22/09/2012

Mônica e Cebola vão dar o nó?

 
 
 
 
 








A notícia chegou há dias: Mônica e Cebolinha (aliás Cebola) vão dar o nó, depois de décadas de planos infalíveis e dolorosas coelhadas.
 
O feliz acontecimento terá lugar no nº 50 da revista Turma da Mônica Jovem, à venda em breve no Brasil (e seis meses depois em Portugal), mas dele apenas se conhece o “Convite de Casamento” da Mônica e do Cebola “para o dia mais feliz” das suas vidas e, até agora, ambos eram apenas adolescentes.
A exploração de uma realidade paralela, uma viagem ao futuro ou a emulação de um casal de heróis de outra série, poderão ser algumas das possibilidades exploradas pela história.

E se esta união já esteve próxima várias vezes, nas adaptações de clássicos da literatura e do cinema protagonizados pela Turma da Mônica, desta vez, possivelmente, também não passará do convite, sendo apenas um truque de marketing com o propósito de elevar as vendas da revista mais procurada das edições Maurício de Sousa, que narra as aventuras das versões adolescentes de Mônica, Cebolinha, Cascão ou Magali. O mesmo já aconteceu na edição nº34, quando, perante o declínio das vendas, os dois começaram a namorar, tendo a tiragem global desse número ultrapassado o meio milhão de exemplares.
 

O mesmo objectivo – melhorar as vendas – esteve na base de decisões de sinal contrário tomadas recentemente pela Marvel e a DC Comics. Esta última, na sequência do “reinício” da cronologia do seu universo, feito há cerca de um ano, para eliminar muitas das discrepâncias existentes e ajustá-lo à cronologia cinematográfica – pois os direitos para o cinema são, actualmente, a principal fonte de receitas das editoras de super-heróis - acaba de anunciar que o Super-Homem, que após 15 anos deixou de estar casado com Lois Lane, vai iniciar uma relação com a Mulher Maravilha (Wonder Woman). Ao longo dos anos, os dois super-heróis - que segundo muitos pareciam destinados um ao outro - tiveram breves relações mais do que uma vez e em realidades alternativas chegaram mesmo a gerar filhos, mas os seus caminhos acabaram sempre por se separar.
 
Na Marvel, o primeiro grande abalo sentimental ocorreu em 2008 e foi a separação de Peter Parker/Homem-Aranha e Mary Jane, cuja relação deixou de existir num passe de magia – que “apagou” mais de duas décadas de histórias - como resultado de um acordo com Mefisto, para salvar a vida da tia May, ferida num tiroteio.

O objectivo da Marvel era permitir uma maior identificação do seu público-alvo (adolescentes/jovens) com o super-herói aracnídeo.
O invulgar acontecimento, que levantou grande celeuma entre os fãs, teria uma explicação dois anos mais tarde, na história “Um momento no tempo”, agora disponível nos quiosques portugueses, na revista “Homem-Aranha” #121.
Nela, o relato actual é entrecortado com páginas da história de 1987 que narrava o casamento dos dois, para explicar (aos leitores mais antigos e descontentes) porque razão ele nunca chegou a existir… Pelo menos, até que interesses comerciais mais fortes obriguem a nova remodelação cronológica!
Ainda na Marvel, recentemente, Pantera Negra e Tempestade, cujo casamento tinha sido celebrado há 6 anos, também romperam, o que indicia um eventual regresso da super-heroína aos X-Men e um papel de maior preponderância em mais uma reformulação - Marvel Now! - anunciada para Outubro.
 

Se é verdade que todas estas mudanças têm em primeiro lugar motivações financeiras, não deixam também de ser um reflexo das metamorfoses experimentadas pela sociedade actual, o que explica, por exemplo, o primeiro casamento gay dos quadradinhos de super-heróis, entre o X-Men Estrela Polar e Kyle, que teve lugar há poucos meses.
Longe vai o tempo das relações estáveis e duradouras nos quadradinhos, como as personificadas pelo Príncipe Valente ou Thorgal, que casaram, constituíram família e – apesar de todas as aventuras, provações e peripécias – envelheceram juntos.
Já muitos outros, como o Fantasma, Mandrake e Martin Mystère ou mesmo o Super-Homem e o Homem-Aranha, tiveram noivas (que pareciam eternas) ao longo de décadas, até à “febre casamenteira” que, qual epidemia, afectou os quadradinhos a partir da década de 1970, levando ao altar bom número de heróis de papel até aí solteirões.
 
(Versão revista do texto publicado no Jornal de Notícias de 17 de Setembro de 2012)

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