Dom Afonso
Henriques na banda desenhada
Exposição
Pavilhão Multiusos, Feira de São Mateus, Viseu
(até 17 de Setembro)
(nota informativa disponibilizada pela organização)
Afonso Henriques e Eduardo
Teixeira Coelho (ETC) para sempre recordar!
D. Afonso Henriques, o primeiro rei de Portugal, impôs-se à
mãe e à coroa de Castela através das armas para criar um novo reino. O distinto
(e já falecido) investigador da região de Viseu, A. de Almeida Fernandes, na
sua cada vez mais reconhecida tese que tem por título «Viseu, Agosto de 1109,
Nasce D. Afonso Henriques» afirma com bases documentais historicamente
credíveis que o nosso primeiro rei nasceu efetivamente em terras de Viseu em
1109.
Sobre D. Afonso Henriques (1109-1185) existem no entanto
mais dúvidas do que certezas, por entre mitos e lendas que cresceram com a
consolidação da independência lusa. Afonso assumiu a chefia do Condado
Portucalense após vencer, em 1128, a Batalha de S. Mamede contra as forças de
sua mãe, D. Teresa, aliada do Reino de Leão, e continuou a sua expansão
conquistando territórios aos muçulmanos, que ocupavam parte importante da
Península Ibérica.
Em 1139 proclamou-se rei, estatuto que seria reconhecido
pelo primo imperador em 1143 (tratado de Zamora) e pelo Papa em 1179. Por
incrível que pareça, não encontramos na Banda Desenhada uma grandiosa obra
biográfica sobre o nosso primeiro monarca, antes algumas obras de pequena ou
média dimensão e diversas histórias ou referências espalhadas por múltiplas
publicações e álbuns. Esta edição (e a exposição que lhe deu corpo) procuram
homenagear e relembrar a vida e a obra do fundador da “portugalidade”. Para ilustrar esta homenagem escolhemos uma
história de E.T. Coelho.
Considerado o maior dos “banda desenhistas” portugueses,
justamente o “primus inter pares”, nasceu em Angra do Heroísmo a 4 de Janeiro
de 1919 e faleceu a 31 de Maio de 2005 em Florença (Itália), onde residia. Assinou
por vezes como ET Coelho, outras apenas como ETC.
Durante uma impressionante carreira artística foi
ilustrador, pintor e desenhista. Estreou-se a 16 de Abril de 1936. Depois,
tornou-se um dos autores fixos da revista “O Mosquito”, que deixou de se
publicar em 1953 e, no ano seguinte, agastado com as limitações do regime de
Salazar, emigrou: Espanha, França, Inglaterra e novamente França, onde teve
também uma brilhante carreira. Nos inícios dos anos 70, radicou-se em Itália,
mas criando apenas para a França.
Em 1973 recebeu o prémio “Yellow Kid” no Salão Internacional
de Lucca e, em 1986, recebeu o troféu “Mosquito Especial”. Da sua enorme
bibliografia, salientamos algumas obras ou séries estreadas em Portugal: “Os
Guerreiros do Lago Verde”, “Os Náufragos do Barco Sem Nome”, a trilogia das
“Mouras”, a série “Falcão Negro”, “Os Doze de Inglaterra “ (uma maravilhosa
obra-prima!), O Caminho do Oriente; alguns contos de Eça de Queiroz (“A Aia”,
“Suave Milagre”, “A Torre de D. Ramires”, “O Defunto” e “O Tesouro”), etc…
Homenageando um dos maiores vultos de sempre da nossa Banda
Desenhada, o GICAV escolheu para integrar a Mostra “Afonso Henriques na BD” a
história da” Balada da Conquista de Lisboa”, narrativa inserida na obra «Caminho
do Oriente» (uma obra narrativa extensa, que tem a particularidade de
apresentar o primeiro herói ficcional da bd portuguesa na epopeia dos
descobrimentos) publicada inicialmente em “O Mosquito”, em formato de revista,
com reedição nos álbuns da Futura em 1983 (Antologia da BD Portuguesa, com
texto de Raul Correia, editada em seis volumes) e de forma autónoma em reedição
da responsabilidade de Carlos Costa (surgiu no álbum O Mosquito - Aventuras
& Curiosidades, em 1997) de onde se retiram as pranchas reproduzidas. É uma
narrativa singular, em jeito de epopeia, com a qualidade e traço inconfundível
de ETC. É necessário explicar porque é que existe um episódio tão longo (durou
semanas na edição original em revista) sobre a conquista de Lisboa numa
narrativa passada séculos depois, durante a expedição do Vasco da Gama.
Existe uma explicação muito interessante (e de certo modo,
alheia à narrativa original dos Descobrimentos), que nos remete para a
participação de ETC., como artista convidado para apoiar a organização das
Comemorações do VIII Centenário da Conquista de Lisboa. O envolvimento de ETC
no grafismo das publicações alusivas à efeméride e nos próprios figurinos do
Cortejo Histórico realizado em Lisboa influenciaram decisivamente a inclusão do
episódio na narrativa do “Caminho do Oriente”; este estava precisamente a ser
publicado semanalmente na revista “O Mosquito” durante a preparação das
comemorações …; sabe-se hoje que um outro episódio alheio á gesta dos
Descobrimentos, os “Doze de Inglaterra” (hoje disponíveis em álbum) foi pensado
para integrar o “Caminho do Oriente”, no que seria um eco de Camões nestes
Lusíadas da BD.
Lançar um olhar atento sobre D. Afonso Henriques através da
Banda Desenhada, esta arte que conta histórias associando palavras/legendas e
desenhos, é a proposta desta selecção expositiva, abrangendo obras publicadas
quer em revistas, quer em álbuns, entre 1943 e 2016. Uma selecção que pretende
honrar a memória dos grandes símbolos da nossa História local e nacional,
honrando em simultâneo os grandes criadores/desenhadores e a sua obra.
(imagens disponibilizadas pela organização; clicar nelas
para as aproveitar em toda a sua extensão)
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