Viver como as águas de um rio...

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| Edição brochada |

E também saber pormenores sobre o desenvolvimento do argumento e do desenho, o fabrico físico dos livros, a importância do papel, a função do editor, vamos visitar as casas de Jean-Pierre Gibrat, Marc-Antoine Mathieu e Emmanuel Guibert (vendo os autores como raramente os vemos, no seu ambiente próprio, na sua mais simples condição de seres humanos normais… e descobrindo as suas concepções da BD, razões para as opções formais, temáticas e estéticas, formas de trabalhar), descobrimos porque Trondheim se retrata com um grande bico (numa explicação desenhada pelo próprio…), visitamos os festivais Quai des Bulles e de Bastia ou a exposição Moebius na Fundação Cartier…
Numa vintena de capítulos e quase 300 pranchas – vivas, dinâmicas, baseadas no essencial, retratando com rigor mas liberdade os locais por onde os dois passaram, transmitindo a paixão de Richard pela sua terra, descrevendo sem palavras as diferenças (de solo, irrigação, clima, vegetação) entre as diversas vinhas visitadas – Davodeau mostra a amizade forte que une os dois homens e transmite a paixão que cada um sente pela sua actividade, a honestidade com que cada um a encara e com as quais tenta conquistar o outro.
No fim, ganha o leitor - qualquer leitor, seja ele apreciador de vinhos, amante de BD, ambos ou nenhum dos dois - pois aprende sobre aquelas duas ocupações artesanais – criar BD, fabricar vinho - desfruta de uma história sensíuvel e humana e (re)descobre (outr)as potencialidades narrativas da banda desenhada.
Étienne Davodeau (argumento e desenho)
Neste álbum, já quase com uma década, Étienne Davodeau faz um retrato distorcido – embora não tanto como parece - de uma realidade a que todos assistimos no nosso dia a dia, por onde perpassavam nomes como Figo, Zidane, Khan, Raúl ou Ronaldo (o brasileiro), hoje substituídos por outro Ronaldo, o Cristiano, Kaká, Ribery ou Di Maria, que todos identificámos imediatamente como talentosos futebolistas. Mas o que são eles? Ídolos ou meras mercadorias, das quais cada um – fans, famílias, dirigentes desportivos, políticos, imprensa, eles próprios – tenta tirar o máximo proveito possível, enquanto dá, esquecendo que, antes de tudo, são seres humanos.
Étienne Davodeau (argumento e desenho)
Agora, vou abster-me de referir mais do enredo e o próprio final, porque expor como Lulu se relaciona com Marthe e Virginie, explicar a sua relação com elas, seria retirar aos leitores destas linhas grande parte do prazer da leitura deste (muito, muito aconselhável) díptico.
Étienne Davodeau (argumento e desenho)
Pelo meio, vamos conhecendo Tanguy, o marido de Lulu, os amigos dela (não dele…), os seus filhos, em especial Morganne, 16 anos muito adultos, que vai ter que ocupar o lugar da mãe, os (muito loucos, mas extremamente ternos) irmãos de Charles.