Volto hoje à temática
“prisional”, por culpa da leitura de “20 Ans fermé” que evocou na minha memória
a lembrança da “tetralogia” “Paroles de…”, nascida no seio da Association BD
Boum, responsável também pelo Festival de Blois, e concretizada pela
colaboração entre ela, o centro prisional local, a editora Delcourt, o
argumentista Corbeyran e algumas dezenas de desenhadores, entre nomes a
despontar e gente de créditos reconhecidos (ou hoje reconhecidos…) que se
dispuseram a passar para o papel o relato dos testemunhos recolhidos naquela
penitenciária.
Partilho-as agora com os
leitores deste blog, através de alguns excertos do que escrevi sobre alguns destes
livros no Jornal de Notícias, aquando da respectiva publicação.
Paroles de Taulards
Colecção Encrages
Corbeyran (argumento)
Davodeau, Lejonc, Lemaire, Mathieu,
Matthys, Berlion, Christopher, Crespin, Bézian, Peyraud, Guérineau, Alfred,
Baudoin (desenho)
Delcourt (França, Julho de 1999)
165 x 230 mm, 112 p., pb, brochado
11,50 €
“O Festival de BD de Blois
(…) tem tido uma importante componente social no meio em que se insere,
contando-se entre as diversas realizações, atelieres na prisão local de há 10
anos a esta parte.
Atelieres que têm servido
“para encontramos homens que pensam, reflectem, questionam-se, discutem,
revoltam-se, odeiam, amam, seres completos. A prisão contém mil segredos
apaixonantes. É um universo desconhecido onde os homens são fechados para se
tornarem diferentes”, como contam dois dos animadores do projecto que este ano
deu origem a um livro, “Paroles de Taulards” (…)
Com uma ou outra excepção,
eles, os condenados, não contam a sua história nem falam da forma como foram
parar à cadeia. Não contam também histórias da cadeia, dos horrores que lá se
passam, se sofrem e que por vezes chegam aos nossos ouvidos.
“Paroles de Taulards” é mais
uma recolha dos seus anseios, dos seus sonhos, da forma como imaginam e desejam
viver o espaço para lá das grades, espaço tão banal para nós, mas de liberdade
(algures perdida) para eles.”
(Texto publicado
originalmente no Jornal de Notícias de 7 de Dezembro de 1999)
Paroles de
Taule
Colecção
Encrages
Corbeyran
(argumento)
Aris, Balez, Bézian, Bouillez, Cabanes, Carrère, J.-L.
Coudray, Ph. Coudray, Davodeau, Édith, Garrigue, Guérineau, Janvier, Kang,
Lejonc, Lemaire, Margerin, Pic, Portet, Sattouf, Toshy (desenho)
Delcourt (França, Novembro de 2001)
165 x 230 mm, 124 p., pb, brochado
9,95 €
“(…) Depois de "Paroles
de Taulards", editado há dois anos e distinguido em Angoulême por ser a
obra que melhor valorizava os valores sociais, surge agora "Paroles de
Taule" (…) que mais uma vez, é fruto de conversas entre detidos do
estabelecimento prisional de Blois e o argumentista Corbeyran, que transformou
as suas experiências da vida prisional em histórias que obrigam à reflexão,
desenhadas com a emoção à flor do traço por nomes como Margerin, Cabanes,
Bézian, Coudray ou Davodeau. Para além das ansiedades, medos, sonhos, a
solidão, o silêncio, a forma de ocupar o tempo ou as regras que têm de seguir,
este livro apresenta um outro ponto de vista quase sempre esquecido: o dos
guardas que diariamente convivem com os detidos”.
(Texto publicado
originalmente no Jornal de Notícias de 4 de Dezembro de 2001)
Paroles de Parloirs
Colecção Encrages
Corbeyran (argumento)
Andreas, Balez, Bodin, Cornette, Davodeau, Duprat, Edith, Espé, Fournier, Guérineau, Joub, Julliard, Hyuna, Larcenet, Lejonc, Lemaire, Mezières, Moreno, Murat, Notamy, Sternis, Troub's (desenho)
Delcourt (França, Novembro de 2003)
165 x 230 mm, 144 p., pb, brochado
12,90 €
Paroles de Sourds
Corbeyran
(argumento)
Aris, Berlion, Bouillez, Christin, Cornette, Coudray,
Davodeau, De Thuin, Édith, Guérineau, Hyuna, Karo, Larcenet, Lejonc, MoCDM,
Moreno, Murat, Riff, Tronchet, Verlaine et Verron (desenho)
Delcourt (França, Novembro de 2005)
165 x 230 mm, 128 p., pb, brochado com
badanas
10,95 €
“(…) A banda desenhada,
enquanto meio de comunicação por excelência, tem servido muitas causas (e
tantas causas têm-se servido dela - e tantas vezes mal) (…)
(…) após "Paroles
de Parloirs" e "Paroles de Taule", dedicadas às dificuldades
inerentes à vida nas prisões (do ponto de vista humano, sem julgamentos de
valores, nem desejos de desculpabilização), agora é dada a palavra aos surdos
em "Paroles de Sourds".
Trata-se de uma vintena
de histórias, mais uma vez com argumento de Corbeyran a partir de testemunhos
reais, desenhadas por autores como Pierre Christin (!), Davodeau, Larcenet ou
Tronchet.
São relatos que abrem
uma pequena fresta sobre uma realidade dura e (praticamente) incontornável,
(bem) diferente daquela em que a maioria de nós vive, e sobre as dificuldades
que os surdos (e os seus familiares, e os seus intérpretes) sentem neste mundo
"auditivo" em que nós vivemos.
Relatos que oscilam
entre o divertido, o curioso, o descritivo, o emocional e mesmo o pungente, e
que mostram como sendo todos nós seres humanos (iguais…), podem pesar tanto
certas diferenças.”
(Texto publicado
originalmente no Jornal de Notícias de 27 de Novembro de 2005)