René Goscinny (argumento)
Albert Uderzo (desenho)
ASA (Portugal, Setembro de 2012)
22o x 290 mm, 48 p., cor, cartonado
12,90 €
1.
“Astérix e Obélix: Ao serviço de Sua Majestade”,
o filme que hoje estreia em Portugal, tem como base “Astérix entre os Bretões”,
oitavo álbum da série.
2.
Datado de 1966, transporta os gauleses para o
outro lado do canal da Mancha, em resposta a um apelo de Jolitorax, primo de
Astérix, cuja aldeia é a única da Bretanha que ainda resiste aos invasores
romanos.
3.
Apesar de curta, a viagem, leva-os a descobrir
uma realidade bastante diferente: a língua, com a construção frásica invertida,
a condução pela esquerda, os esquisitos hábitos alimentares - cerveja morna,
javali cozido, água quente com um farrapinho de leite – ou o invulgar hábito de
pararem diariamente às cinco da tarde e dois dias por semana.
4.
A fleuma britânica a toda a prova, os Beatles,
os estranhos sistemas métrico e monetário, o futuro túnel sob a Mancha
(construído apenas 28 anos mais tarde) e a participação num (violento) jogo de
râguebi são outros aspectos realçados por Goscinny e Uderzo para elaborarem uma
caricatura mordaz e irresistível dos britânicos, revelando-se uma dupla em
grande forma.
5.
Uderzo apresenta as qualidades que o
distinguiram como um dos grandes desenhadores de humor: composição das páginas,
legibilidade do traço, sentido de movimento, expressividade das personagens…
6.
Quanto a Goscinny, mordaz e observador,
baseia-se na caricatura de motivos de fácil identificação, na repetição de gags
e situações e nos bem conseguidos trocadilhos de palavras, para divertir o
leitor.
7.
Entretanto, aproveitando a estreia do filme, a
ASA acaba de lançar uma edição com uma capa nova, mais chamativa por ser
diferente da habitual já conhecida dos leitores, mas de menor impacto
relativamente ao conteúdo do livro.
8.
Esta edição apresenta também o traço preto restaurado e uma nova coloração digital,
o que lhe confere um ar mais moderno e o torna mais legível.
9.
Por um lado, porque os pretos estão mais fortes
e contrastados, o que é especialmente visível nas cenas mais preenchidas, como
acontece nas páginas 46 e 47, e também na definição das fronteiras entre
cenários e personagens, sendo este último aspecto reforçado pela utilização de cores
mais vivas e fortes e com melhor definição – apesar de um ou outro excesso
cromático pontual.
10. Aliás,
esta “actualização” das cores, na minha óptica – o que não significa que a defenda,
apenas que a compreendo - só surpreende por ser tardia.
11.
Escrevo-o porque, pelas provas de grande sentido
comercial já dadas por Uderzo – e por isso Astérix é o sucesso de vendas que
todos sabemos - seria algo para já ter sido feito há mais tempo…
12. …
e o mesmo raciocínio se pode aplicar, aliás, ao redesenhar dos álbuns iniciais, para
homogeneizar o traço…
(Versão expandida do texto publicado no Jornal de Notícias
de 17 de Outubro de 2012)