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15/02/2024

Loire

Viver 
como as águas de um rio...


Tive a sorte de descobrir Étienne Davodeau, o autor, em 1992 - com a série Les amis de Saltiel - e o homem, pessoalmente meia dúzia de anos depois.
Ao longo destes trinta e poucos anos acompanhei a sua carreira, descobri cada novo livro - nem sempre tão rapidamente quanto deveria e desejaria - e comprovei, a cada novidade literária - sem necessidade deste apodo para a justificar, mas com toda a força, importância e dimensão que ele pode conferir à literatura desenhada que o autor francês nos serve - como ele tem conseguido partir de premissas extremamente originais que transforma em histórias de vida, humanas, impressionantemente reais e credíveis, daquelas que dão vontade de ter vivido.

03/12/2019

Les couloirs aériens

Enquanto quisermos viver

Quem sabe. Talvez seja para isso que servem as histórias?
Para nos ajudarem a viver.’
In Les couloirs aériens

Yvan tem 50 anos. Em pouco tempo perdeu a mãe, o pai e o emprego. E a esposa foi trabalhar para o estrangeiro. E os filhos vivem longe.
Só, sem ocupações, instalado na cabana isolada de um amigo, no meio do nada (do Jura), coberto de neve, tem apenas as histórias do passado e a antevisão de um futuro… sem futuro.

04/02/2019

L'Avancée des travaux

Para além da BD

Não tenho qualquer dúvida que Étienne Davodeau é um dos autores incontornáveis das últimas duas décadas.
Não só por ser um narrador de excelência, mais do que isso pela actualidade e pertinência das suas histórias face à sociedade em que vivemos, acima de tudo pela compreensão que tem do meio narrativo que utiliza e pela capacidade de o reinventar constantemente ao serviço daquilo que partilha com os/expõe aos leitores.

17/07/2017

Os Ignorantes

Bebe um copo, lê uma BD
(introdução publicada na edição da colecção Novela Gráfica 2017)

“… nós procuramos ambos uma coisa difícil: uma forma de evocar a vida das pessoas, mantendo a nossa liberdade de autor…”
Emmanuel Guibert, em Os Ignorantes

Há duas características fundamentais na obra de Étienne Davodeau.
Por um lado, a forma como utiliza - como experimenta, como arrisca, como ousa - a linguagem própria da BD em géneros menos associados a este tipo de narrativa, “porque o campo da banda desenhada é vasto e não vejo razão para o limitar à ficção” [Esta e outras citações são de uma entrevista concedida ao Jornal de Notícias de 10 de Julho de 2001].

14/07/2017

Os Ignorantes










Uma leitura da edição francesa, seguindo este link...


Os Ignorantes
Relato de uma iniciação cruzada
Étienne Davodeau
Levoir/Público
Portugal, 14 de Julho de 2017
pb+cinza, capa dura
9,99 €

Nas bancas: Os Ignorantes





(nota informativa disponibilizada pela editora)
O que têm em comum um produtor de vinho biológico e um autor de BD?
Os Ignorantes Relato de uma Iniciação Cruzada, relata a experiência de dois amigos, Étienne Davodeau,  um dos maiores autores de banda desenhada francesa actual, que não sabe nada de vinhos, e Richard Leroy, viticultor que quase nunca leu BD. Juntos irão descobrir a ligação entre duas áreas aparentemente tão distintas.

04/11/2015

Cher pays de notre enfance













O tema – a subpolítica francesa desde os anos 1970 – e a dimensão do livro, levou-me a hesitar quanto a lê-lo, durante algum tempo, mas finalmente decidi-me. Teria feito mal se assim não fosse.

23/05/2015

E depois da colecção Novela Gráfica… (III)




… para os que se deixaram seduzir pelas obras da colecção Novela Gráfica - e também para os que ainda precisam de ser seduzidos por esta forma de narrar aos quadradinhos ... - ao correr da escrita, aqui fica a indicação de mais algumas edições de outros romances gráficos (gosto mais desta designação…) já editados em português.

27/06/2014

Il s’appelait Geronimo













Mais cedo do que previa, volto a Étienne Davodeau, desta vez numa obra que junta as pontas soltas do tríptico Geronimo, feito em parceria com Joub.
Para descobrir, já a seguir.

30/05/2014

Alguns Dias com um Mentiroso

Edição brochada






Publico hoje aquele que será (previsivelmente) o último livro do mini-ciclo que As Leituras do Pedro dedicaram a Étienne Davodeau, a propósito da sua presença no X Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja, já amanhã (31 de Maio) e domingo (1 de Junho).
E fecho com chave de ouro ou não seja este o livro do autor que mais me marcou – o que não põe em causa a (eventual maior) qualidade, actualidade e até premência de outros dos seus títulos.
Descubram porquê já a seguir.

27/05/2014












O preocupante crescimento da extrema-direita nas recentes eleições europeias, nomeadamente em França, confere uma nova actualidade a este álbum, protagonizado por Albert, um anónimo militante dum movimento análogo.
Descubra porquê, já a seguir.

26/05/2014

Le constat













Primeiro salto em frente na carreira de Davodeau, este álbum originalmente datado de 1996, aparentemente parece deslocado no contexto da sua obra.
Nada mais falso, como explico já a seguir.

19/05/2014

Les amis de Saltiel #1: L’homme que n’aimait pas les arbres





O convite do X Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja para escrever um texto sobre Étienne Davodeau, levou-me – de forma prazeirosa – a reler a obra daquele que considero um dos autores franco-belgas (e não só) mais interessantes das duas últimas décadas.
Por esse motivo, apesar de ele ser presença recorrente aqui no blog através das suas obras mais recentes, começo hoje, de forma intermitente, um mini-ciclo Étienne Davodeau, que preencherei com algumas das suas obras iniciais.
A abrir, o álbum que o revelou, através do texto que escrevi para o jornal O Primeiro de Janeiro, de 23 de Fevereiro de 1992, que podem ler já a seguir.

05/11/2013

Le chien qui louche













Étienne Davodeau
Futuropolis + Louvre Éditions
França, 24 de Outubro de 2013
195 x 265 mm, 144 p., preto, branco e cinzento, cartonado
20,00 €

25/10/2011

Les Ignorants

Étienne Davodeau (argumento e desenho)Futuropolis (França, 6 de Outubro de 2011)
200 x 270 mm, 272 p., pb, cartonado
24,50 €

Resumo
Como diz o subtítulo deste livro, este é o “relato de uma iniciação cruzada”. A iniciação de Richard Leroy, vinhateiro, no mundo da banda desenhada. E a iniciação de Étienne Davodeau, autor de BD, nos meandros do fabrico de vinho.
Em tom documental, o livro abarca quase um ano e meio da vivência em comum dos dois homens.


Desenvolvimento
O título dá o mote. Étienne Davodeau, um dos mais interessantes autores dos nossos dias, ignora tudo o que diz respeito às vinhas e ao vinho. É um ignorante.
Ricahrd Leroy, proprietário de uma vinha na região da Loire, ignora tudo o que diz respeito ao mundo das histórias aos quadradinhos. É um ignorante.
Este livro narra na primeira pessoa e num registo documental, como cada um deles vai iniciar o outro no seu universo próprio. Mesmo se Étienne tem dificuldade em distinguir vinhos, mesmo se Richard adormece quando tenta ler BD.
Porque este é um mergulho naqueles dois universos, díspares mas sedutores, potenciado pela paixão comum dos protagonistas pelo trabalho bem feito.
Por isso, ao longo do livro, acompanhando o trabalho dpos dois homens na vinha, acompanhando as suas escapadas ao mundo dos quadradinhos, vamos conhecer os segredos para a obtenção de um bom vinho: a poda, os cuidados a ter com o solo, a adubação, o sol, a (não) utilização de químicos, o fabrico das pipas, o controle do crescimento das videiras, as vindimas, a fermentação, o repouso, o engarrafamento, a degustação, as visitas de críticos…
E também saber pormenores sobre o desenvolvimento do argumento e do desenho, o fabrico físico dos livros, a importância do papel, a função do editor, vamos visitar as casas de Jean-Pierre Gibrat, Marc-Antoine Mathieu e Emmanuel Guibert (vendo os autores como raramente os vemos, no seu ambiente próprio, na sua mais simples condição de seres humanos normais… e descobrindo as suas concepções da BD, razões para as opções formais, temáticas e estéticas, formas de trabalhar), descobrimos porque Trondheim se retrata com um grande bico (numa explicação desenhada pelo próprio…), visitamos os festivais Quai des Bulles e de Bastia ou a exposição Moebius na Fundação Cartier…
Mas se o registo é documental, o tom é profundamente humano, cativante e sereno, em especial graças aos diálogos credíveis, verdadeiros e sinceros como só Davodeau sabe, pontuados aqui com humor, ali com fúria, depois com dúvida, mais à frente com surpresa, e através dos quais – como os protagonistas - somos iniciados naqueles dois mundos, aprendemos com as dúvidas de cada um que, em muitos casos, podem ser também as nossas. Acompanhamo-los no campo e nas exposições, provamos vinho e descobrimos bandas desenhadas como Watchmen, Maus ou Le Photographe (conhecemos mesmo dois co-protagonistas desta última, igualmente vinhateiros!), ouvimos as suas opiniões, os seus pensamentos, os seus desabafos…
Por isso, no final do livro, encontramos duas listas: os vinhos bebidos e as bandas desenhadas lidas…
Numa vintena de capítulos e quase 300 pranchas – vivas, dinâmicas, baseadas no essencial, retratando com rigor mas liberdade os locais por onde os dois passaram, transmitindo a paixão de Richard pela sua terra, descrevendo sem palavras as diferenças (de solo, irrigação, clima, vegetação) entre as diversas vinhas visitadas – Davodeau mostra a amizade forte que une os dois homens e transmite a paixão que cada um sente pela sua actividade, a honestidade com que cada um a encara e com as quais tenta conquistar o outro.
No fim, ganha o leitor - qualquer leitor, seja ele apreciador de vinhos, amante de BD, ambos ou nenhum dos dois - pois aprende sobre aquelas duas ocupações artesanais – criar BD, fabricar vinho - desfruta de uma história sensíuvel e humana e (re)descobre (outr)as potencialidades narrativas da banda desenhada.

A reter
- A superior capacidade narrativa de Davodeau.
- A honestidade apaixonada (e apaixonante) dos dois protagonistas em relação à respectiva arte.
- O belo objecto livro.

11/06/2010

Aqueles que te amam

Étienne Davodeau (argumento e desenho)
MaisBD (Portugal, Outubro de 2002)
230 x 320 mm, 48 p., cor, cartonado

Resumo
“Aqueles que te amam” começa nos últimos momentos da grande final europeia em que se enfrentam franceses e italianos. O empate, a manter-se, assegura a vitória dos primeiros. Jogam-se os últimos segundos da partida e Renaud Landy, o guarda-redes dos franceses do F.C.E., prepara-se para bater o último pontapé de baliza. Faz um compasso de espera, dá alguns passos para a bola, pára e, de repente, golpe de teatro! Chuta para a própria baliza, dando a vitória à equipa italiana.

Desenvolvimento
“Porquê?”, interrogam-se todos. Para conhecer a resposta, é preciso recuar alguns dias, quando Titou, a estrela da equipa francesa, após muita insistência, acede a participar no jantar de aniversário de Adrien, um seu fã indefectível, que está às portas da morte. Só que, o que parecia ser um relaxante jantar, é perturbado pela aparição de Pascal, um amigo de Adrien, recentemente despedido pela empresa que patrocina Titou, e que está decidido a receber “a sua parte” da fama do jogador, nem que para isso tenha que o raptar.
Ao mesmo tempo, em casa dos Bertin, estala uma tempestade entre pai e filho, ambos apostados em assistir à grande final, mas com a relação a ser perturbada pelas sucessivas negativas escolares do filho.
Estes são os pontos de partida de “Aqueles que te amam”, cujo relato se vai desenvolvendo num crescendo, narrando em paralelo as duas situações, que se vão tornando cada vez mais rocambolescas, até se cruzarem num final inesperado e caótico.
Neste álbum, já quase com uma década, Étienne Davodeau faz um retrato distorcido – embora não tanto como parece - de uma realidade a que todos assistimos no nosso dia a dia, por onde perpassavam nomes como Figo, Zidane, Khan, Raúl ou Ronaldo (o brasileiro), hoje substituídos por outro Ronaldo, o Cristiano, Kaká, Ribery ou Di Maria, que todos identificámos imediatamente como talentosos futebolistas. Mas o que são eles? Ídolos ou meras mercadorias, das quais cada um – fans, famílias, dirigentes desportivos, políticos, imprensa, eles próprios – tenta tirar o máximo proveito possível, enquanto dá, esquecendo que, antes de tudo, são seres humanos.
É a esta reflexão que Étienne Davodeau nos convida em “Aqueles que te amam”, um olhar atento, sério e preocupado sobre este “mundo tão tranquilo” em que nós vivemos.

Curiosidade
- O “mundo tão tranquilo” referido no final do texto era o título da colecção em que este one-shot estava inserido em França, e que incluía também os títulos (não traduzidos em português mas igualmente muito recomendáveis) “La Gloire D’Albert” e “Anticyclone”.

(Versão revista e actualizada do texto escrito para a nota de imprensa de apresentação deste álbum, em 2002)

10/05/2010

Lulu Femme Nue – second livre

Étienne Davodeau (argumento e desenho)
Futuropolis (França, Abril de 2010)
216 x 293 mm, 80 p., cor, cartonado


Resumo

10 dias depois de sair de casa, Lulu, quarentona, mãe de 3 filhos, continua o seu percurso, longe dos seus, tentando descobrir-se e a um sentido para a (sua) vida.

Desenvolvimento
Só que agora, ao contrário do que aconteceu no primeiro livro algo começa a mudar. O tom de algum optimismo e de esperança desvanece-se. Logo nas primeiras pranchas, Lulu fica sem dinheiro, dorme ao relento, assalta uma idosa para lhe roubar a carteira, é confundida com uma sem-abrigo e tomada por prostituta. Talvez porque, como diz Morganne, a sua filha, principal narradora deste segundo tomo, ela tenha sido finalmente “apanhada pela realidade”. Começando a compreender que a sua sede de liberdade, a sua aventura, o seu passeio, apenas podem ter um destino final: o regresso a casa.
Por isso, é uma Lulu dividida que Davodeau nos apresenta. Porque sente aquela inevitabilidade mas deseja prolongar ao máximo a “licença” que está a gozar.
Lulu que, neste segundo tomo, divide mais o protagonismo. Com a velha Marthe, surpreendente e generosa, com a inconsequente Virginie – ambas, como Lulu, mulheres simples e vulgares, pretextos para falar com delicadeza e sensibilidade de velhice e solidão… Mesmo Morganne e Tanguy, o seu marido, têm um outro protagonismo, já que uma parte da acção se passa agora na casa que ela deixou. A própria narração da sua escapada é mais vezes interrompida com as opiniões dos amigos, divididos entre a crítica e a comprensão. O que dá maior consistência ao relato e revela mais uma vez o enorme talento de Davodeau (também) para os diálogos e para a narração do quotidiano
Agora, vou abster-me de referir mais do enredo e o próprio final, porque expor como Lulu se relaciona com Marthe e Virginie, explicar a sua relação com elas, seria retirar aos leitores destas linhas grande parte do prazer da leitura deste (muito, muito aconselhável) díptico.
Que apesar do seu final aparentemente feliz – pelo menos até que a realidade apanhe novamente Lulu? – deixa no ar uma sombra pessimista, um gosto algo amargo, em especial devido à constatação de que a experiência de Lulu, positiva para ela – mas cuja profundidade das marcas que deixou só o tempo poderia revelar - foi apenas sua e não exportável, por exemplo, para Marthe ou Virginie, como Davodeau nos mostra. Isto, a par de questões, sempre incómodas, sobre os limites do ser humano, dentro ou fora do seu ambiente, e sobre as respostas que a sociedade (não) dá a questões prementes como a velhice ou a solidão, que o livro levanta.

A reter
- A volta dada à história sem lhe retirar interesse ou qualidade.
- A forma como é mantida em segredo, quase até final, a identidade de quem faleceu, com o levantar de sucessivas hipóteses não confirmadas.
- De novo, o excelente trabalho gráfico de Davodeau, melhor do que nunca neste aspecto, na planificação, na transmissão das noções de tempo e movimento, no belo colorido utilizado.

Menos conseguido
- A forma algo limitada como a personagem de Tanguy, o marido de Lulu, é desenvolvida no díptico.

Curiosidade
- Os progressos de Davodeau com a história de Lulu foram sendo narrados por ele no blog Lulu Femme Nue criado para o efeito.
- A primeira edição francófona do álbum - já esgotada! - teve uma tiragem de 30 mil exemplares. Notável para uma obra deste género.

06/05/2010

Lulu Femme Nue – premier livre

Étienne Davodeau (argumento e desenho)
Futuropolis (França, Novembro de 2008)
216 x 293 mm, 80 p., cor, cartonado

Resumo
Lulu tem 40 anos, não trabalha há 16, desde que nasceu o primeiro dos seus 3 filhos, e o seu marido é bruto e alcoólico. Não é bela nem especial. É apenas uma mulher comum, envelhecida, gasta pela vida, esgotada, submersa pelos afazeres do quotidiano.
Por isso, afirma na primeira pessoa, “a minha vida não me agrada. Não se passa nada nela”. E mais: “Não sei se ainda amo o meu marido, às vezes não o suporto (…) tenho a impressão de ser apenas uma extensão do fogão e do lava-louças…”
É, assim, uma mulher desiludida, que após mais uma recusa de emprego, decide tirar algum tempo, longe de tudo e de todos, para repensar a sua vida. Para se encontrar. Ou perder.

Desenvolvimento
Esta é a história de Lulu, que nos vai sendo narrada pelos seus amigos, em sua casa, conforme a foram sabendo e descobrindo através dos seus telefonemas, por outras pessoas ou observando-a directamente. Uma história de 20 dias, narrada no breve tempo de uma única noite, véspera de um funeral.
Uma história que começou há três semanas em relação ao tempo em que é narrada e que prossegue numa cidadezinha à beira-mar, bela e tranquila – como tranquila (e também bela, pelo menos por dentro) se vai revelando Lulu, uma nova Lulu, conforme se vai descobrindo e descobrindo rumos para uma vida diferente. Uma cidadezinha onde vai conhecer Charles, como ela um abandonado pela vida, com quem vive uma breve mas gratificante relação.
Pelo meio, vamos conhecendo Tanguy, o marido de Lulu, os amigos dela (não dele…), os seus filhos, em especial Morganne, 16 anos muito adultos, que vai ter que ocupar o lugar da mãe, os (muito loucos, mas extremamente ternos) irmãos de Charles.
Com eles, mantendo o leitor em constante suspense, com a mestria que lhe é habitual (aprecie-se a naturalidade com que nos é mostrada a (longa) noite de conversa, com a narração da “aventura” de Lulu a ser entremeada com apartes sobre o deitar dos miúdos, o frio da noite ou os pedidos de comida ou cerveja…), com muito pudor e ternura, Davodeau constrói um belíssimo relato. Um relato em que o optimismo e a esperança (expressos nos sorrisos de Lulu, nas areias douradas, no mar de um azul intenso…) predominam sobre os contornos negros e sombrios da base narrativa. Um relato sobre relações humanas, realização pessoal e a morte dos sonhos face à incontornável (será?) realidade, face à forma como a vida quotidiana persegue e envolve mesmo quem dela quer fugir. Ou não.
Porque esse suspense prolonga-se para o segundo e último tomo desta história profundamente humana e realista, que neste álbum se conclui, melhor, que é suspensa, 10 dias antes de ser narrada.

A reter
- A originalidade do relato.
- A forma como o autor marca os tempos, as pausas, o ritmo da leitura.
- A expressividade dos rostos, a naturalidade dos movimentos, a credibilidade da história, a humanidade das personagens, a força das emoções expressas.
- As belíssimas pranchas que Davodeau nos oferece, em especial graças aos tons suaves que utilizou para as colorir.
- Enfim, tudo.
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