Com
a comemoração dos 50 anos do 25 de Abril ainda como pano de fundo,
permanece a necessidade de lembrar o que a revolução quis mudar e
fazer e não deixa de ser uma coincidência agradável a publicação
recente
deste livro, Jonas
Fink: Inimigo do povo,
cuja acção decorre numa ditadura de outro tom, a Checoslováquia
"vermelha" do bloco soviético da década de 1950, mas em
que os métodos repressivos e os efeitos que provocavam eram
indiscutivelmente similares.
Pode
concordar-se ou não, pode gostar-se mais ou menos da opção, mas a
verdade é que esta adaptação - tal como a que André Morgado já
tinha feito da Farsa de Inês Pereira - tem pelo menos um grande -
enorme mesmo! - mérito: tornar compreensível
nos dias de hoje, obras com centenas de anos e a respectiva linguagem
datada.
Se
às novas gerações o western
dirá
pouco, houve uma época em que o género imperava e seduzia. Na banda
desenhada, como no cinema, os grandes espaços naturais, o confronto
entre o homem branco,
dito
“civilizado”,
e os peles-vermelhas,
ditos
“selvagens”, e a necessidade de superação constante eram os
principais atractivos, a par de figuras marcantes que preencheram o
imaginário de muitos, do western
puro
e duro, com muitos tiros e poucas considerações, de que Tex
será um dos melhores exemplos, aos relatos humanistas, que têm em
Buddy Longway um dos mais relevantes.
Nos
últimos meses,
por razões que agora não vêm ao caso,
as minhas leituras, numa parte não desprezável,
têm sido marcadas por uma carga de pura
nostalgia,
num regresso a séries (Tiger
Joe,
Paul
Foran, Jess Long, Archie Cash, Yalek...)
que, numa segunda linha, marcaram a minha adolescência
e tinham ficado lá. Ou, de forma mais abrangente, numa
recuperação/descoberta de um género,
a BD franco-belga,
que continua a ser a minha principal praia, na sua vertente de séries
(Ric Hochet, Bob Morane, Sammy, Les Tuniques Bleues, Luc Orient...)
a que hoje devemos chamar clássicas.
Dia
15
de Abril
é o dia do Desenhador, em homenagem a Leonardo Da Vinci, e
foi esse o pretexto,
juntamente com os 30 anos de O
Corvo,
para uma entrevista com Luís Louro publicada no Jornal
de Noticias. A
versão integral, bem mais extensa, pode ser lida já a seguir.
Um
homem e uma criança empurram com dificuldade um carrinho de
supermercado ao longo de uma estrada. São pai e filho, como
descobrimos rapidamente, mas a condição que sem-abrigo que
intuíamos para eles revela-se errada. São sobreviventes de uma
catástrofe
que reduziu a humanidade a pouco mais do que à selvajaria animal e
que nunca é explicada e seguem passo após passo em busca da ilusão
de um local melhor para viver.
Corria
o ano de 2010 e a febre zombie de The
Walking Dead
espalhava-se pelos pequenos ecrãs mais depressa do que a epidemia de
origem desconhecida que provocava o ressuscitar dos mortos. Agora, já com as 10 temporada de The Walking Dead vistas - e nalguns casos revistas - bem como os respectivos spin-off, a Devir, numa atitude de louvar, regressa a esta banda desenhada, num formato cada vez mais corrente hoje em dia: tomos volumosos, no caso com mais de meio milhar de páginas, a solução escolhida para terminar a edição lusa num período de tempo razoável.
Como
um vício - que no entanto faz cada vez menos efeito, mas ainda sem
ter chegado ao ponto de o largar - continuo a ser atraído por
Hermann - pela sua obra… - álbum após álbum, meio ano após meio
ano…
Com
a publicação deSermão de Santo António aos Peixes, terceiro
volume da colecção Levoir/RTP, Clássicos
da Literatura Portugueses em BD,
no passado dia 2
de Abril, oportunidade para
mais uma vez ouvir os autores sobre como correu o processo e a
colecção, em entrevistas feitas por correio electrónico,
separadamente.
Se
começou por ser cómica, daí a sua designação americana, e se se
expandiu ao vestir traço realista para narrar todo o género de
aventuras, a banda desenhada, que aos poucos assumiu também o género
histórico e a adaptação de romances e filmes, em décadas recentes
tem demonstrado à exaustão a sua capacidade para servir todas as
temáticas. A autobiografia, por exemplo ou, mais além e
ousadamente, a reportagem ou reflexões sobre a sociedade, o nosso
mundo, a sua viabilidade e o seu futuro, têm comprovado a
pluralidade e todo o potencial de uma forma narrativa que durante
muitos anos foi considerada por muitos “para as crianças”.