Fascinados sem
interesse
O que têm em comum uma banda desenhada sobre produção de
vinho e a criação de BD e outra sobre a participação de espanhóis na II Guerra
Mundial? Que é como quem diz: que têm em comum Os Ignorantes e Os Trilhos do Acaso?
A resposta é bem simples: a capacidade de os autores
seduzirem completamente o leitor com uma magnífica obra sobre temáticas que, a priori, (nos) interessam pouco ou
nada.
Tal como Davodeau noutras alturas - como no soberbo Cher pays de notre infance - Paco
Roca já o havia feito, por exemplo, em O Inverno do Desenhador, sobre a
situação dos artistas espanhóis na década de 1960, e volta a fazê-lo agora. Com
mais força, possivelmente, porque a temática é mais universal, mas também
porque a abordagem é (ainda) mais humana.

A narrativa de Roca vai alternando entre a longa
conversa/entrevista ao sobrevivente com a ilustração dos factos que ele vai
narrando. Com diferenciação gráfica entre um e outro - e a presença do autor
naquelas páginas - esta opção serve não só para atenuar a inevitável mas
diluída carga histórica e/ou um registo de alguma forma excessivamente
documental, para reforçar a vertente humanista do relato e também para contar
duas histórias ao mesmo tempo.

E a global, com a história da formação e dos feitos da famosa
companhia El Nueve, formada quase
exclusivamente por ex-combatentes da Guerra Civil espanhola, e (uma parte
importante d)a História da própria II Guerra Mundial em si.
Ambas, no entanto, sob o signo do ser humano, daquilo que o
move e motiva, dos seus muitos sonhos - e dos desencantos que eles (quase) sempre
proporcionam, da sua capacidade de lutar pela vida - ou de deixar de fazê-lo…
Os Trilhos do Acaso, partes 1 e 2
Paco Roca
Levoir/ Público
Portugal, 15 e 22 de Setembro
170 x 240 mm, 160 p., cor, capa dura
9,99 €
(imagens disponibilizadas pela editora; clicar nelas para as
aproveitar em toda a sua extensão)
Na sargeta da história encontram-se heróis esquecidos, que com eles levaram para o túmulo as suas vivências. Paco Roca soube resgatar uma “memória” esquecida e presentear-nos com mais um álbum cheio de qualidades. Roca é um excelente narrador, capta as emoções e constrói uma história magnífica.
ResponderEliminarÉ difícil escrever para enaltecer uma obra com tanta quantidade de nuances, pausas emocionais, voltas emocionais, e qualidade aliada. Apenas refiro a curiosa inversão do esquema tradicionalmente usado para os flashbacks, onde as conversas entre o autor e a personagem principal (Miguel Ruiz) são a preto e branco e as recordações do antigo combatente a cores
Livro que capta e convida à reflexão……é um convite para não parar de sonhar…..lutar pelos seus sonhos…….valores e pela liberdade
Essencial nas prateleiras de qualquer pessoa minimamente interessada e atenta àquilo que a rodeia.
Pedro Ferreira,
ResponderEliminarMais uma vez obrigado pela partilha.
Esta obra é sem dúvida um dos grandes títulos desta colecção.
Boas leituras!