Uma belíssima leitura
Há textos cuja escrita é incontornável, mas que vários factores
tornam reduzidos.
É o caso deste.
Jijé (argumento e desenho)
Comanche, em que impera o confronto entre o oeste selvagem e as mudanças trazidas pelo ”progresso”, ou Tex e o seu peculiar sentido de justiça a qualquer custo. Ou ainda Buddy Longway, talvez o que mais se aproxima de J. Spring, embora o tom e os contornos sejam diferentes, pois onde aquele avança, apesar de tudo, pela temática tradicional, o segundo tem o núcleo familiar e o seu quotidiano como base. Embora se perceba perfeitamente porque reclama Derib a herança temática e de valores de Jijé (e não a sua herança gráfica, bem mais evidente nos primeiros trabalhos de Jean Giraud, que foi seu assistente).
Para tudo isto contribuíram, sem dúvida, a temporada que Jijé e a sua família passaram nos Estados Unidos, e também a sua educação católica, que o levariam a exercitar a sua mestria noutras temáticas como a biografia de Don Bosco aos quadradinhos.
Jijé (argumento e desenho)
Desde logo, pelo carácter humanista de Jerry, cowboy romântico por excelência, gentleman por baixo da pele (não muito grossa) de homem do Oeste, como comprovam várias situações em que opta pelo diálogo e não pela violência, pela compaixão e não pela brutalidade desnecessária. E, também, pelo humor patente ao longo dos relatos, presente em muitos dos diálogos de Jerry ou, por exemplo, pela cobiça despertada por Ruby em todos aqueles com quem o herói se cruza em “Lune d’Argent”.
A planificação adoptada, com apenas três tiras por prancha, frequentemente ocupadas com uma única vinheta, deixa o seu desenho respirar e ajuda mesmo a realçar as suas principais qualidades: um traço elegante, ágil e muito dinâmico, e uma excelente utilização de manchas de negro utilizadas com mestria para guiar os olhos do leitor e destacar na brancura da página os pontos principais da acção.
A reter
Quatro dos álbuns escritos e desenhados por Jijé - El Zopilote, Pancho em Apuros, Cavalos de Montana e Lobo Solitário - foram editados a cores pelas Edições 70, entre 1983 e 1984.