O convite do X Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja para escrever
um texto sobre Étienne Davodeau, levou-me – de forma prazeirosa – a reler a
obra daquele que considero um dos autores franco-belgas (e não só) mais
interessantes das duas últimas décadas.
Por esse motivo, apesar de ele ser presença recorrente aqui no blog através das suas obras mais recentes, começo hoje, de forma
intermitente, um mini-ciclo Étienne Davodeau, que preencherei com algumas das
suas obras iniciais.
A abrir, o álbum que o revelou, através do texto que escrevi
para o jornal O Primeiro de Janeiro, de 23 de Fevereiro de 1992, que podem ler já
a seguir.
Étienne Davodeau (…) conta-nos uma história que não é nova.
Um homem que busca o isolamentpo junto da natureza, para esquecer a obsessão
causada por um grave acidente ocorrido durante uma missão quando cumpria
serviço militar, vê a sua privacidade desfeiuta quando surgem dois antigos
colegas, interessados em cumprir uma vingança antiga, encomendada por um terceiro.
Mas Davodeau – e aí está o seu mérito – consegue dar a esta
trama simples e conhecida, uma atmosfera opressiva que a torna credível e nos
leva a deixar-nos apoderar pelo clima de nervos que o protagonista vive.
Mais a mais, porque só aos poucos vamos sabendo o porquê do
que vai acontecendo, numa revelação progressiva de toda a verdade que, no
final, resulta num desenlace dramático e, embora lógico, de certa forma
inesperado.
O seu desenho, de traço duro e agressivo, algures entre o
realista e o caricatural, ajusta-se às mil maravilhas ao texto, sendo os picos
de tensão acentuados pela planificação que, nessas alturas, abandona o estilo
clássico, para se tornar viva e palpitante, capaz de transmitir raiva, ódio,
paixão ou uma incrível calma.
Les amis de Saltiel #1: L’homme
que n’aimait pas les arbres
Étienne Davodeau
Dargaud
França, Janeiro de 1992
225 x 295 mm, 48 p., cor, cartonado
Estou contigo, Pedro, é um dos mais interessantes autores dos últimos 20 anos! Só li este livro mais de uma década depois., para o Davodeau, disse-me ele no Porto ou na Amadora, é uma obra menor...
ResponderEliminarOlá Rui,
EliminarEu tive a sorte de o ler logo que saiu e nunca mais larguei o Davodeau!
É uma obra menor na bibliografia dele, sem dúvida. É um primeiro álbum, ainda à procura do traço, mas já com algumas das questões que o distinguiram.
Boas leituras!
boa noite pedro gostava de saber se há noticias sobre a nova colecção que está para ser lançada podes dar alguma pista de quando vamos ouvir falar sobre ela?
ResponderEliminarMais uns dias de paciência, caro Anónimo... O tempo tem sido curto.
EliminarBoas leituras!