A história
de Paper
Girls
começa em meados da década de 1980, numa cidadezinha anódina dos
Estados Unidos, em tom de crónica quotidiana e sociológica. As
protagonistas, são quatro adolescentes, com diferenças de raça,
sociais e religiosas, que fazem entrega de jornais ao domicílio de
madrugada, de bicicleta, assediadas por rapazes e a polícia local.
Este
intróito, acaba por se revelar breve, quando as jovens descobrem
numa cave algo que faz lembrar uma nave espacial. A partir desse
momento, o argumentistas Brian Vaughn subverte completamente o
registo, transformando-o numa saga de ficção-científica, com base
em viagens temporais e num confronto espacio-temporal geracional,
pelo controle e salvação do planeta.
Muito bem escrita, com as diferentes épocas (reais) bem definidas pelas muitas referências espalhadas, Paper Girls, mesmo com as diversas inflexões temáticas que vai sofrendo, mantém uma invulgar capacidade de surpreender e seduzir os leitores, arrastando-os sem resistência atrás das protagonistas, ansiando sempre por mais. Para isso, contribui especialmente o facto de Vaughn ter ignorado o que costuma ser regra em relatos com viagens temporais: a impossibilidade de as personagens se depararem consigo noutras épocas. Assim, Erin, Tiff, KJ e Mac vão encontrar-se com versões futuras de si próprias, conhecendo - e questionando - aquilo em que se vão tornar.
Para além disso, a forma como caracteriza as quatro adolescentes é muito credível assim como o retrato do crescimento acelerado a que elas são obrigadas devido às situações que têm de viver.
O traço de Cliff Chiang, apresenta-se muito expressivo, com grande dinamismo e limpo de pormenores desnecessários, sem que isso signifique uma caracterização menos conseguida quer dos protagonistas e dos robots e seres fantásticos que vão encontrar, quer dos espaços urbanos ou naturais, passados, actuais ou futuristas por onde vão passar.
Inevitavelmente, a força da narrativa de Paper Girls atraiu a atenção da televisão, mas infelizmente a série da Prime Video foi cancelada no final da primeira temporada.
Agora, com a publicação - atribulada… - pela Devir dos volumes #5 e #6, que encerram a série, os leitores portugueses já podem - e devem! - descobrir o que aconteceu a Erin, Tiff, KJ e Mac e como esta complexa saga de ficção-científica, que é também uma história de resistência e sobrevivência, tem afinal um fundo simples: a amizade como a força que faz mover o mundo.
Paper
Girls #1
a #6
Brian K. Vaughn (argumento)
Cliff
Chiang (desenho)
Devir
Portugal,
Setembro de 2022
170
x 260
mm, 128
a 144
p., cor,
capa cartão
14,99
€
(versão revista do texto publicado na página online do Jornal de Notícias a 23 de Setembro de 2022 e na sua versão em papel do dia seguinte; clicar nesta ligação para ver mais pranchas ou nas aqui reproduzidas para as aproveitar em toda a sua extensão)
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