A notícia
chegou há dias: Mônica e Cebolinha (aliás Cebola) vão dar o nó, depois de
décadas de planos infalíveis e dolorosas coelhadas.
O feliz
acontecimento terá lugar no nº 50 da revista Turma da Mônica Jovem, à venda em breve
no Brasil (e seis meses depois em Portugal), mas dele apenas se conhece o
“Convite de Casamento” da Mônica e do Cebola “para o dia mais feliz” das suas
vidas e, até agora, ambos eram apenas adolescentes.
A
exploração de uma realidade paralela, uma viagem ao futuro ou a emulação de um
casal de heróis de outra série, poderão ser algumas das possibilidades
exploradas pela história.
E se esta
união já esteve próxima várias vezes, nas adaptações de clássicos da literatura
e do cinema protagonizados pela Turma da Mônica, desta vez, possivelmente,
também não passará do convite, sendo apenas um truque de marketing com o
propósito de elevar as vendas da revista mais procurada das edições Maurício de
Sousa, que narra as aventuras das versões adolescentes de Mônica, Cebolinha,
Cascão ou Magali. O mesmo já aconteceu na edição nº34, quando, perante o
declínio das vendas, os dois começaram a namorar, tendo a tiragem global desse número
ultrapassado o meio milhão de exemplares.
O mesmo objectivo
– melhorar as vendas – esteve na base de decisões de sinal contrário tomadas
recentemente pela Marvel e a DC Comics. Esta última, na sequência do “reinício”
da cronologia do seu universo, feito há cerca de um ano, para eliminar muitas
das discrepâncias existentes e ajustá-lo à cronologia cinematográfica – pois os
direitos para o cinema são, actualmente, a principal fonte de receitas das
editoras de super-heróis - acaba de anunciar que o Super-Homem, que após 15
anos deixou de estar casado com Lois Lane, vai iniciar uma relação com a Mulher
Maravilha (Wonder Woman). Ao longo dos anos, os dois super-heróis - que segundo
muitos pareciam destinados um ao outro - tiveram breves relações mais do que
uma vez e em realidades alternativas chegaram mesmo a gerar filhos, mas os seus
caminhos acabaram sempre por se separar.
Na Marvel, o
primeiro grande abalo sentimental ocorreu em 2008 e foi a separação de Peter
Parker/Homem-Aranha e Mary Jane, cuja relação deixou de existir num passe de
magia – que “apagou” mais de duas décadas de histórias - como resultado de um
acordo com Mefisto, para salvar a vida da tia May, ferida num tiroteio.
O objectivo
da Marvel era permitir uma maior identificação do seu público-alvo
(adolescentes/jovens) com o super-herói aracnídeo.
O invulgar
acontecimento, que levantou grande celeuma entre os fãs, teria uma explicação
dois anos mais tarde, na história “Um momento no tempo”, agora disponível nos
quiosques portugueses, na revista “Homem-Aranha” #121.
Nela, o
relato actual é entrecortado com páginas da história de 1987 que narrava o
casamento dos dois, para explicar (aos leitores mais antigos e descontentes)
porque razão ele nunca chegou a existir… Pelo menos, até que interesses
comerciais mais fortes obriguem a nova remodelação cronológica!
Ainda na
Marvel, recentemente, Pantera Negra e Tempestade, cujo casamento tinha sido
celebrado há 6 anos, também romperam, o que indicia um eventual regresso da
super-heroína aos X-Men e um papel de maior preponderância em mais uma reformulação
- Marvel Now! - anunciada para Outubro.
Se é verdade
que todas estas mudanças têm em primeiro lugar motivações financeiras, não
deixam também de ser um reflexo das metamorfoses experimentadas pela sociedade
actual, o que explica, por exemplo, o primeiro casamento gay dos quadradinhos
de super-heróis, entre o X-Men Estrela Polar e Kyle, que teve lugar há poucos
meses.
Longe vai o
tempo das relações estáveis e duradouras nos quadradinhos, como as
personificadas pelo Príncipe Valente ou Thorgal, que casaram, constituíram
família e – apesar de todas as aventuras, provações e peripécias – envelheceram
juntos.
Já muitos
outros, como o Fantasma, Mandrake e Martin Mystère ou mesmo o Super-Homem e o
Homem-Aranha, tiveram noivas (que pareciam eternas) ao longo de décadas, até à
“febre casamenteira” que, qual epidemia, afectou os quadradinhos a partir da
década de 1970, levando ao altar bom número de heróis de papel até aí
solteirões.
(Versão revista do texto publicado no Jornal de Notícias de 17 de Setembro de 2012)
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