11/12/2009

Dieu en personne

Mac-Antoine Mathieu (argumento e desenho)
Delcourt (França, Setembro 2009)
187 x 265 mm, 128 p., cartonado


Resumo
Numa fila de espera, um homem aguarda a sua vez. Quando finalmente é atendido, apresenta-se como Deus e revela não ter documentos ou domicílio conhecido.

Desenvolvimento
O pretexto é prometedor: Deus regressa à Terra que criou, para ver o seu estado, combater a solidão que sente e aprender a faculdade de rir. Um Deus (bem) humano…
Mas este também é um Deus que mostra a sua divindade, pois é capaz de saber quantas moléculas há numa sala num determinado instante ou de resolver postulados matemáticos ou físicos até então insolúveis.
E se a primeira reacção dos humanos é de incredulidade, depois a multidão passa à crença. A que se segue, inevitavelmente, num mundo globalizado, o interesse mediático e o aproveitamento comercial. O primeiro, analisando o facto de todos os ângulos, o segundo, potenciando o “criador” sob todas as formas: logótipos, livros, música, puzzles, canecas, jogos, campanhas promocionais, sessões de autógrafos, entrevistas, espectáculos, um site…
Mas depois, aos poucos – quando o efeito “novidade” desaparece -, surge uma onda de revolta pelos (muitos) “defeitos” encontrados na sua criação que, golpe de teatro, acaba por originar um processo judicial duma dimensão sem precedentes.
Ao longo desse julgamento, duma enorme incongruência, vão-se acumulando as situações caricatas, as mais absurdas pretensões, com todos – advogados, cientistas, feministas, sociólogos, imprensa, economistas, psiquiatras, filósofos – sem lugar para o homem comum? – a tentarem apresentar e definir Deus.
Um Deus que face a tudo isto se revela cada vez mais cansado e farto de tudo e cuja (breve) história terrena termina (?) com um longo comunicado difundido através da televisão…

Mais do que uma história aos quadradinhos, este é um ensaio em BD sobre Deus, melhor, sobre a forma como Ele é visto pelas pessoas, curiosamente sem que sejam citados ou apareçam religiões, igrejas ou os seus ministros, aqueles que geralmente se anunciam como possuidores d(e tod) a verdade. E sem que Marc-Antoine Mathieu pretenda de alguma forma ter (um)a palavra (final) sobre o assunto.
Em suma, é uma visão laica de Deus, explicou o autor, criada com muita ironia, apresentada de forma sóbria, apesar do traço caricatural, com uma planificação diversificada que ajuda a atenuar o peso e a profundidade das palavras que Mathieu utiliza com mestria, em diálogos bem estruturados.

A reter
- A originalidade da ideia base.
- A forma como Mathieu disserta sobre Deus, em banda desenhada.
- A força dos diálogos.

Curiosidades

- Flaubert, Sartre, Jung ou Einstein são algumas das personalidades citadas ao longo deste ensaio aos quadradinhos.
- Este álbum recebeu o Grand Prix de la Critique 2010, em França, atribuído pela Association des Critiques et Journalistes de Bande Dessinée (ACJBD), entre as 3607 novidades editadas naquele país entre novembro de 2008 e Outubro de 2009.
- Não inocentemente, o livro foi publicado a 9/09/09, o que invertido dá…

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