Hergé (argumento e desenho)
Edições ASA (Portugal, Setembro de 2010)
160 x 220 mm, 64 p., cor, cartonado
Resumo
Segundo tomo das aventuras de Tintin, leva o reporter até ao antigo Congo belga, sob o pretexto de escrever uma série de reportagens.
Desenvolvimento
1. A obra
Esta é uma das mais ingénuas narrativas de Tintin, sem grande fio condutor, que quase se limita a ser uma sucessão de gags – alguns bem conseguidos - que têm por tema o confronto com os inimigos de Tintin, caçadas a animais exóticos ou encontros com a população local. Apesar disso, é uma obra de uma grande legibilidade, que em termos narrativos visuais revela já todas as (muitas) qualidades de Hergé.
Revisitada hoje, quase oitenta anos depois da sua génese, revela-se bastante datada e tem que ser encarada como tal, como um documento da forma de pensar de uma época. E é assim que deve ser lida. E é assim que deve ser analisado e compreendido o olhar complacente e de alguma superioridade de Tintin em relação aos negros e a atitude subserviente destes em relação ao herói que reconhecem e admiram.
Por isso, as variadas acusações de racismo e os múltiplos processos de que está a ser alvo em tribunal, apenas podem significar uma de duas coisas: ignorância por parte dos seus autores, ou uma vontade desmesurada de se colocarem em bicos de pés à custa da obra de Hergé…
E o mesmo se poderá dizer das acusações de desrespeito pelos direitos dos animais (seja lá isso o que for), feitas por umas tantas pessoas e organizações com demasiado tempo livre, face às matanças – nalguns casos bem divertidas – que Tintin vai cometendo.
2. O formato
Se o traço de Hergé é suficientemente legível e expressivo para aguentar bem a redução de tamanho adoptado pela ASA para esta sua primeira edição de Tintin, próximo do comic americano ou do próprio livro, a verdade é que qualquer redução de tamanho é penalizadora para a completa fruição de uma obra gráfica. Reconhecendo diversas vantagens ao actual formato (a começar pelo preço), pessoalmente, prefiro o tamanho tradicional.
3. A tradução
Esta edição da ASA apresenta também uma nova tradução. Sendo um dos álbuns de Hergé com menos texto, se num ou noutro balão poderia haver opções mais felizes (nalguns casos utilizadas na anterior edição da Verbo) globalmente fiz a sua leitura sem que nada me chocasse ou soasse especialmente mal.
Edições ASA (Portugal, Setembro de 2010)
160 x 220 mm, 64 p., cor, cartonado
Resumo
Segundo tomo das aventuras de Tintin, leva o reporter até ao antigo Congo belga, sob o pretexto de escrever uma série de reportagens.
Desenvolvimento
1. A obra
Esta é uma das mais ingénuas narrativas de Tintin, sem grande fio condutor, que quase se limita a ser uma sucessão de gags – alguns bem conseguidos - que têm por tema o confronto com os inimigos de Tintin, caçadas a animais exóticos ou encontros com a população local. Apesar disso, é uma obra de uma grande legibilidade, que em termos narrativos visuais revela já todas as (muitas) qualidades de Hergé.
Revisitada hoje, quase oitenta anos depois da sua génese, revela-se bastante datada e tem que ser encarada como tal, como um documento da forma de pensar de uma época. E é assim que deve ser lida. E é assim que deve ser analisado e compreendido o olhar complacente e de alguma superioridade de Tintin em relação aos negros e a atitude subserviente destes em relação ao herói que reconhecem e admiram.
Por isso, as variadas acusações de racismo e os múltiplos processos de que está a ser alvo em tribunal, apenas podem significar uma de duas coisas: ignorância por parte dos seus autores, ou uma vontade desmesurada de se colocarem em bicos de pés à custa da obra de Hergé…
E o mesmo se poderá dizer das acusações de desrespeito pelos direitos dos animais (seja lá isso o que for), feitas por umas tantas pessoas e organizações com demasiado tempo livre, face às matanças – nalguns casos bem divertidas – que Tintin vai cometendo.
2. O formato
Se o traço de Hergé é suficientemente legível e expressivo para aguentar bem a redução de tamanho adoptado pela ASA para esta sua primeira edição de Tintin, próximo do comic americano ou do próprio livro, a verdade é que qualquer redução de tamanho é penalizadora para a completa fruição de uma obra gráfica. Reconhecendo diversas vantagens ao actual formato (a começar pelo preço), pessoalmente, prefiro o tamanho tradicional.
3. A tradução
Esta edição da ASA apresenta também uma nova tradução. Sendo um dos álbuns de Hergé com menos texto, se num ou noutro balão poderia haver opções mais felizes (nalguns casos utilizadas na anterior edição da Verbo) globalmente fiz a sua leitura sem que nada me chocasse ou soasse especialmente mal.
Concordo com a sua síntese.
ResponderEliminarUma nota apenas sobre os direitos dos animais: aquilo a que vulgarmente se chama "direitos dos animais" refere, quando muito, os direitos das pessoas que dizem gostar de animais. Como é evidente, os animais não possuem personalidade jurídica e, por consequência, não possuem direitos. Por isso mesmo, se um cidadão mal disposto ou com maus fígados pontapear o gato Tareco, o dono do Tareco pode intentar uma acção contra o pontapeador. Mas o Tareco propriamente dito não pode intentar acção nenhuma. O processo correrá entre o senhor Silva que o intentou contra o senhor Sousa, por exemplo. Não entre o Tareco e o senhor Sousa. O direito é do dono; não do animal que, pura e simplesmente, não tem direitos.
Uma edição em tamanho menor do que aquele para o qual foi pensada a obra pode ser um verdadeiro disparate, e é-o no caso do Tintin. E então a solução para os livros em papel sobreviverem é fazê-lo em tamanho mais pequeno? Não me parece. Por outro lado, há ainda este contraste: enquanto em França se está a publicar o Astérix em tamanho bastante maior do que sempre se fez, aqui (mas também noutros lados) publica-se o Tintin ao contrário. Mas qie ideia!
ResponderEliminarBem, tenho de pensar seriamente em fazer uma edição em tamanho de bolso de "Os Meninos Kin-Der"
Caro Funes,
ResponderEliminarConcordo consigo, claro. A referência aos direitos dos animais, foi apenas um desabafo de alguém saturado de ver como cada vez mais gente trata os animais melhor do que as pessoas...
Prezado Caldas,
Também acho que as obras devem ser publicadas no formato para o qual foram idealizadas. O que põe em causa não só a redução de formato mas, nalguns casos, também o aumento, que pode salientar defeitos e imperfeições do traço original.
Posto isto, se a redução é necessária para viabilizar edições - e vivemos sob o domínio do factor económico... - aceito-a dentro dos limites do razoável que, neste caso concreto, acho que não foram ultrapassados...
Abraço aos dois!
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminar"A referência aos direitos dos animais, foi apenas um desabafo de alguém saturado de ver como cada vez mais gente trata os animais melhor do que as pessoas.."
ResponderEliminarDesta vez, não sei se estou de acordo consigo.
A generalidade das pessoas que vejo a proclamar o seu amor aos animais não gosta dos animais. Gosta de si própria.
Gostar de animais e gostar da sua animalidade. Não é humanizá-los ou antropomorfizá-los. Ora o que eu vejo com frequência é gente a tratar os animais como se eles fossem seres humanos. Até uma reportagem eu já vi de um "casamento" canino no Brasil, em que o cão ia enfiado num fraque e a cadela num vestido de noiva.
Eu, que gosto de animais, chamo a isto tortura e violência.
Gostar de um cão é deixá-lo viver a sua canidade. Gostar de um gato é amar a sua felinidade. Em caso algum é querer humanizar cães e gatos.
Por isso, se alguém humaniza um cão e o leva ao cabeleireiro, e às massagens, e aos SPAs caninos, não está a tratar o bicho melhor do que as pessoas. Está a tratar mal o bicho, como, com toda a probabilidade, trata mal as pessoas.
Caro Funes,
ResponderEliminarConcordo globalmente consigo: os animais devem ser tratados como animais; sem crueldades mas também sem serem "humanizados".
E, explicando a minha ideia, referia-me à atenção desmedida e exagerada que muitos dão aos animais, mesmo em detrimento das pessoas, sejam elas mesmo familiares ou amigos.
Abraço!