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07/03/2024
Ilíada #1 + Boule et Bill #1 + Premières Missions
Querer conhecer o passado para compreender o presente e poder prever o futuro é apanágio nos seres humanos. E é-o também, naturalmente, dos leitores de banda desenhada que gostam de descobrir a génese das séries que acompanham e saber como se foi formando a galeria de protagonistas.
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11/04/2017
Jerry Spring: L’Intégrale #4
Uma belíssima leitura
Há textos cuja escrita é incontornável, mas que vários factores
tornam reduzidos.
É o caso deste.
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08/04/2015
06/04/2015
Jerry Spring: Integral #5
Acompanho – com a proximidade (e a disponibilidade
financeira) possível – o mercado espanhol de BD há muitos anos, mas não cesso
de me surpreender com a sua vitalidade – apesar das queixas que os locais
recorrentemente exprimem.
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05/04/2015
Centenário de Jijé em Leiria
13/11/2014
Jerry Spring: L’Intégrale #3
Não foi propositado, mas o acaso - diversos
acasos - fez com que este texto e o de ontem se sucedessem aqui no blog, numa coincidência
curiosa pois ambos poderiam ter como subtítulo: “Evocação”.
Desenvolvo já a seguir.
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28/09/2014
23/06/2014
25/02/2014
“Jijé nasceu há 100 anos” na Bedeteca de Beja
No próximo sábado dia 1 de Março, às 18h30, inaugura na
Bedeteca de Beja a exposição Jijé nasceuhá 100 anos.
Apareçam!
13/01/2014
Jijé nasceu há 100 anos
Há um século nascia o belga Joseph Gillain. A banda
desenhada conhece-o como Jijé e recorda-o como criador de Jerry Spring.
Uma breve biblio-biografia já a seguir.
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27/04/2012
Gringos Locos
Yann (argumento)
Schwartz (desenho)
Dupuis (Bélgica, sem
data anunciada)
48 p., cor
Regresso a “GringosLocos” para anunciar que este álbum vai finalmente ser posto à venda no mercado
francófono no próximo dia 4 de Maio.
Narração
ficcionada de uma famosa viagem aos Estados Unidos e México feita por Jijé com
a mulher, quatro filhos, Franquin e Morris, nos anos 50, teve o lançamento inicialmente
anunciado para 12 de Janeiro, mas foi diversas vezes adiado devido à
controvérsia que opôs os descendentes de Jijé e Franquin aos autores, Yann e
Schwartz.
Agora, após
obtenção de um acordo, mediado pela editora Dupuis, o álbum será finalmente posto
à venda, aumentado de um caderno de 10 páginas com fotos dessa viagem e uma
longa entrevista de José-Louis Bocquet a Benôit Gillain, um dos filhos de Jijé,
na qual ele evoca muitas das memórias que guarda dessa verdadeira odisseia e esclarece,
contextualiza ou complementa, os aspectos da banda desenhada que chocaram os
filhos de Jijé e a filha de Franquin pelo retrato distorcido dos seus pais e os
levaram a oporem-se inicialmente à edição desta obra.
Direito de
resposta para uns, limitação à liberdade de expressão para outros, a polémica
levantada por este caso – que certamente só existiu devido à importância dos
três autores em causa no panorama da BD franco-belga - não ficará certamente
por aqui e, para além de ter servido como uma boa campanha publicitária extra
para um álbum, de si já muito aguardado, poderá ter aberto precedentes que só o
futuro confirmará.
Se em
termos puramente criativos, o dossier nada adianta ao álbum que (man)tém muitos
motivos de interesse, pois está bem escrito e desenhado e é francamente
divertido, em termos históricos revela-se determinante pois ajuda a compreender
– no seu tempo - e a conhecer melhor três homens – três autores de banda
desenhada de excepção - que marcaram uma época e cujas obras continuam actuais e
a serem (re)lidas hoje em dia e contribui decisivamente para a escrita de (mais)
uma página marcante da História das histórias aos quadradinhos criadas na
Bélgica e na França.
27/01/2012
Gringos Locos
Yann (argumento)
Schwartz (desenho)
Dupuis (Bélgica, sem
data anunciada)
48 p., cor, cartonado
Resumo
Em 1948,
Jijé, com a mulher e quatro filhos que tinham entre 1 e 10 anos de idade,
partiu para os Estados Unidos, igualmente na companhia de Franquin e Morris. Jijé
partia temendo uma próxima guerra nuclear em solo europeu e os três pretendiam
arranjar emprego nos Estúdios Disney.
Essa viagem,
agora evocada na forma de banda desenhada, transformou-se num autêntica
odisseia, que acabou por durar 5 anos. Nela, cruzaram os EUA e o México a bordo
de um único automóvel, dormiram ao ar livre ou em tendas e sobreviveram graças
ao dinheiro que iam recebendo, referente às pranchas que iam desenhando e
enviando para a Dupuis.
Durante a
sua estadia nos EUA, Jijé, Franquin e Morris, viriam a conhecer Harvey Kurtzman
e os outros fundadores da revista MAD, bem como René Goscinny, o que contribuiu
para terem um papel decisivo na modernização da BD belga aquando do seu retorno
ao país natal.
Este
primeiro volume, que se inicia com a partida da Bélgica, conclui-se com os
autores a viverem no México e Franquin a receber a notícia de que deveria
substituir Jijé à frente de Spirou.
Desenvolvimento
Este é um
projecto que Yann acalentava há muitos anos. Nasceu das conversas informais que
teve com Franquin (a quem chegou a propor desenhá-lo) e com Morris, quando
trabalhou com ambos, e foi crescendo nas suas gavetas ao longo dos anos, ao
ouvir aqui e ali anedotas sobre essa mítica viagem. Chaland, que chegou a
traçar-lhe uma curta biografia em BD: “La vie exemplaire de Jijé”
- foi outro dos nomes apontados para o desenhar, mas como a visão de um e outro
era díspar, também aí o projecto não avançou.
Finalmente,
depois de trabalhar com Schwartz em “Spirou – Le groom vert-de-gris”, Yann
propôs-lhe o argumento de “Gringos Locos”, que foi aceite de imediato.
Só para se
ter uma ideia da importância deste livro, note-se que foi pré-publicado – em
simultâneo, apesar das diferentes periodicidades – no jornal Le Soir e nas
revistas Spirou e L’Immanquable.
O álbum é
francamente divertido. Por um lado, porque Yann escreve muito bem, combinando a
actualidade no México e Estados Unidos com alguns flashbacks ou cenas sonhadas
ou imaginadas (nos quadradinhos) pelos autores. Por outro, porque nele são
transcritos uma série de gags que parecem apenas possíveis nos quadradinhos,
mas que na verdade existiram. É o caso da batalha de água – que incluiu
despejar uma banheira cheia pelas escadas abaixo – que teve lugar na véspera da
partida, quando as malas já estavam feitas, o que obrigou os 3 autores a
partirem vestidos com pijamas (!) emprestados (!!), o facto de terem passado a
noite toda a desenhar rachadelas e falhas de pintura na casa, como vingança
contra a senhoria, o desenharem as suas bandas desenhadas em frente e verso
para pouparem nos portes ou perseguição à família Gillain após terem tentado,
inadvertidamente, entrar numa igreja só para negros!
Para além
disso Yann recheou o seu argumento com alusões a séries dos autores ou a cenas
bem conhecidas dos quadradinhos, o que, sem prejuízo dos outros, possibilita um
outro nível de leitura ao leitor mais conhecedor.
Graficamente,
Schwartz mais uma vez, revela-se um contador nato aos quadradinhos, com uma
linha clara de cores fortes e vivas, muito dinâmica e expressiva, que cativa
facilmente o leitor e com a qual acentua os (muitos) momentos cómicos do
relato.
Fica, para
o fim, o retrato traçado por Yann e Schwartz daqueles três nomes fundamentais
da banda desenhada franco-belga e mundial: Franquin, assume a personalidade
depressiva e pouco confiante que lhe era (re)conhecida, em absoluto contraste
com o humor que expressava nas suas criações; Morris, por seu lado, surge como
um brincalhão e um conquistador incorrigível (bem diferente do circunspecto senhor
de alguma idade que conheci há anos no Porto);Jijé é apresentado quase com uma
personalidade bipolar, capaz dos maiores arrojos mas também das maiores hesitações.
A polémica
E é neste
ponto, que assenta a polémica que envolve esta obra.
Recapitulemos:
“Gringos Locos” deveria ter sido lançado no passado dia 12 de Janeiro. No entanto,
a editora Dupuis, mesmo tendo 35 mil exemplares já impressos, suspendeu-o. Actualmente, a única referência ao álbum no site da editora, é a notícia da anulação de um concurso com ele relacionado.
A razão, veio rapidamente à luz do dia: os filhos de Jijé e a filha de Franquin, conforme divulgado através de diversos órgãos de comunicação social francófonos, não concordavam com o retrato feito dos seus pais no álbum e manifestaram o seu desagrado à editora.
A razão, veio rapidamente à luz do dia: os filhos de Jijé e a filha de Franquin, conforme divulgado através de diversos órgãos de comunicação social francófonos, não concordavam com o retrato feito dos seus pais no álbum e manifestaram o seu desagrado à editora.
Se algumas
fontes chegam ao ponto de afirmar que houve ameaças de retirar do fundo de
catálogo da Dupuis as obras de Jijé e Franquin (e até de Morris), Romain Gillain
Muñoz, neto de Jijé, há anos radicado em Portugal, negou-o peremptoriamente a
As Leituras do Pedro.
Segundo
ele, “não há guerra nenhuma com a Dupuis”, nem “foram feitas quaisquer
ameaças”. A boa relação entre estas duas partes “já vem desde os anos 1940”,
estando apenas a decorrer “conversações para tentarem chegar a um acordo”. A
interdição de publicação deste álbum – e do segundo tomo que lhe deverá
suceder, sobre a estadia do trio em Nova Iorque – nunca foi equacionada.
Ainda segundo
Romain, a família de Jijé, pede apenas a hipótese de beneficiar “de um direito
de resposta”, que poderá ser na forma de um encarte a incluir nos álbuns, em
que seja afirmado que se trata apenas de “uma obra livremente ficcionada,
apesar de conter alguns elementos verdadeiros, e não de uma biografia factual
autorizada”, e no qual possam “transmitir uma imagem mais exacta de quem foi o
seu pai e avô”.
A principal
questão que aponta à obra de Yann e Schwartz é a imagem “demasiado beata e
católica do avô, que não corresponde de forma alguma à sua forma de estar, ele
que a certa altura deixou mesmo de frequentar a missa”, reforçada “pelo facto
de surgir sempre de sandálias – que raramente calçou - como era uso dos
missionários católicos” e de ele estar constantemente “a proferir palavrões,
que ele nunca utilizava, para mais no dialecto de Bruxelas, que não dominava”.
A isto
acrescenta algumas outras questões, como a forma “deselegante e incómoda como é
abordada a relação de Jijé com a II Guerra Mundial”, ele que chegou a ser
acusado de colaboracionismo, “o que sempre o incomodou, apesar de ser sabido
que recebeu durante a guerra vários resistentes em sua casa e que nunca se gabou disso”. E que foi algo de
todo inesperado porque Yann e Schwartz, em “Le Groom vert-de-gris”, “tinham
dado o rosto de Jijé ao líder da resistência belga, Jean Doisy, um comunista
bem conhecido que foi seu amigo”.
Igualmente a
questão monetária apresentada – no álbum Annie, esposa de Jijé, pede a Morris e
Franquin que paguem o alojamento e as refeições – revolta os familiares do
criador de Jerry Spring, pois “é sabido que o meu avo, na Bélgica, alojou
muitos autores em sua casa, entre eles também Will, Jean Giraud e Mezières, alguns por
períodos bem prolongados, sem nunca lhes ter pedido nada em troca”.
Curiosamente,
Romain diz que “ignorava a maior parte dos pormenores desta odisseia”, tendo
tido que pedir ao seu pai “esclarecimentos quando as primeiras notícias sobre o
projecto começaram a circular na net”, embora conhecesse “fotos da época” (que
cedeu para aqui serem reproduzidas) bem como “um velho chapéu mexicano, oferecido por Franquin” que o
pai ainda guarda.
Sabe que
Yann falou “com o seu pai e um tio muito antes de concretizar o projecto”, mas,
depois disso “não houve mais nenhum contacto”, pelo que à sua família não foi
dado qualquer conhecimento do início ou do avanço da obra.
Apesar
desta oposição só ter sido tornada pública quando a Dupuis cancelou o
lançamento do álbum, o neto de Jijé revela que a sua família “contactou a
editora logo que a pré-publicação se iniciou” e que desde então “tem havido
diversos contactos no sentido da resolver da melhor forma para todas as
partes”.
A terminar,
Romain, a título pessoal, considera, apesar de tudo, “que esta é uma história
que deve ser contada”, não só pela popularidade de que ainda gozam os três
criadores, mas também pela sua importância na história da banda desenhada
franco-belga.
Se será
concluída ou não, ainda não se sabe. Para já, na sua última página, pode
apor-se, com uma significativa alteração um termo bem conhecido dos leitores de
BD: (continua?)
21/01/2012
As Figuras do Pedro (XII)
Pin Spirou
Material: metal
Fabricante/Distribuidor: Les amis de Jijé
Ano: 1998Material: metal
Nem só de
figuras é feita a minha colecção para-BD.
Esta semana
mão amiga – obrigado Romain! – fez-me chegar estes magníficos pins – ao que
parece raros - inspirados no Spirou que Jijé desenhou no início da década de
1940 e eu não resisti a mostrá-los aqui de imediato...
27/11/2010
Jerry Spring - L'intégrale en noir et blanc - Tome 2 – 1955/1958
Jijé (argumento e desenho)
René Goscinny (argumento)
Acquaviva (argumento)
Dupuis (Bélgica, Outubro de 2010)
218 x 230 mm, 240 p., cor, cartonado
Resumo
Segundo tomo da edição integral das aventuras de Jerry Spring a preto e branco, agrupa os álbuns “La Passe des Indiens”, “La piste du Grand Nord”, “Le Ranch de la Malchance” e “Les 3 Barbus de Sonoyta”, com a curiosidade de o segundo e o terceiro agruparem várias histórias de tamanho diverso, incluindo uma com argumento de René Goscinny.
Desenvolvimento
Se é (relativamente) difícil, num intervalo de tempo tão curto, voltar a escrever sobre a reedição integral de Jerry Spring, o prazer que a sua leitura me proporcionou, a par da qualidade da obra-prima de Jijé, obrigam-me a fazê-lo.
E aproveito a “repetição”, para destacar um aspecto distintivo deste western: o seu carácter humanista, o que o leva por caminhos diversos de outros expoentes do género, como Blueberry, que prima pela aventura trepidante em ritmo acelerado, Comanche, em que impera o confronto entre o oeste selvagem e as mudanças trazidas pelo ”progresso”, ou Tex e o seu peculiar sentido de justiça a qualquer custo. Ou ainda Buddy Longway, talvez o que mais se aproxima de J. Spring, embora o tom e os contornos sejam diferentes, pois onde aquele avança, apesar de tudo, pela temática tradicional, o segundo tem o núcleo familiar e o seu quotidiano como base. Embora se perceba perfeitamente porque reclama Derib a herança temática e de valores de Jijé (e não a sua herança gráfica, bem mais evidente nos primeiros trabalhos de Jean Giraud, que foi seu assistente).
Este carácter humanista de Jerry Spring, revela-se em pormenores como o facto de o protagonista nunca atirar a matar, o humor sempre patente nos relatos (talvez demasiado caricatural na última história deste tomo) ou os “tempos mortos” das histórias em que Spring se limita a desfrutar da amizade de Pancho ou do contacto com a natureza selvagem. E cujo prazer que Jijé experimentou no seu desenho é bem evidente, pela naturalidade e o realismo das paisagens e, principalmente, dos belos cavalos. Daí também, o facto de a maior parte das narrativas decorrer fora dos locais habitados.
Para tudo isto contribuíram, sem dúvida, a temporada que Jijé e a sua família passaram nos Estados Unidos, e também a sua educação católica, que o levariam a exercitar a sua mestria noutras temáticas como a biografia de Don Bosco aos quadradinhos.
O que não impede que o seu traço, leve, delicado, vivo e dinâmico, bem trabalhado no contraste entre o branco e as manchas de negro, revele uma insuspeita sensualidade, revelada, por exemplo, nos surpreendentes nus mostrados neste tomo ou na graça da bela co-protagonista da última narrativa.
E não retira, também, longe disso, o tom aventuroso a Jerry Spring, envolvido na investigação de disputas fraudulentas de terrenos, roubos violentos, assaltos a minas de ouro ou bandidos mexicanos. Para nosso deleite e prazer.
Curiosidade
O primeiro tomo desta reedição integral, faz parte da selecção do Festival de Angoulême, na lista de candidatos ao Prémio do Património. Justamente.
René Goscinny (argumento)
Acquaviva (argumento)
Dupuis (Bélgica, Outubro de 2010)
218 x 230 mm, 240 p., cor, cartonado
Resumo
Segundo tomo da edição integral das aventuras de Jerry Spring a preto e branco, agrupa os álbuns “La Passe des Indiens”, “La piste du Grand Nord”, “Le Ranch de la Malchance” e “Les 3 Barbus de Sonoyta”, com a curiosidade de o segundo e o terceiro agruparem várias histórias de tamanho diverso, incluindo uma com argumento de René Goscinny.
Desenvolvimento
Se é (relativamente) difícil, num intervalo de tempo tão curto, voltar a escrever sobre a reedição integral de Jerry Spring, o prazer que a sua leitura me proporcionou, a par da qualidade da obra-prima de Jijé, obrigam-me a fazê-lo.
E aproveito a “repetição”, para destacar um aspecto distintivo deste western: o seu carácter humanista, o que o leva por caminhos diversos de outros expoentes do género, como Blueberry, que prima pela aventura trepidante em ritmo acelerado, Comanche, em que impera o confronto entre o oeste selvagem e as mudanças trazidas pelo ”progresso”, ou Tex e o seu peculiar sentido de justiça a qualquer custo. Ou ainda Buddy Longway, talvez o que mais se aproxima de J. Spring, embora o tom e os contornos sejam diferentes, pois onde aquele avança, apesar de tudo, pela temática tradicional, o segundo tem o núcleo familiar e o seu quotidiano como base. Embora se perceba perfeitamente porque reclama Derib a herança temática e de valores de Jijé (e não a sua herança gráfica, bem mais evidente nos primeiros trabalhos de Jean Giraud, que foi seu assistente).
Este carácter humanista de Jerry Spring, revela-se em pormenores como o facto de o protagonista nunca atirar a matar, o humor sempre patente nos relatos (talvez demasiado caricatural na última história deste tomo) ou os “tempos mortos” das histórias em que Spring se limita a desfrutar da amizade de Pancho ou do contacto com a natureza selvagem. E cujo prazer que Jijé experimentou no seu desenho é bem evidente, pela naturalidade e o realismo das paisagens e, principalmente, dos belos cavalos. Daí também, o facto de a maior parte das narrativas decorrer fora dos locais habitados.
Para tudo isto contribuíram, sem dúvida, a temporada que Jijé e a sua família passaram nos Estados Unidos, e também a sua educação católica, que o levariam a exercitar a sua mestria noutras temáticas como a biografia de Don Bosco aos quadradinhos.
O que não impede que o seu traço, leve, delicado, vivo e dinâmico, bem trabalhado no contraste entre o branco e as manchas de negro, revele uma insuspeita sensualidade, revelada, por exemplo, nos surpreendentes nus mostrados neste tomo ou na graça da bela co-protagonista da última narrativa.
E não retira, também, longe disso, o tom aventuroso a Jerry Spring, envolvido na investigação de disputas fraudulentas de terrenos, roubos violentos, assaltos a minas de ouro ou bandidos mexicanos. Para nosso deleite e prazer.
Curiosidade
O primeiro tomo desta reedição integral, faz parte da selecção do Festival de Angoulême, na lista de candidatos ao Prémio do Património. Justamente.
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Jerry Spring,
Jijé
13/09/2010
Jerry Spring - L'intégrale en noir et blanc - Tome 1 – 1954/1955
Jijé (argumento e desenho)
Dupuis (Bélgica, Agosto de 2010)
218 x 230 mm, 240 p., cor, cartonado
Resumo
Primeiro volume da edição integral a preto e branco de Jerry Spring, reúne os álbuns “Golden Creek (Le secret de la mine abandonnée)", “Yucca Ranch", "Lune d'argent" e "Trafic d'armes", originalmente publicados em 1954 e 1955.
Desenvolvimento
Pertenço a uma geração para quem o western era (um)a (das) aventura(s) em estado puro. E ainda é!
Por isso – e como leitor do “Mundo de Aventuras”, que me formou para um gosto eclético dentro dos quadradinhos – Jerry Spring foi um dos heróis que (também) encheu os meus sonhos. Blueberry e Buddy Longway, para mim, surgiram mais tarde, Tex (para desgosto do José Carlos Francisco), só em anos recentes, outros heróis menores (na dimensão que ocupam na história da BD) por lá passaram também mas deixando marca menos impressiva.
Assim, quando antevi a possibilidade de reencontrar Spring, numa edição com esta qualidade, para mais no preto e branco original, preferido por Jijé em detrimento da cor mais comercial, não hesitei. E o mínimo que posso dizer é que valeu a pena. Porque o reencontro com este herói da minha juventude, não destruiu nada da imagem que a minha memória guardava e ainda acrescentou a (re)descoberta de um clássico incontornável da 9ª arte.
Apesar de se considerar mais desenhador do que argumentista, a verdade é que Jijé, neste western, revela dotes mais do que suficientes para prender o leitor ao longo das narrativas, diversificadas dentro de alguns dos habituais estereótipos do género, bem conseguidas e consistentes, graças também ao seu ritmo acelerado, muitas vezes trepidante, devido à riqueza e variedade de planos e enquadramentos utilizados por Jijé.
Por isso não se compreende porque por vezes recorreu a outros colegas de profissão (Goscinny, Rosy…) até porque, apesar de aceitar os seus pontos de partida, no decurso dos álbuns acabou sempre por seguir o seu instinto, para desagrado deles.
As histórias incluídas neste tomo, as primeiras de Spring, revelam já um protagonista sólido e bem definido e um fio condutor sólido e credível, apesar de ligeiras discrepâncias menores, e mostram como Jijé soube beber nas suas inspirações (narrativas e gráficas) embora dotando a sua personagem de roupagens originais.
Desde logo, pelo carácter humanista de Jerry, cowboy romântico por excelência, gentleman por baixo da pele (não muito grossa) de homem do Oeste, como comprovam várias situações em que opta pelo diálogo e não pela violência, pela compaixão e não pela brutalidade desnecessária. E, também, pelo humor patente ao longo dos relatos, presente em muitos dos diálogos de Jerry ou, por exemplo, pela cobiça despertada por Ruby em todos aqueles com quem o herói se cruza em “Lune d’Argent”.
Se o protagonismo pertence ao americano – por vezes herói a solo dos relatos – a seu lado está quase sempre o mexicano Pancho que com ele forma um dueto (fisicamente) equiparável a muitos outros existentes na BD, pois Jerry é alto e atlético, enquanto Pancho é baixo e gorducho. No entanto, Pancho actua menos como contrapartida cómica e (bem) mais como verdadeiro parceiro, revelando, muitas vezes, mais bom senso e experiência, e contribuindo assim para salvar(-se e a)o amigo de situações limite.
O desenho de Jijé, mesmo sujeito a prazos apertados e ao seu excesso de trabalho – era então o faz-tudo da revista Spirou e das edições Dupuis – se foi traçado a pincel com rapidez e celeridade, não o denota, revelando antes um desenhador por excelência que, felizmente, a BD foi roubar à pintura. A planificação adoptada, com apenas três tiras por prancha, frequentemente ocupadas com uma única vinheta, deixa o seu desenho respirar e ajuda mesmo a realçar as suas principais qualidades: um traço elegante, ágil e muito dinâmico, e uma excelente utilização de manchas de negro utilizadas com mestria para guiar os olhos do leitor e destacar na brancura da página os pontos principais da acção.
Jijé sente-se tão à vontade com a figura humana – sejam os protagonistas delgados ou rechonchudos, novos ou velhos, homens ou (bonitas) mulheres - como no desenho de (soberbos e imponentes) cavalos. Nos cenários, em que montanhas e planícies tomam a primazia a aglomerados urbanos, adivinha-se que Jijé os conheceu e percorreu (durante uma viagem aos Estados Unidos), conseguindo transmitir-lhes uma aura realista e uma credibilidade que o recurso ou a “prisão” a documentação fotográfica muitas vezes não permite. Este aspecto contribui decisivamente para a solidez realista deste western, o que não invalida que o herói ganhe sempre no final, por muitas provas e atribulações que tenha de atravessar. Como aliás convém!
A reter
- Já o escrevi algumas vezes (e disse-o muitas mais), mas não me canso de o repetir: estou rendido aos volumes “integrais” francófonos. Pela irrepreensível qualidade gráfica, pela relevância e diversidade da documentação incluída (esboços, capas originais, arquivos de base, fotos, contextualização histórica da obra, etc.), pela importância das obras reproduzidas, pelo preço acessível. E também, neste caso concreto, “tout-court” pelo valor sentimental que Jerry Spring tem para mim. Não admira que tenha cada vez mais tomos destes na minha biblioteca…
- A qualidade do traço de Jijé, pormenorizado, rico, ágil, dinâmico, apesar de sujeito aos prazos apertados e à rapidez de execução. Por isso, se justificam as palavras de Derib (autor de Buddy Longway): “sou o único a considerar Jijé o maior desenhador de bandas desenhadas realistas?”.
Curiosidades
- Estreado em Portugal no “Cavaleiro Andante”, logo em 1956, em Portugal Jerry Spring passou também pelas páginas do “Zorro”, “Spirou” (1ª e 2ª séries) e “Selecções BD” (2ª série), para além do já citado “Mundo de Aventuras”. Quatro dos álbuns escritos e desenhados por Jijé - El Zopilote, Pancho em Apuros, Cavalos de Montana e Lobo Solitário - foram editados a cores pelas Edições 70, entre 1983 e 1984.
- Assistente de Rob-Vel, de quem herdou Spirou, Jijé privou (e trocou experiências e ajuda nos trabalhos quando os prazos apertavam) com Morris e Franquin, tendo um certo Jean Giraud dado os primeiros passos na BD no seu estúdio, em pranchas deste mesmo Jerry Spring, cuja influência gráfica é bem notória nos primeiros álbuns de Blueberry.
Dupuis (Bélgica, Agosto de 2010)
218 x 230 mm, 240 p., cor, cartonado
Resumo
Primeiro volume da edição integral a preto e branco de Jerry Spring, reúne os álbuns “Golden Creek (Le secret de la mine abandonnée)", “Yucca Ranch", "Lune d'argent" e "Trafic d'armes", originalmente publicados em 1954 e 1955.
Desenvolvimento
Pertenço a uma geração para quem o western era (um)a (das) aventura(s) em estado puro. E ainda é!
Por isso – e como leitor do “Mundo de Aventuras”, que me formou para um gosto eclético dentro dos quadradinhos – Jerry Spring foi um dos heróis que (também) encheu os meus sonhos. Blueberry e Buddy Longway, para mim, surgiram mais tarde, Tex (para desgosto do José Carlos Francisco), só em anos recentes, outros heróis menores (na dimensão que ocupam na história da BD) por lá passaram também mas deixando marca menos impressiva.
Assim, quando antevi a possibilidade de reencontrar Spring, numa edição com esta qualidade, para mais no preto e branco original, preferido por Jijé em detrimento da cor mais comercial, não hesitei. E o mínimo que posso dizer é que valeu a pena. Porque o reencontro com este herói da minha juventude, não destruiu nada da imagem que a minha memória guardava e ainda acrescentou a (re)descoberta de um clássico incontornável da 9ª arte.
Apesar de se considerar mais desenhador do que argumentista, a verdade é que Jijé, neste western, revela dotes mais do que suficientes para prender o leitor ao longo das narrativas, diversificadas dentro de alguns dos habituais estereótipos do género, bem conseguidas e consistentes, graças também ao seu ritmo acelerado, muitas vezes trepidante, devido à riqueza e variedade de planos e enquadramentos utilizados por Jijé.
Por isso não se compreende porque por vezes recorreu a outros colegas de profissão (Goscinny, Rosy…) até porque, apesar de aceitar os seus pontos de partida, no decurso dos álbuns acabou sempre por seguir o seu instinto, para desagrado deles.
As histórias incluídas neste tomo, as primeiras de Spring, revelam já um protagonista sólido e bem definido e um fio condutor sólido e credível, apesar de ligeiras discrepâncias menores, e mostram como Jijé soube beber nas suas inspirações (narrativas e gráficas) embora dotando a sua personagem de roupagens originais.
Desde logo, pelo carácter humanista de Jerry, cowboy romântico por excelência, gentleman por baixo da pele (não muito grossa) de homem do Oeste, como comprovam várias situações em que opta pelo diálogo e não pela violência, pela compaixão e não pela brutalidade desnecessária. E, também, pelo humor patente ao longo dos relatos, presente em muitos dos diálogos de Jerry ou, por exemplo, pela cobiça despertada por Ruby em todos aqueles com quem o herói se cruza em “Lune d’Argent”.
Se o protagonismo pertence ao americano – por vezes herói a solo dos relatos – a seu lado está quase sempre o mexicano Pancho que com ele forma um dueto (fisicamente) equiparável a muitos outros existentes na BD, pois Jerry é alto e atlético, enquanto Pancho é baixo e gorducho. No entanto, Pancho actua menos como contrapartida cómica e (bem) mais como verdadeiro parceiro, revelando, muitas vezes, mais bom senso e experiência, e contribuindo assim para salvar(-se e a)o amigo de situações limite.
O desenho de Jijé, mesmo sujeito a prazos apertados e ao seu excesso de trabalho – era então o faz-tudo da revista Spirou e das edições Dupuis – se foi traçado a pincel com rapidez e celeridade, não o denota, revelando antes um desenhador por excelência que, felizmente, a BD foi roubar à pintura. A planificação adoptada, com apenas três tiras por prancha, frequentemente ocupadas com uma única vinheta, deixa o seu desenho respirar e ajuda mesmo a realçar as suas principais qualidades: um traço elegante, ágil e muito dinâmico, e uma excelente utilização de manchas de negro utilizadas com mestria para guiar os olhos do leitor e destacar na brancura da página os pontos principais da acção.
Jijé sente-se tão à vontade com a figura humana – sejam os protagonistas delgados ou rechonchudos, novos ou velhos, homens ou (bonitas) mulheres - como no desenho de (soberbos e imponentes) cavalos. Nos cenários, em que montanhas e planícies tomam a primazia a aglomerados urbanos, adivinha-se que Jijé os conheceu e percorreu (durante uma viagem aos Estados Unidos), conseguindo transmitir-lhes uma aura realista e uma credibilidade que o recurso ou a “prisão” a documentação fotográfica muitas vezes não permite. Este aspecto contribui decisivamente para a solidez realista deste western, o que não invalida que o herói ganhe sempre no final, por muitas provas e atribulações que tenha de atravessar. Como aliás convém!
A reter
- Já o escrevi algumas vezes (e disse-o muitas mais), mas não me canso de o repetir: estou rendido aos volumes “integrais” francófonos. Pela irrepreensível qualidade gráfica, pela relevância e diversidade da documentação incluída (esboços, capas originais, arquivos de base, fotos, contextualização histórica da obra, etc.), pela importância das obras reproduzidas, pelo preço acessível. E também, neste caso concreto, “tout-court” pelo valor sentimental que Jerry Spring tem para mim. Não admira que tenha cada vez mais tomos destes na minha biblioteca…
- A qualidade do traço de Jijé, pormenorizado, rico, ágil, dinâmico, apesar de sujeito aos prazos apertados e à rapidez de execução. Por isso, se justificam as palavras de Derib (autor de Buddy Longway): “sou o único a considerar Jijé o maior desenhador de bandas desenhadas realistas?”.
Curiosidades
- Estreado em Portugal no “Cavaleiro Andante”, logo em 1956, em Portugal Jerry Spring passou também pelas páginas do “Zorro”, “Spirou” (1ª e 2ª séries) e “Selecções BD” (2ª série), para além do já citado “Mundo de Aventuras”. Quatro dos álbuns escritos e desenhados por Jijé - El Zopilote, Pancho em Apuros, Cavalos de Montana e Lobo Solitário - foram editados a cores pelas Edições 70, entre 1983 e 1984.
- Assistente de Rob-Vel, de quem herdou Spirou, Jijé privou (e trocou experiências e ajuda nos trabalhos quando os prazos apertavam) com Morris e Franquin, tendo um certo Jean Giraud dado os primeiros passos na BD no seu estúdio, em pranchas deste mesmo Jerry Spring, cuja influência gráfica é bem notória nos primeiros álbuns de Blueberry.
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