13/01/2014

Jijé nasceu há 100 anos













Há um século nascia o belga Joseph Gillain. A banda desenhada conhece-o como Jijé e recorda-o como criador de Jerry Spring.
Uma breve biblio-biografia já a seguir.


Natural de Gedinne, nas Ardenas cresceu numa família numerosa e católica, o que marcou todo o seu percurso humano e artístico. Aos 20 anos mudou-se para Bruxelas onde, por influência do pintor neo-impressionista Léon Van den Houten, frequentou a Escola de Cabres e a Academia de Belas Artes e Artes Decorativas.
Entre trabalhos de ilustração, gravura em madeira e caricatura, Jijé chegou à BD em 1935, no jornal Le Croisé, concorrente do Petit Vingtiéme que publicava as aventuras de Tintin. Foi lá que, no ano seguinte, inspirado no herói de Hergé, criou Jojo um aventureiro de nariz comprido.
Em 1939, depois de concluir uma história do Superman, uma vez que a invasão da Bélgica pelos nazis impossibilitava a recepção do material original norte-americano – e haveria de fazer o mesmo com Red Ryder - apresentou aos leitores de Spioru Blondin et Cirage, dois miúdos, um branco, outro negro, sempre metidos em sarilhos.
Em 1940 assumiu os destinos de Spirou, tendo sido o criador do temperamental Fantásio que se tornaria o seu companheiro inseparável, tendo assinado diversos episódios até 1951. Pelo meio, em 1941, desenhou biografias de Don Bosco, um dos seus trabalhos mais conhecidos, Cristovão Colombo, Badden Powell e Jesus Cristo e criou o detective Jean Valhardi, que o ac1ompanharia até 1965.
Entretanto, o medo de uma guerra nuclear na Europa levou-o numa longa e atribulada viagem até aos Estados Unidos, em companhia da mulher Anne, com quem casara em 1938, quatro filhos, Morris (criador de Lucky Luke) e Franquin (Marsupilami, Gaston Lagaffe), que esteve na origem do álbum GringosLocos – e da polémica que ele despoletou.
Após o regresso ao seu país natal, no início da década de 1950, surgiria a sua personagem mais marcante, o cowboy Jerry Spring, que se distinguiu doutras criações semelhantes pelo seu carácter cavalheiresco e pelo seu tom humanista que desenvolveu ao longo de 25 episódios.
Uma participação no álbum inaugural de Blueberry, ao lado de Jean Giraud (também conhecido como Moebius, que deu os primeiros passos aos quadradinhos como seu assistente), outra em Barbe Rouge e 17 álbuns de Tanguy et Laverdure (nos dois casos a partir de argumentos de Jean-Michel Charlier) são outros pontos salientes da bibliografia bem mais vasta de um dos autores clássicos mais marcantes da BD franco-belga, a quem se deve a criação da chamada escola de Marcinelle.
Jean Valhardi (rebaptizado como João Valente), Baden Powell, Jerry Spring e Tanguy e Laverdure foram algumas das suas criações publicadas em Portugal, no Cavaleiro Andante, Foguetão, Zorro, Spirou, Tintin e Mundo de Aventuras, sendo que os dois últimos tiveram também algumas edições em álbum, nos anos 1980, com a chancela das Edições 70 e da Meribérica/Líber.

Para assinalar o centenário do nascimento de Jijé, a Maison de la Bande Dessinée, em Bruxelas, tem patente até 29 de Junho uma exposição sobre o autor que inclui mais de uma centena de originais, entre capas, pranchas, pinturas e ilustrações.


(Versão aumentada do texto publicado no Jornal de Notícias de 13 de Abril de 2014)

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