O preocupante crescimento da extrema-direita nas recentes
eleições europeias, nomeadamente em França, confere uma nova actualidade a este
álbum, protagonizado por Albert, um anónimo militante dum movimento análogo.
Descubra porquê, já a seguir.
La Gloire
d’Albert, segundo Étienne Davodeau (…) “conta o assassinato de um líder
de extrema direita por dois pequenos esquerdistas, um pouco idiotas. Um
admirador da vítima, também não muito inteligente, é a única testemunha e
sente-se investido de uma missão: a vingança. Mas como não sou Tarantino, tudo
vai falhar lamentavelmente.
Vai falhar, entenda-se, do ponto de vista de quem espera um
crescendo de violência gratuita, motivada pela vingança. Mas não falha, de
forma alguma, para quem já conhece o autor e os seus argumentos sólidos e
lúcidos sobre o quotidiano.
Albert, o herói – só aos seus próprios olhos, escreva-se
desde já – é o pobre faz tudo da mercearia do bairro, que alcança a glória em
breves aparições, como figurante voluntário, numa peça de teatro de sucesso (local)
que exalta os valores conservadores do partido
a que aderiu e de cujas milícias anti-droga - criadas pelo dirigente
assassinado – faz parte, porque é o mínimo que o partido espera dele.
O mesmo se aplica, também, a um dos assassinos, que participa
no atentado pelos ideais de esquerda em que acredita e que, por isso, hesita em
receber ou não a sua parte do pagamento.
O outro, de um cinismo a toda a prova, é movido apenas pelo
dinheiro que vai receber; não tem, por isso, nada de idiota para sobreviver – e
até vencer – numa sociedade individualista e consumista.
A narrativa decorre num tom quase intimista, mostrando de
forma inteligente quão próximos estão os dois extremos aparentemente em
confronto, e o que move cada uma das personagens até ao final inesperado, em
que o recurso á violência surge como justificação absurda – mas de uma lógica
incontornável – para a vitória de uma via m oderada )?) e pacífica (?), que
ilustra cruamente até que ponto pode descer o ser humano sem escrúpulos nem
ideais, só com ideais limitadas e limitativas, demonstradoras de um vazio
mental que é assustador, porque é espelho fiel de uma sociedade em que se
atropela tudo e todos por momentos passageiros de (vã) glória.
Étienne Davodeau
Delcourt
França, Setembro de 1998
225 x 295 mm, 48 p.,
cartonado
12,90 €
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