Resumo
Blacksad e Weekly vão a Nova Orleães para procurarem Sebastian “Little Hand” Fletcher, um pianista de jazz (deficiente de uma mão!) caído em desgraça pelo seu vício de heroína, a pedido de Fausto Lachapelle, ex-músico medíocre e produtor musical bem sucedido com um cancro em fase terminal.
À medida que a investigação decorre, o felino descobre que nem tudo é o que parece é e que há segredos escondidos que alguns querem que permaneçam assim.
Desenvolvimento
Se “grandes poderes trazem grandes responsa-bilidades”, “bons álbuns aumentam a expectativa para novos álbuns”. É o caso de Blacksad, cujos três primeiros tomos satisfizeram leitores e críticos (não, não interpretem mal, estes também são leitores!). Com justiça, diga-se.
Por isso - e porque mediaram cinco anos entre o anterior “Alma Vermelha” e este “O inferno, o silêncio” – pode bem escrever-se que este era uma dos mais aguardados lançamentos do ano. E o mínimo que se pode escrever é que a espera valeu a pena e que os autores justificaram o tempo dispendido.
Desde logo porque, em minha opinião, em termos de argumento este é o mais conseguido da série. Pela consistência da história. Pela sua originalidade, mais distante dos clichés do policial negro que lhe servem de base. Pela bela homenagem e pelo vibrante retrato traçado de Nova Orleães enquanto “pátria” do jazz. Pela forma subtil como explora os sentimentos dos intervenientes: o medo da morte, a fraqueza de uns, a ganância de outros, com amores (desencontrados…?) pelo meio…
A procura do pianista desaparecido (melhor, escondido), vai levar Blacksad a mergulhar na cena musical de Nova Orleães, enfrentando alguns dissabores e situações complicadas, descobrindo histórias antigas e segredos escondidos, que justificam e explicam comportamentos que à partida deveriam ser diferentes, fazendo com que “maus” e “bons” troquem de lugar – embora em abono da verdade seja necessário esclarecer que os animais em Blacksad (tal como os humanos que representam) são complexos e multifacetados. O próprio Blacksad, surge nesta história mais humanizado - com (um improvável) anjo da guarda (?) e tudo -, mais despido da sua aura de (falso) duro, revelando até um coração sensível no (algo inesperado) final.
A espera valeu a pena, também, porque Guarnido continua a deslumbrar-nos com o seu traço, as suas magníficas aguarelas, o dinamismo das vinhetas e pranchas, a qualidade dos pormenores, a planificação multifacetada e dinâmica, a belíssima e superior utilização da cor para definir ambientes e estados de espírito, a capacidade de nos surpreender pela forma como resolve algumas cenas… Querem exemplos de momentos que nos levam a perder-nos em contemplação e descoberta? Vejam o hiper-violento embate das pranchas 10 e 11, o (quase) bucólico encontro de Blacksad com Thomas Lachapelle, filho de Fasto, pontuado pelas sombras da folhagem envolvente (pp. 18-19), o ambiente místico da sessão espírita de Madame Gibraltar (pp. 28-29), a alegria esfusiante da festa carnavalesca (pp. 32-33)…
Curiosamente, se um dos trunfos dos primeiros álbuns era a associação das personagens às características do animal que as interpretava, esse efeito surge mais diluído nesta nova incursão pelo universo de Blacksad, talvez pela ausência da novidade, talvez pela maior consistência da história já referida que reduz a importância deste factor O que não quer dizer que o carneiro decadente (Fausto), o detective hipopótamo, o rafeiro (Sebastian), o cavalo drogado ou a chimpanzé Madame Gibraltar não cumpram com distinção neste aspecto, juntando-se com mérito a uma já notável galeria.
A reter
- A história, pela consistência e belo retrato da cena musical de Nova Orleães.
- A arte integral de Guarnido.
- O trabalho editorial das Edições ASA que garantiram a edição nacional (quase…) em simultâneo com a edição original francófona.
Menos conseguido
- A FNAC tem garantido com a ASA algumas edições com capa especial, inclusão de posters/reproduções (como acontece neste álbum) ou mesmo a venda exclusiva antecipada de alguns desses títulos. Por isso, não se percebe como algumas destas obras têm destaque reduzido nem tão pouco a sua mistura com as edições em língua francesa.
Me pergunto se o livro já chegou na FNAC de Braga... Espero que sim!
ResponderEliminarOlá, amigo!
ResponderEliminarSou um bedéfilo brasileiro e estou a caminho de Portugal nos próximos dias...
Procurei por este Blacksad no site da FNAC portuguesa mas não o encontrei. Gostaria de saber onde você adquiriu seu exemplar.
Obrigado pela atenção!
Victor e Carlos,
ResponderEliminarObrigado pela visita.
Este álbum deveria ter chegado à rede FNAC no dia 17 de Setembro, ou seja no mesmo dia em que foi lamçada a edição original em língua francesa. Um problema logístico atrasou a sua distribuição em Portugal. Aguardo informação da editora sobre a data em que estará (finalmente!) disponível.
Abraço aos dois!
A ASA acabou de me informar que este álbum começará a ser distribuído nas livrarias no próximo dia 7 de Outubro.
ResponderEliminarmuito obrigado pela informação, Pedro!
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