Há um século nascia o belga Joseph Gillain. A banda
desenhada conhece-o como Jijé e recorda-o como criador de Jerry Spring.
Uma breve biblio-biografia já a seguir.
Natural de Gedinne, nas Ardenas cresceu numa família
numerosa e católica, o que marcou todo o seu percurso humano e artístico. Aos
20 anos mudou-se para Bruxelas onde, por influência do pintor
neo-impressionista Léon Van den Houten, frequentou a Escola de Cabres e a
Academia de Belas Artes e Artes Decorativas.
Entre trabalhos de ilustração, gravura em madeira e
caricatura, Jijé chegou à BD em 1935, no jornal Le Croisé, concorrente do Petit
Vingtiéme que publicava as aventuras de Tintin. Foi lá que, no ano seguinte, inspirado
no herói de Hergé, criou Jojo um aventureiro de nariz comprido.
Em 1939, depois de concluir uma história do Superman, uma
vez que a invasão da Bélgica pelos nazis impossibilitava a recepção do material
original norte-americano – e haveria de fazer o mesmo com Red Ryder -
apresentou aos leitores de Spioru Blondin et Cirage, dois miúdos, um branco,
outro negro, sempre metidos em sarilhos.
Em 1940 assumiu os destinos de Spirou, tendo sido o criador
do temperamental Fantásio que se tornaria o seu companheiro inseparável, tendo assinado
diversos episódios até 1951. Pelo meio, em 1941, desenhou biografias de Don
Bosco, um dos seus trabalhos mais conhecidos, Cristovão Colombo, Badden Powell e
Jesus Cristo e criou o detective Jean Valhardi, que o ac1ompanharia até 1965.
Entretanto, o medo de uma guerra nuclear na Europa levou-o
numa longa e atribulada viagem até aos Estados Unidos, em companhia da mulher
Anne, com quem casara em 1938, quatro filhos, Morris (criador de Lucky Luke) e
Franquin (Marsupilami, Gaston Lagaffe), que esteve na origem do álbum GringosLocos – e da polémica que ele despoletou.
Após o regresso ao seu país natal, no início da década de
1950, surgiria a sua personagem mais marcante, o cowboy Jerry Spring, que se
distinguiu doutras criações semelhantes pelo seu carácter cavalheiresco e pelo
seu tom humanista que desenvolveu ao longo de 25 episódios.
Uma participação no álbum inaugural de Blueberry, ao lado de
Jean Giraud (também conhecido como Moebius, que deu os primeiros passos aos
quadradinhos como seu assistente), outra em Barbe Rouge e 17 álbuns de Tanguy
et Laverdure (nos dois casos a partir de argumentos de Jean-Michel Charlier)
são outros pontos salientes da bibliografia bem mais vasta de um dos autores
clássicos mais marcantes da BD franco-belga, a quem se deve a criação da
chamada escola de Marcinelle.
Jean Valhardi (rebaptizado como João Valente), Baden Powell,
Jerry Spring e Tanguy e Laverdure foram algumas das suas criações publicadas em
Portugal, no Cavaleiro Andante, Foguetão, Zorro, Spirou, Tintin e Mundo de Aventuras, sendo que os dois últimos tiveram também algumas
edições em álbum, nos anos 1980, com a chancela das Edições 70 e da
Meribérica/Líber.
Para assinalar o centenário do nascimento de Jijé, a Maison
de la Bande Dessinée, em Bruxelas, tem patente até 29 de Junho uma exposição
sobre o autor que inclui mais de uma centena de originais, entre capas,
pranchas, pinturas e ilustrações.
(Versão aumentada do texto publicado no Jornal de Notícias de 13 de Abril de 2014)
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