O peso do passado
Bruno
Brazil continua a viver as suas ‘novas aventuras’ e a Gradiva
continua a acompanhar a edição
original francófona.
Num tempo em que o acesso às edições em
francês
- no caso - é tão fácil, isto é fundamental para que os leitores
portugueses as descubram na sua língua.
Bollée
e Aymond estabeleceram os parâmetros desta ‘ressurreição’ nos
primeiros volumes e mantêm-se fiéis a eles, pese embora o facto de
entretanto terem passado mais de quatro décadas sobre
a data das primeiras aventuras de Brazil.
Dito de outra forma, As Novas Aventuras de Bruno Brazil equilibram - ou tentam equilibrar - momentos de acção, investigação e espionagem, tendo por pano de fundo - no presente caso - experiências científicas em seres humanos. Ajustado quando Greg e Vance fizeram disparar a adrenalina com o ‘seu’ Bruno Brazil, nos nossos dias, há aspectos que surgem como anacrónicos e de aceitação complicada. Nomeadamente em termos tecnológicos.
Isto não invalida que retoma da série - uma vez decidida - não tivesse de ser feita segundo estas linhas; poderia é haver mais inspiração por parte dos autores...
Se Vance era um enorme senhor do desenho, Aymond revela-se um sucessor desequilibrado, nomeadamente quando tenta acompanhar o traço original. Por isso, o seu desenho revela mais competência e funciona bem nos cenários, veículos, edifícios e personagens novas ou anónimas - mas desgosta-me bastante quando se trata de retratar Brazil, Gaúcho, Tony ou Whip, que perdem em dinamismo o que ganham rigidez, revelando dolorosos esgares…
Por seu lado, Bollée tenta reconstruir a Brigada Caimão que os autores originais dizimaram, apostando na exploração - isto soa tão mal! - das deficiências físicas de alguns dos seus membros, e nos traumas recorrentes que o passado deles acarreta. Se o primeiro aspecto até se revela interessante nalgumas situações, acaba por força demasiado a nota com a revelação que encerra este álbum e que me parece pouco consistente com aquilo que que Brazil sempre foi e representa.
Em termos de história, as questões genéticas soam pouco consentâneas com o lado realista da série e o lado místico surge algo deslocado do seu tom global, tendo chegado ao final da leitura com a ideia que a acção da renovada Brigada Caimão foi pouco determinante. Isto não significa que não haja algumas ideias interessantes, como é o caso da utilização da linguagem gestual para passar mensagens, embora não seja explícito a quem elas se destinavam.
Não sei se estou a ser demasiado severo - apesar de tudo Bruno Brazil (especificamente Tudo ou nada Alak 6) teve um papel determinante no meu crescimento como leitor de BD - mas penso que Terror boreal em Eskimo Point funcionaria melhor - ou não seria tão analisado à lupa - com protagonistas sem (este) passado e possivelmente revelar-se-ia uma competente história de acção e espionagem. Mas obviamente venderia pior…
A palavra final caberá aos fãs da série… ou àqueles que desconhecem a sua versão original!
Terror boreal em Eskimo Point
Laurent-Frédéric Bollée (argumento)
Phylippe Aymond (desenho)
Gradiva
Portugal, Setembro de 2022
235 x 312 mm, 56 p., cor, capa dura
18,00 €
Eu sou leitor de Bruno Brazil desde o primeiro álbum e mantenho o mesmo entusiasmo por esta nova série que considero ao mesmo (muito bom) nível
ResponderEliminarTambém sou dos que fica com saudades do "velhinho" Bruno Brazil! Não está mal... mas não é a mesma coisa!...
ResponderEliminarÉ interessante mas nada a ver com o dinamismo dos argumentos do Greg
ResponderEliminarO Greg era um génio!...
ResponderEliminarTenho-me inibido de comprar esta série, muito por causa das razões que o Pedro Cleto aponta, como, fora a reinvenção feita no Alix (Senator), não tenho achado grande piada a estes "remakes" e "sequelas" que fizeram sobre a BD franco-belga da minha infância, então como dar seguimento ao trabalho de Greg e Vance? eu podia aceitar isto se nas novas estórias não estivessem demasiado ligadas ao passado e se não se colarem demasiado a intrigas das aventuras antigas e que estão na sua maioria datadas, é esse o caso? representação dos personagens à parte, pergunto se as estórias valem a pena ou servem apenas para apelar à nostalgia dos leitores antigos?
ResponderEliminarCom uma pistola apontada, sem hipótese de discorrer sobre o assunto, escolheria a segunda hipótese, mas no que toca a este 'ressuscitar' de heróis, a relação de cada um com os originais tem um peso considerável.
EliminarComo em tudo, penso que o melhor é experimentar para formar uma opinião própria...
Boas leituras!