15/09/2012

Abelha Maia completa 100 anos

 
 
 
 
 
 
 
 
Há 100 anos, num país com pouca cor, nasceu um dia uma abelha. Conhecida pela amizade, a alegria e a bondade, era a pequena Abelha Maia.
 
Muitos recordarão a simpática personagem que encheu os sonhos de uma geração e relembraram nas frases acima o início do genérico da série animada transmitida pela RTP, cuja versão portuguesa, então muito trauteada, foi interpretada por Ágata e ToZé Brito.
A série de animação com as aventuras da Abelha Maia, uma co-produção do Japão, da Áustria e da Alemanha, datada de 1975, foi dirigida por Hiroshi Saito, sendo a definição gráfica das personagens do norte-americano Marty Murphy e a banda sonora, forte e animada, composta por Karel Svoboda.
 
 
Transmitida a partir de 1978 pela então única e todo-poderosa RTP, foi dobrada em português, contando com as vozes de Cármen Santos (que interpretava a protagonista), Canto e Castro (Flip) ou Irene Cruz (Willy).
Composta por 52 episódios, posteriormente editados em cassete-vídeo e, mais recentemente, em DVD, teria uma segunda temporada, datada de 1982, que também passou na RTP.
No entanto, se muitos a viram no ecrã televisivo, poucos saberão que a pequena abelha surgiu pela primeira vez em Setembro de 1912 – há um século, portanto – no livro "A Abelha Maia e as suas aventuras" (“Die Biene Maja und ihre Abenteuer”, no original), escrito para os filhos pelo escritor Waldemar Bonsels (1880-1952).
O único livro infantil deste alemão natural de Ahrensburg, autor de diversos romances e novelas, tem uma evidente conotação política, apresentando a colmeia como exemplo de uma bem organizada sociedade militarizada que se impõe pela força, com alguns traços de nacionalismo e de racismo para com outros insectos “inferiores”.
A protagonista é uma pequena abelha, Maia, que contrariamente às instruções da sua professora Cassandra, decide deixar a colmeia e conhecer mundo, sendo por isso expulsa. Aprisionada pelas vespas, toma conhecimento de um plano para atacar a sua colmeia, ficando dividida entre regressar para avisar as suas irmãs e ser castigada ou ignorar o que sabe. Acabará por tomar a decisão acertada, salvando a sua colmeia e tornando-se uma abelha adulta trabalhadora e responsável, numa analogia que defende o colectivismo em relação à individualidade de cada um.
Desfrutando de grande sucesso, até 1918, final da Primeira Guerra Mundial, o livro vendeu cerca de 90 mil exemplares, originando um filme realizado em 1924 pelo fotógrafo alemão Wolfram Junghans.
Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), a obra tornou-se famosa entre os soldados alemães na frente de batalha, o que a viria a tornar algo impopular nos anos seguintes devido à sua conotação com a ideologia nazi, o que não impediu que em 1954, dois anos após o falecimento do autor, atingisse a impressionante marca de um milhão de exemplares vendidos.
Aquela situação só seria revertida nos anos 70, com a série animada televisiva, mais ligeira e linear, na qual a protagonista se apresenta mais emancipada e reticente à autoridade, mas também uma abelha corajosa, divertida e curiosa, vivendo inúmeras aventuras em conjunto com Willy, o seu melhor amigo, o gafanhoto Flip, o escaravelho Kurt, a mosca Puca e a vilã de serviço, a aranha Tecla.
Dobrada em mais de 40 línguas, originou uma versão em banda desenhada produzida pelo editor alemão Bastei Verlag, colecções de cromos, livros ilustrados, figuras em pvc e outros artigos de merchandising.
Para assinalar o actual centenário, a televisão pública alemã ZDF está a produzir 78 novos episódios da "Abelha Maia", em animação 3D, que deverão estar prontos em 2013.
 
(Versão revista do texto publicado no Jornal de Notícias de 9 de Setembro de 2012)
 
 

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