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21/11/2023

Blake e Mortimer: A arte da guerra

Abrir hostilidades





Para aqueles que têm lamentado o mimetismo imposto aos sucessores de Edgar P. Jacobs, este livro assinado por Jean-Luc Fromental, José-Louis Bouquet e Floc'h poderá representar uma lufada de ar fresco mas, cuidado com o que desejam…

15/04/2012

Titanic (III) - À procura de Sir Malcolm













Rivière (argumento)
Floc’h (desenho)
Meribérica/Líber (Portugal, 1986)
210 x 290 mm, 48 p., cor, brochado


1.       Este é o terceiro tomo da chamada Trilogia Inglesa, que deu notoriedade a Rivière e Floc’h nos anos 1980, numa abordagem interessante e conseguida ao romance policial tradicional de influência britânica, assentea numa boa reconstituição de época, num registo linha clara depurada e luminosa, recheada de referências, pese embora alguma rigidez das personagens.
2.      A título de curiosidade, refira-se que os dois restantes tomos daquela trilogia, igualmente editados em português, são “O Encontro em SevenOaks”, que privilegia um tom mais inquieto e próximo do terror, e “O Dossier Harding”, que tem relações amorosas por pano de fundo.
3.      Na obra hoje em análise, o registo policial vai a par do de espionagem, servindo o Titanic como cenário no qual o protagonista, sir Francis Albany, procura no passado respostas para algumas questões que desde sempre o inquietaram.
4.      Isto porque o seu pai, o tal sir Malcolm do título, faleceu no naufrágio (injustamente?) acusado do roubo de uns documentos secretos, sendo por isso perseguido por espiões alemães e ingleses, o que acaba por levantar suspeições sobre muitos dos intervenientes.
5.      O relato decorre em ritmo lento, com as perguntas a acumularem-se e as respostas a parecerem sempre incompletas e insuficientes face às evidências que (aparentemente) se vão acumulando
6.      A isso há que acrescentar um toque fantástico fornecido ao relato pelo facto de a investigação de Albany ser feita em sonhos, num regresso ao passado e à trágica viagem que fez na companhia dos pais e da sua prima Olívia, ambos então apenas crianças, curiosas e traquinas.
7.      A sua investigação corre a par do relato – já conhecido – da viagem que levou ao naufrágio do Titanic, mas, apesar de ser bem sucedida e de tudo se deslindar, acaba por ter um desfecho bem surpreendente, que obriga a repensar tudo o que foi lido ou, pelo menos, a reinterpretá-lo à luz daquilo que as pranchas finais revelam ao leitor.

Nota
Sobre o mesmo tema ler também:

22/10/2009

Trois éclats blancs + Une après-midi d'été

Bruno Le Floc'h (argumento e desenho)
Delcourt (França, Outubro de 2004 e Maio de 2006)
203 x 262 mm, 96 p., cor, cartonado com sobrecapa


Princípio do século XX. Um jovem engenheiro é enviado para a (então) longínqua costa bretã para construir um farol. Tarefa aparentemente fácil, que um pormenor natural vai complicar e quase tornar impossível: o rochedo sobre o qual o farol deve ser construído, só está emerso uns trinta dias por ano. Por isso uma estadia previsivelmente curta, vê as semanas passarem a meses e estes a anos, o que obriga o engenheiro a integrar-se na pequena vila onde está a residir. Para isso, deve primeiro ultrapassar a natural desconfiança inicial dos autóctones, rudes e solitários, mas também humanos e solidários, depois impor-se para finalmente conseguir que o aceitem, fazendo mesmo algumas amizades, graças à sua perseverança em levar a bom porto a missão que lhe foi confiada. Isto, apesar de algumas tragédias – umas humanas, outras causadas pela natureza que parece rir da impotência humana - que vão suceder e de um ou dois desentendimentos, que, se de alguma forma põem em causa o projecto, ajudam o engenheiro a descobrir-se e, também, a revelar-se.
É isto que conta Trois éclats blancs (Delcourt), uma narrativa serena, impressiva, pincelada de nostalgia, que discorre sobre as relações humanas, aflorando sentimentos, revelando paixões, realçando traços de carácter, dando a primazia à amizade. Nele, o autor, Bruno Le Floc'h, vai desenvolvendo com um traço sensível e relaxante, voluntariamente impreciso, para nos conduzir até a um final inesperado, que, não fugindo ao previsível "acabar bem", deriva dele, deixando-o em aberto.
Alguns anos depois, reencontramos duas das personagens: um homem e uma mulher; Nonna e Perdrix. Duas personagens que se amaram, mas entre as quais um homem passou - o tal engenheiro do primeiro álbum - duas personagens entre as quais um grande fosso se cavou. Um fosso, ou melhor, uma trincheira. As trincheiras (e as suas consequências) da tristemente célebre guerra das trincheiras, a Primeira Guerra Mundial, que passou pelos dois, mantendo-os fiéis no seu amor, esperando-se reciprocamente. Mas cujos efeitos psicológicos destroçaram Nonna, mantendo-o prisioneiro das experiências que viveu, tornando-o incapaz de se dar, de se relacionar, de se entregar a Perdrix.
O traço é o mesmo, impressivo, expressivo, muitas vezes suficiente só por si para nos contar horrores de uma realidade que muitos viveram; onde muitos deixaram de viver. Literalmente, acabando com as suas dores neste mundo, ou em sentido figurado, como Nonna, continuando prisioneiro das suas dores interiores.

(Versão revista e actualizada do texto originalmente publicado no BDJornal #22 de Junho/Julho de 2007)
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