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17/01/2013

Crève Saucisse









  
Pascal Rabaté (argumento)
Simon Hureau (desenho)
Futuropolis
França (10 de Janeiro de 2013)
195 x 265 mm, 80 p., cor, cartonado
16 €



Resumo
Didier é talhante, fã de banda desenhada e… um marido enganado pelo seu melhor amigo, desde as últimas férias que os dois casais passaram juntos.
Por isso, nada mais natural que arquitectar uma vingança, tendo por inspiração uma das suas bandas desenhadas de referência.

Desenvolvimento
Se há casos em que a ficção (aos quadradinhos) imita a realidade ou que a realidade imita a ficção (aos quadradinhos), a existirem, não devem ser muitos os casos como este em que a ficção (aos quadradinhos) imita (uma outra) ficção aos quadradinhos!
A história parece  enganadoramente banal: o marido descobre a traição, segue a mulher diversas vezes para confirmar, arquitecta um plano para se vingar e recuperar a  companheira, põe-no em prática e… algo corre mal.
Só que, “Crève Saucisse”, desenhado num traço solto e dinâmico por Hureau, que se revela bastante expressivo apesar da sua aparente simplicidade, está escrito de forma consistente e com um humor negro e ácido por Rabaté, o que o transforma em puro divertimento, bem ritmado e até com diversos momentos de suspense o relato da progressiva degradação da relação do casal.
Na sua leitura, enquanto (involuntariamente?) torcemos pelo sucesso do marido enganado, aparentemente um homem pacato e tranquilo que se revelará capaz de grandes horrores, que vai descarregando a sua fúria na carne que retalha, vamos acompanhando a passo e passo a descoberta da traição e a preparação do plano para recuperar a sua mulher, Sandrine, e livrar-se do seu amigo Eric, em novas férias em conjunto, durante as quais porá em prática os mais variados estratagemas para impedir que os dois consigam estar sós.
Mas, para além de teatro de costumes, “Crève saucisse”, é também uma bela homenagem ao magnífico “Gil Jourdan – La voiture immergée”, de Maurice Tilieux, bem como a muita da BD franco-belga, mostrada aqui e ali ao longo do relato. Aquela obra de Tillieux serve de base para Didier arquitectar o seu plano, levando o seu “concorrente” ao local real que a inspirou.
No final, no entanto, como esta BD é apenas um reflexo duma outra ficção (em BD), nem tudo acaba bem para o protagonista, cujo plano não resulta tão bem quanto pensava… denunciado por um insuspeito herói de (outra) BD…
O que, aos seus olhos - os olhos de alguém cuja mente está distorcida pelos quadradinhos que lê! - não se revela tão grave assim, porque com certeza existirá uma outra banda desenhada a imitar na (sua) vida real, para reparar o que a primeira acabou por destruir!

A reter
- O humor negro do relato, divertido e surpreendente.
- A legibilidade do traço de Hureau.
- A bela homenagem a Tillieux, expressa também nas sequências do álbum original redesenhadas e incluídas no actual relato.
- A conseguida ligação entre as duas narrativas desenhadas.


14/07/2009

Gil Jourdan – L’Intégrale #1

Gil Jourdan – L’Intégrale #1
Maurice Tillieux (argumento e desenho)
Dupuis (Bélgica, Junho de 2009)
220 x 300 mm, 240 p., cor, capa cartonada


Resumo

Primeiro volume da reedição integral de Gil Jourdan, uma das mais marcantes criações de Maurice Tillieux (1921-1978), para além de um texto introdutório, inclui as histórias "Libellule s'évade", "Popaïne et vieux tableaux", "La Voiture immergée" e "Les Cargos du crépuscule".

Desenvolvimento
Clássico dos anos 50 e 60, criado quando Tillieux se juntou à revista Spirou, Gil Jourdan é o exemplo perfeito – e possivelmente o primeiro exemplo – de um conseguido casamento entre o tom policial e o registo semi-humorístico. Para o conseguir, foi necessário um autor de eleição como Tillieux hábil no desenvolvimento das histórias, convincente nos casos criados, equilibrado entre os momentos narrativos e os de acção, mestre na criação de situiações de suspense no fim de cada página, como obrigava a publicação semanal em revista, insuperável na construção dos diálogos, ao mesmo tempo credíveis e divertidos, contidos e esfusiantes, e com os incontornáveis trocadilhos de Libellule.
A galeria de personagens é outro dos trunfos desta série, que passou incólume quase meio século, com o protagonista Gil Jourdan, um recém-licenciado em Direito que se torna detective particular, a ser ladeado por Libellule, um criminosos que ajudou a evadir, Crouton, um inábil (para não dizer pior…) polícia e a sua eficiente secretária Queue-de-Cerise.
Nas quatro histórias aqui reunidas – na verdade apenas três, poisas duas primeiras formam um (pouco habitual na época) diptíco – Jourdan enfrenta e desbarata um bando de traficantes de arte e droga, descobre um assassino e neutraliza um plano para apropriação fraudulenta de um seguro. Erece um destaque especial "La Voiture immergée", um relato de pura dedução, que na sua maior parte se desenrola numa estrada (inspirada na realidade) entre o continente e uma ilhota, que fica submersa pela maré na maior parte do tempo, onde (quase) tudo acontece, no qual Tillieux consegue criar momentos de extrema tensão.

A reter- A frescura de uma obra com 50 anos.
- O ritmo e o tempo certos das histórias e o equilíbrio perfeito entre o registo policial e de humor.
- O texto introdutório que apresenta o autor e a personagem e analisa cada uma das histórias.

Curiosidades
- Se quase apetece copiar integralmente todo o (belo) texto introdutório de apresentação do autor e dos seus heróis, quero citar três curiosidades nele referidas: Tillieux foi “empurrado” para a BD por “não saber escrever nem desenhar”, o nascimento de Gil Jourdan deveu-se a uma mudança de editor e, por uma vez, foi mecânico de François Schuiten!
- Nas primeiras histórias de Gil Jourdan, Tillieux “reciclou” gags e ideias anteriormente desenvolvidas por si na série “Félix”.

Desabafo
- Eu sei que o país é diferente, que a realidade - económica e cultural… - também e até percebo as razões: tiragens mais levadas, inexistência de custos de tradução e legendagem, fotolitos já existentes, menores custos com direitos de autor… Mas não posso deixar de sentir inveja dos belgas, franceses e suíços quando olho para estas belas edições integrais com o quádruplo das páginas de um álbum normal e um preço que mal chega ao dobro…
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