão…

Mais do que uma história aos quadradinhos, este é um ensaio em BD sobre Deus, melhor, sobre a forma como Ele é visto pelas pessoas, curiosamente sem que sejam citados ou apareçam religiões, igrejas ou os seus ministros, aqueles que geralmente se anunciam como possuidores d(e tod) a verdade. E sem que Marc-Antoine Mathieu pretenda de alguma forma ter (um)a palavra (final) sobre o assunto.
Em suma, é uma visão laica de Deus, explicou o autor, criada com muita ironia, apresentada de forma sóbria, apesar do traço caricatural, com uma planificação diversificada que ajuda a atenuar o peso e a profundidade das palavras que Mathieu utiliza com mestria, em diálogos bem estruturados.

A reter
- A originalidade da ideia base.
- A forma como Mathieu disserta sobre Deus, em banda desenhada.
- A força dos diálogos.

Curiosidades

- Flaubert, Sartre, Jung ou Einstein são algumas das personalidades citadas ao longo deste ensaio aos quadradinhos.
- Este álbum recebeu o Grand Prix de la Critique 2010, em França, atribuído pela Association des Critiques et Journalistes de Bande Dessinée (ACJBD), entre as 3607 novidades editadas naquele país entre novembro de 2008 e Outubro de 2009.
- Não inocentemente, o livro foi publicado a 9/09/09, o que invertido dá…
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