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04/04/2020

Leituras digitais: Astérix, Astiberri, Bamboo, Culturama, Delcourt, Marvel, Soleil, Turma da Mônica



Insisto no temas das leituras digitais gratuitas, pois as ofertas, felizmente, vão-se multiplicando.
Por isso, também, existe agora um separador com esta temática por baixo do título do blog, que permite aceder a todas as sugestões já feitas. Algumas são mais perenes no tempo, outras duram apenas poucas horas ou dias. Estejam atentos, façam as vossas escolhas, leiam, releiam, descubram, arrisquem...
Boas leituras… caseiras!

27/05/2014












O preocupante crescimento da extrema-direita nas recentes eleições europeias, nomeadamente em França, confere uma nova actualidade a este álbum, protagonizado por Albert, um anónimo militante dum movimento análogo.
Descubra porquê, já a seguir.

19/09/2013

MediaEntity.01











Simon (argumento)
Émilie (desenho e cor)
Delcourt
França, 28 de Agosto de 2013



Não sou especialmente adepto de ler banda desenhada online – bem pelo contrário. Não consigo usufruir do mesmo prazer que tenho com a leitura em papel e, embora compreenda algumas das razões que podem levar a essa opção – em especial a vantagem económica ou o acesso a clássicos de outra forma indisponíveis – é leitura que raramente me seduz.

Há – possivelmente há cada vez mais – algumas excepções e uma delas é este MediaEntity.01 que, refira-se, tem também existência – diferenciada - no formato álbum desde o passado dia 28 de Agosto.
O motivo principal para esta obra me ter conquistado, é a sua apresentação, que vai (bem) mais longe do que a visualização estática das pranchas originais, assentando numa apresentação dinâmica sequencial de vinhetas e/ou balões, com alguns avanços e recuos e o recurso a grandes planos ou cenas de conjunto. O que, se por um lado pode levantar alguns pruridos a leitores mais conservadores – pela dificuldade de se fazer uma leitura sequencial tradicional – por outro, não sendo mais que uma pobre animação, consegue transmitir um ritmo de leitura e um encadeamento impossíveis de conseguir na leitura em papel, apesar do grande dinamismo do traço de Émilie.
A trama – que embora não seja original, está bem construída e estruturada, graças à existência de sucessivos momentos de suspense – tem como base o piratear da identidade virtual de Éric Magoni, um dos principais traders de um grande banco, seguida da destruição da sua reputação e de uma acusação de desvio de fundos. Após ser preso e conseguir fugir, é recrutado à força por uma organização que, na sombra, tenta lutar contra a globalização… ou algo mais?
A resposta, ainda está por dar mas, desafio os que tiveram a paciência de me ler até aqui, a descobrirem a versão online de MediaEntity e - se quiserem – a compararem-na com a sua versão em papel ou em videojogo pois esta apresenta-se como a primeira BD transmédia da história.

09/05/2013

A arte de... Nesskain



















Le Cercle 1. Your True Colors
Andoryss (argumento)
Nesskain (desenho)
Delcourt
Abril de 2013
14,95 €

02/04/2013

A arte de... Marc-Antoine Mathieu


















Julius Corentin Acquefacques 6. Le décalage
Marc-Antoine Mathieu
Delcourt
França, Março de 2013

10/03/2013

A arte de... Paolo Bacilieri

















La vie revée du Capitaine Salgari
Paolo Bacilieri
Delcourt
França, 20 de Fevereiro de 2013

28/11/2012

Des Oiseaux, des Mers










Collection Contrebande
Ville Tietäväinen
Delcourt 
(França, Março de 2005)
240 x 320 mm, 120 p., cor, cartonado
17,50 €



Este é mais um (curioso) exemplo destes tempos de globalização (mesmo que sejam cada vez mais as vozes que a questionam): BD de autor finlandês, de traço oriental, editada em França (após a publicação na Finlândia), cuja acção decorre em Hong Kong e esboça um retrato cruel (porque realista) da vida na China, em meados da década de 1990 (o que não significa que hoje tudo seja diferente).
A partir de uma bela história de amor entre os (muito) jovens Katie e Simon, o autor revela como a tradição ainda tem um enorme peso na China, como a última palavra sobre o amor, o casamento, os descendentes ou o trabalho (em muitos casos) ainda pertence à família, como o peso da idade, do dinheiro, da posição social ainda continuam a fazer lei, dá um vislumbre do submundo do jogo, da droga, do sexo, do tráfico de órgão humanos (obtidos em refugiados – no caso – vietnamitas)…
Cruzamento de dois percursos – que embatem violentamente a meio do relato, pondo um fim abrupto à história - Des Oiseaux, des Mers está narrado de modo contido e pausado, proporcionando-lhe tempo para respirar e para caracterizar consistentemente os intervenientes.
Dividido em três capítulos, apresentados fora da sua ordem cronológica – o que a certo momento pode baralhar o leitor – este é um retrato cruel – escrevi atrás – porque a história de amor, bonita e doce, que o leitor inconscientemente deseja, acaba por ser atropelada pela crueldade imparável da vida.


15/08/2012

Yossel – 19 avril 1943












Colecção Contrebande
Joe Kubert
Delcourt (França, Dezembro de 2004)
175 x 260 mm, 124 p., pb, cartonado
13,95 €


Há 60 anos, com a libertação de Auschwitz, o mundo descobria até onde a bestialidade do ser humano era capaz de o levar. Sem aprender, pois outras "soluções finais", com mais ou menos requinte e organização, têm-se repetido até aos nossos dias.
"Yossel – 19 avril 1943" (Delcourt), sobre a vida no gueto de Varsóvia, mostra também o horror de Auschwitz, através do relato de um fugitivo, e nele Joe Kubert narra o que teria sido a sua vida, se os seus pais não tivessem imigrado para os Estados Unidos em 1926, estava ele para nascer.
Assim, imagina-se Yossel, com 13 anos, em Varsóvia, mas com o mesmo dom para desenhar demonstrado em "Tarzan", "Sgt. Rock" ou "Fax from Sarajevo". Talento que o ajuda a sobreviver, quando o usa para se abstrair da realidade opressiva, para distrair a família ou os amigos ou até para conseguir favores - obter informações - do ocupante.
Realidade ficcionada, a meio caminho entre a BD e o texto ilustrado, "Yussel" é todo em traço a lápis, só esboçado, "porque ao executar os meus primeiros croquis, senti no meu traço um sentimento de urgência que quis conservar", revela Kubert. Ou porque não há imagens capazes de descrever um tal horror?
Horror que está latente nesta obra intensa e violenta, que é mais um documento que não nos deixa esquecer.

(Texto publicado no Jornal de Notícias de 30 de Janeiro de 2005)


13/07/2012

Le Cycle des Epées









Colecção Contrebande
Howard Chaykin (argumento)
Mike Mignola (desenho)
Al Williamson (arte-final)
Sherilyn Van Valkenburgh (cor)
Delcourt (França, Agosto de 2007)
173 x 264 mm, 192 p., cor, cartonado
19,90 €


Resumo
Durante uma emboscada nas ruas da perigosa cidade de Lankhmar, Fafhrd, o guerreiro nórdico, e Sourcier Gris, um renomado ladrão, encontram-se pela primeira vez e tornam-se improváveis amigos, juntos para uma vingança e para as mais inesperadas batalhas e pilhagens.
Esta banda desenhada, originalmente uma mini-série em quatro números, adapta uma série de romances escritos a partir de 1939 por Fritz Leiber (1910-1992), considerado um dos fundadores do género “espada e feitiçaria”.

Desenvolvimento
Género que em tempos fez escola – e para alguns era mesmo a única BD aconselhável – a adaptação em quadradinhos de clássicos da literatura, depois de ter decaído bastante, está hoje de novo em voga. Com a vantagem de a eles, muitas vezes, estarem associados autores jovens, que recriam os originais no novo suporte narrativo, de forma fiel mas também estimulante.
Não sendo uma obra actual – longe disso, pois data do início da década de 1990 – esta mini-série aqui compilada num único tomo, tem a particularidade de ter a assinatura de dois nomes importantes dos comics: Howard Chaykin e Mike Mignola (aqui antes da criação de Hellboy). Ou de três, pois é de toda a justiça incluir também o arte-finalista, o grande Al Williamson!
Na sua origem, está um inusitado encontro entre personalidades – um guerreiro e um ladrão - que nada parecia indicar terem interesses comuns, unidas primeiro em defesa das suas vidas, depois na tentativa de um roubo mítico, na sequência dele, na dor pela perda das companheiras e, em seguida na vingança.
Uma vez consumada, deambulam em busca de presas e sonhos, numa época indefinida e por locais fictícios – à semelhança do que acontece com Conan, com quem têm outras afinidades. Cruzam-se com saqueadores e guerreiros, senhores e magos, espíritos e seres sobrenaturais, com a realidade e o sobrenatural a sobreporem-se com frequência – embora nem sempre de forma muito linear… – e na qual a acção serve geralmente para resolver questões aparentemente complicadas.
Graficamente, o traço de Mignola – por “culpa” própria ou devido à finalização de Williamson? – surge algo incaracterístico e com oscilações, preso a um equilíbrio precário entre um semi-realismo mais convencional e a depuração que o tornaram depois único e famoso.


25/06/2012

Black Hole - L'Intégrale












Charles Burns
Delcourt (França, 8 de Novembro de 2006)
175 x 260 mm, 368 p., pb, cartonado com sobrecapa
29,90 €



Resumo
Numa pequena vila norte-americana, surge uma estranha doença, sem explicação (vírus? maldição? ataque extraterrestre?) aparente nem causas confirmadas, que provoca horríveis mutações exclusivamente na população adolescente/juvenil. Membranas entre os dedos, cornos, uma segunda boca, estranhos orifícios em diferentes partes do corpo, são algumas das suas manifestações.

Desenvolvimento
Se a base da narrativa deixa antever um tom fantástico – que obviamente existe – não é esse o caminho (principal) trilhado por Charles Burns que optou por um registo de terror psicológico, que perpassa toda esta longa e densa narrativa, de tom incómodo e inquietante, com mais perguntas do que respostas.
A par dele, de forma algo surpreendente - pelo que atrás fica escrito – Burns traça um retrato forte e impactante sobre os relacionamentos e os valores de uma (nova) geração que busca na alienação proporcionada pelas drogas e pelo sexo (recém-descobertos ou em fase exploratória) as respostas que não consegue encontrar ou aquelas que já descobriu e quer esquecer.
Desta forma, “Black Hole” revela-se uma enorme metáfora, um retrato distorcido – mas não tanto quanto uma leitura apressada poderá sugerir – de uma determinada época e de uma geração (perdida?), à deriva, com o peso das (novas) responsabilidades que o crescimento traz agravado pelo estranho mal que os afecta e os leva, ao auto-isolamento e/ou a uma revolta – mais ou menos violenta – contra uma sociedade que não sendo (?) culpada, também pouco ou nada faz para os ajudar (recuperar, integrar, guiar, direccionar…).
Burns, acentua a sensação de estranheza e incómodo pelo forte contraste entra o seu traço limpo, bastante realista, pormenorizado e até agradável, e o tom escuro das pranchas fruto do predomínio do tom negro, que – numa boa utilização de técnica fotográfica - muitas vezes assumem o aspecto de negativos e não de imagem já revelada.
O relato, feito a várias vozes – as dos principais intervenientes – e várias interpretações – consoante os pontos de vista de cada um - é feito de avanços e recuos, exibindo muitas vezes o que aconteceu e só depois as causas que levaram ao efeito já desvendado, numa narrativa elíptica, que obriga o leitor a atenção redobrada e, por vezes, a sucessivas reinterpretações do que vê, enquanto se sente a mergulhar, inexoravelmente, sem escapatória, num infinito “buraco negro”.



01/05/2012

Paroles de…







Volto hoje à temática “prisional”, por culpa da leitura de “20 Ans fermé” que evocou na minha memória a lembrança da “tetralogia” “Paroles de…”, nascida no seio da Association BD Boum, responsável também pelo Festival de Blois, e concretizada pela colaboração entre ela, o centro prisional local, a editora Delcourt, o argumentista Corbeyran e algumas dezenas de desenhadores, entre nomes a despontar e gente de créditos reconhecidos (ou hoje reconhecidos…) que se dispuseram a passar para o papel o relato dos testemunhos recolhidos naquela penitenciária.
Partilho-as agora com os leitores deste blog, através de alguns excertos do que escrevi sobre alguns destes livros no Jornal de Notícias, aquando da respectiva publicação.







Paroles de Taulards
Colecção Encrages
Corbeyran (argumento)
Davodeau, Lejonc, Lemaire, Mathieu, Matthys, Berlion, Christopher, Crespin, Bézian, Peyraud, Guérineau, Alfred, Baudoin (desenho)
Delcourt (França, Julho de 1999)
165 x 230 mm, 112 p., pb, brochado
11,50 €

“O Festival de BD de Blois (…) tem tido uma importante componente social no meio em que se insere, contando-se entre as diversas realizações, atelieres na prisão local de há 10 anos a esta parte.
Atelieres que têm servido “para encontramos homens que pensam, reflectem, questionam-se, discutem, revoltam-se, odeiam, amam, seres completos. A prisão contém mil segredos apaixonantes. É um universo desconhecido onde os homens são fechados para se tornarem diferentes”, como contam dois dos animadores do projecto que este ano deu origem a um livro, “Paroles de Taulards” (…)
Com uma ou outra excepção, eles, os condenados, não contam a sua história nem falam da forma como foram parar à cadeia. Não contam também histórias da cadeia, dos horrores que lá se passam, se sofrem e que por vezes chegam aos nossos ouvidos.
“Paroles de Taulards” é mais uma recolha dos seus anseios, dos seus sonhos, da forma como imaginam e desejam viver o espaço para lá das grades, espaço tão banal para nós, mas de liberdade (algures perdida) para eles.”

(Texto publicado originalmente no Jornal de Notícias de 7 de Dezembro de 1999)





Paroles de Taule
Colecção Encrages
Corbeyran (argumento)
Aris, Balez, Bézian, Bouillez, Cabanes, Carrère, J.-L. Coudray, Ph. Coudray, Davodeau, Édith, Garrigue, Guérineau, Janvier, Kang, Lejonc, Lemaire, Margerin, Pic, Portet, Sattouf, Toshy (desenho)
Delcourt (França, Novembro de 2001)
165 x 230 mm, 124 p., pb, brochado
9,95 €

“(…) Depois de "Paroles de Taulards", editado há dois anos e distinguido em Angoulême por ser a obra que melhor valorizava os valores sociais, surge agora "Paroles de Taule" (…) que mais uma vez, é fruto de conversas entre detidos do estabelecimento prisional de Blois e o argumentista Corbeyran, que transformou as suas experiências da vida prisional em histórias que obrigam à reflexão, desenhadas com a emoção à flor do traço por nomes como Margerin, Cabanes, Bézian, Coudray ou Davodeau. Para além das ansiedades, medos, sonhos, a solidão, o silêncio, a forma de ocupar o tempo ou as regras que têm de seguir, este livro apresenta um outro ponto de vista quase sempre esquecido: o dos guardas que diariamente convivem com os detidos”.

(Texto publicado originalmente no Jornal de Notícias de 4 de Dezembro de 2001)





Paroles de Parloirs
Colecção Encrages
Corbeyran (argumento)
Andreas, Balez, Bodin, Cornette, Davodeau, Duprat, Edith, Espé, Fournier, Guérineau, Joub, Julliard, Hyuna, Larcenet, Lejonc, Lemaire, Mezières, Moreno, Murat, Notamy, Sternis, Troub's (desenho)
Delcourt (França, Novembro de 2003)
165 x 230 mm, 144 p., pb, brochado
12,90 €







Paroles de Sourds
Corbeyran (argumento)
Aris, Berlion, Bouillez, Christin, Cornette, Coudray, Davodeau, De Thuin, Édith, Guérineau, Hyuna, Karo, Larcenet, Lejonc, MoCDM, Moreno, Murat, Riff, Tronchet, Verlaine et Verron (desenho)
Delcourt (França, Novembro de 2005)
165 x 230 mm, 128 p., pb, brochado com badanas
10,95 €

“(…) A banda desenhada, enquanto meio de comunicação por excelência, tem servido muitas causas (e tantas causas têm-se servido dela - e tantas vezes mal) (…)
(…) após "Paroles de Parloirs" e "Paroles de Taule", dedicadas às dificuldades inerentes à vida nas prisões (do ponto de vista humano, sem julgamentos de valores, nem desejos de desculpabilização), agora é dada a palavra aos surdos em "Paroles de Sourds".
Trata-se de uma vintena de histórias, mais uma vez com argumento de Corbeyran a partir de testemunhos reais, desenhadas por autores como Pierre Christin (!), Davodeau, Larcenet ou Tronchet.
São relatos que abrem uma pequena fresta sobre uma realidade dura e (praticamente) incontornável, (bem) diferente daquela em que a maioria de nós vive, e sobre as dificuldades que os surdos (e os seus familiares, e os seus intérpretes) sentem neste mundo "auditivo" em que nós vivemos.
Relatos que oscilam entre o divertido, o curioso, o descritivo, o emocional e mesmo o pungente, e que mostram como sendo todos nós seres humanos (iguais…), podem pesar tanto certas diferenças.”

(Texto publicado originalmente no Jornal de Notícias de 27 de Novembro de 2005)


06/12/2011

Sous L’Entonnoir

Sibylline (argumento)Natacha Sicaud (desenho)
Delcourt (França, 19 de Outubro de 2011)
194 x 255 mm, 144 p., cor, cartonado
17,50 €

Resumo
Aline ficou órfã de mãe aos 7 anos, quando esta se matou com um tiro de carabina na barriga. Aos 17 tentou suicidar-se ingerindo medicamentos.
Sous l’entonnoir aborda o período de cerca de um mês em que esteve internada numa instituição psiquiátrica.

Desenvolvimento
Mas desengane-se quem imagina aqui uma versão em BD do célebre Voando sobre um ninho de cucos ou uma denúncia desabrida dos métodos e tratamentos infligidos aos doentes por enfermeiros e médicos.
Obra autobiográfica, baseada na experiência real da argumentista, escrita cerca de 15 anos após as situações narradas no livro, Sous l’entonnoir é antes uma obra extremamente pudica e contida, mais uma catarse pessoal do que obra de auto-comiseração, denúncia ou louvor. Apenas um retrato – algo destorcido pela memória de uma paciente (não muito doente)? – do quotidiano e das situações banais – no contexto – da instituição.
Por isso – apesar disso? talvez por isso? – a obra é tocante e emotiva porque Sibylline e natacha Sicaud conseguiram passar para os quadradinhos do papel a angústia, a tensão, a demanda, o sofrimento, as dúvidas, os receios, as dificuldades de comunicação, a coabitação com o bizarro e o anormal, a solidão partilhada com quem se desconhece, com quem não se comunica, com alguém cujas histórias não se conhecem, experimentados no hospital psiquiátrico ao longo de um mês que – para os leitores e para a protagonista – pareceu muito mais tempo.
Efeito voluntário, acentuado pelo ritmo pausado da narrativa, pela sua estrutura, assente em capítulos curtos mas incisivos, pelo traço despojado mas seguro no retratar de poses e olhares, pelas poucas palavras e os muitos silêncios – incómodos – que percorrem as páginas de Sous l’entonnoir.

A reter
- O pudor da narrativa, completamente despido de qualquer pretensão sensacionalista.
- A forma como as autoras conseguiram materializar nos quadradinhos o ambiente opressivo e tenso da clínica.

Curiosidade
- A argumentista chama-se Sibyline porque o seu pai, grande leitor de banda desenhada, admirava bastante a pequena ratinha criada por Raymond Macherot.



15/11/2011

Sept Clones

Stéphane Louis (argumento)
Stéphane De Caneva (desenho)
Véronique Daviet (cor)
Delcourt (França, 5 de Outubro de 2011)
230x320mm, 64 p., cor, cartonado
14,95 €

Resumo
O local é o sistema solar em 2093, com muitos dos seus planetas colonizados. O contacto com outras civilizações já se deu e, com o seu beneplácito, a humanidade prepara-se para dar um passo rumo ao cosmos e a um novo grau de conhecimento. Mas para isso há uma condição: que a população terrestre esteja sobre a égide de um presidente único e universal.
Na véspera da eleição que o designará, sete clones de antigos assassinos são despertados para matarem o Presidente da Humanidade.

Desenvolvimento
Este regresso à segunda temporada da colecção Sept, depois de Sept Personnages, dá-se desta vez sob o signo da ficção científica, numa intriga futurista, que reflecte sobre a importância da tecnologia, a sujeição do individuo ao todo ou a existência de uma alma colectiva, a par dos ontornos políticos subjacentes ao argumento.
Desde logo pelo sistema único – totalitário? – que já rege a humanidade – submersa num sistema em que impera uma hiper-agressiva publicidade, presente em todos os momentos do quotidiano, e uma enorme dependência dos meios de informação. E que há-de tornar-se mais intensa, com a eleição do líder único como única forma de chegar ao conhecimento pleno (?).
No momento em que tudo parece concorrer para esse propósito, sete clones de antigos assassinos, desconhecidos entre eles – embora existam sentimentos, sonhos, laços (tal como nos gémeos…) que só depois perceberão – com vidas/vivências díspares (um sacerdote, um pervertido sexual, um mineiro, um louco internado…) e espalhados pelo sistema solar, são despertados e reunidos com o propósito de assassinarem o novo presidente a ser eleito.
A necessidade de apresentar os (sete) protagonistas nas primeiras páginas, é menos bem resolvida pelo argumentista, tornando-se penalizadora para o leitor, pois resulta demasiado confusa, sendo evidente que foram curtas as páginas disponíveis para explorar suficientemente a via que os autores elegeram e introduzir satisfatoriamente cada um dos sete clones, ficando por aprofundar as características individuais de cada um, revelando-se todos demasiado lineares. A isto há que acrescentar a a opção de identificar os diferentes clones por cores o que, se aumenta a legibilidade, torna pouco agradáveis as pranchas iniciais, por força da demasiada diversidade cromática.
Como contraponto, mais para a frente no livro, resulta especialmente feliz a forma como – depois de os clones se “congregarem” num só – os pensamentos e sensações dos sete surgem aos olhos do leitor ajudando a dar consistência ao conceito inicia, embora impondo um menor ritmo narrativo.
Aquele aspecto menos conseguido, não retira no entanto o prazer de descobrir um mundo (possível?) dominado pela tecnologia, e uma história que funciona e é convincente, conseguindo surpreender o leitor mesmo quando o curso dos acontecimentos sofre uma inversão quase total.
Graficamente, com a ressalva das pranchas iniciais já feita, a obra é bastante apelativa, com De Caneva a brilhar intensamente nas pranchas em que imperam a tecnologia ou os cenários grandiosos, a par de um bom trabalho no desenho da figura humana, sendo o seu traço bem acompanhado pela paleta cromática de Véronoque Daviet.

A reter
- A exploração de (mais) uma faceta diferente da base desta colecção (sete protagonistas que devem executar uma missão de alto risco), que mostra todo o seu potencial.
- A arte realista fantástica de De Caneva e as cores de Daviet…

Menos conseguido
… com excepção das páginas inicias que introduzem os protagonistas…
… nas quais Louis também não foi especialmente feliz.
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