Rivière (argumento)
Floc’h (desenho)
Meribérica/Líber (Portugal, 1986)
210 x 290 mm, 48 p., cor, brochado
1.
Este é o terceiro tomo da chamada Trilogia
Inglesa, que deu notoriedade a Rivière e Floc’h nos anos 1980, numa abordagem interessante
e conseguida ao romance policial tradicional de influência britânica, assentea numa boa reconstituição de época, num
registo linha clara depurada e luminosa, recheada de referências, pese embora
alguma rigidez das personagens.
2.
A título de curiosidade, refira-se que os dois
restantes tomos daquela trilogia, igualmente editados em português, são “O
Encontro em SevenOaks”, que privilegia um tom mais inquieto e próximo do terror,
e “O Dossier Harding”, que tem relações amorosas por pano de fundo.
3.
Na obra hoje em análise, o registo policial vai
a par do de espionagem, servindo o Titanic como cenário no qual o protagonista,
sir Francis Albany, procura no passado respostas para algumas questões que
desde sempre o inquietaram.
4.
Isto porque o seu pai, o tal sir Malcolm do
título, faleceu no naufrágio (injustamente?) acusado do roubo de uns documentos
secretos, sendo por isso perseguido por espiões alemães e ingleses, o que acaba
por levantar suspeições sobre muitos dos intervenientes.
5.
O relato decorre em ritmo lento, com as
perguntas a acumularem-se e as respostas a parecerem sempre incompletas e
insuficientes face às evidências que (aparentemente) se vão acumulando
6.
A isso há que acrescentar um toque fantástico
fornecido ao relato pelo facto de a investigação de Albany ser feita em sonhos,
num regresso ao passado e à trágica viagem que fez na companhia dos pais e da sua
prima Olívia, ambos então apenas crianças, curiosas e traquinas.
7.
A sua investigação corre a par do relato – já conhecido
– da viagem que levou ao naufrágio do Titanic, mas, apesar de ser bem sucedida
e de tudo se deslindar, acaba por ter um desfecho bem surpreendente, que obriga
a repensar tudo o que foi lido ou, pelo menos, a reinterpretá-lo à luz daquilo
que as pranchas finais revelam ao leitor.
Nota
Sobre
o mesmo tema ler também:
Muito interessante este revisitar de histórias em BD relacionadas, directa ou indirectamente, com o naufrágio do "Titanic", um dos temas que também me fascinam pela dimensão da tragédia... embora o filme de James Cameron não me tenha entusiasmado por aí além, apesar dos seus "rodriguinhos" e dos efeitos especiais para "encher o olho".
ResponderEliminarA título de curiosidade, porque provavelmente não o conhece, cito um curto episódio, mais documental do que outra coisa, mas com alguns apontamentos interessantes, publicado no velhinho Ciclone (anos 60, creio), com o título "O fim do Titanic" e que foi desenhado pelo artista italiano Antonio Sciotti. Veja, se o tiver, o nº 314.
Um abraço do
Jorge Magalhães
Caro Jorge Magalhães,
EliminarMais uma vez, obrigado pelo prazer da sua visita!
Achei que esta ligação da BD a um tema da actualidade era interessante e procurei abordagens diferentes e, de alguma forma, de fácil acesso, Por isso optei pelo formato álbum e não por narrativas curtas, que também há muitas.
E realmente não conheço a BD que refere, nem tenho esse número do Ciclone...
Boas leituras!
O meu primeiro contacto com o "Titanic" foi aos seis anos. A propósito de Deus e da omnipotência divina, havia uma referência ilustrada ao seu afundamento no "Catecismo" que servia de manual aos candidatos à primeira comunhão. «Este barco nem Deus o afundará» - teria dito um dos seus construtores, estando nessa frase blasfema a causa primeira do choque com o iceberg.
ResponderEliminarEntretanto, este post vai-me obrigar a ir ao baú dos arrumos procurar o meu exemplar da aventura de Sir Malcolm e, sobretuo o outro que é referido, “O Dossier Harding”. Não é uma história de amor toureiro com uma menina emocionalmente débil, passada no Languedoc? A minha memória remete-me para estas referências, mas tenho que ir procurar e reler.
Caro António Conceição,
EliminarAgradeço a visita e a partilha das suas memórias...
E estou satisfeito pelo facto de o meu texto lhe ter dado vontade de reler esses livros.
No entanto, O Dossier Harding - que também aproveitei para reler...! - passa-se entre Londres e Brickney e não está relacionado com toureiros... Não estará a fazer confusão com "A sombra do toureiro", de Didier Savard, também linha clara e igualmente editado em português pela Meribérica?
Boas (re)leituras... de livros que deixaram boas memórias!