Chabouté
Vents d’Ouest (França, 19 de Setembro de 2012)
170 x 245 mm, 336 p., pb, brochado com badanas
1. Chabouté é um autor cuja carreira tenho
acompanhado com intermitência.
2.
Dele, admiro o preto e branco contrastado, sem
tons intermédios, de traço fino, preciso, expressivo, atento aos detalhes…
3.
… e a forma como combina ternura, desencanto e
crueldade em histórias (aparentemente) banais, que poderiam pertencer ao
quotidiano de muitos de nós.
4.
Desta vez, a sua proposta é um pouco diferente,
com a ternura – e algum humor – a sobreporem-se ao desencanto - ainda presente –
e à (quase ausente) crueldade.
5.
Diferença que se faz também sentir pela absoluta
ausência de texto escrito - de balões, portanto - o que torna desde logo distinta
a leitura – fundamentalmente contemplativa - deste grosso romance gráfico de
mais de 300 pranchas, cujo ritmo é o leitor que determina, pois a composição das
prancha, (enganadoramente) monótona, em que predominam, com raras excepções, as
tiras horizontais de vinheta única, propíciam que os olhos se demorem numa “leitura”
absorvente e mais completa.
6.
Pranchas essas que nos mostram, qual palco
teatral, praticamente sempre o mesmo cenário…
7.
… alterado apenas pelas mudanças entre o dia e a
noite ou pelos sinais da passagem das sucessivas estações do ano.
9.
Um palco teatral que reproduz um recanto de um
jardim, onde apenas existe, junto a uma árvore, um banco feito de madeira e ferro.
10. E,
o seu tema, que marca nova diferença, é a história do tal banco de jardim. Melhor,
as muitas histórias que se passam no curto espaço em torno do banco de jardim.
11.
Um banco que se revela como local de passagem,
descanso, reflexão, sonho, desilusão, paixão, trabalho, dormida…
12. …
e por onde vão passando um casal de adolescentes, um homem apressado, um casal
de velhinhos apaixonados, um sem-abrigo, um polícia, um trio de solteironas, um
músico de rua, um pai com um filhinho pequeno, uma jovem grávida…
13. Gente
anónima – igual a tanta gente com quem nos cruzamos quotidianamente – com
sonhos, ambições, problemas, anseios, desejos, medos, rotinas, frustrações,
alegrias…, cujas histórias, só afloradas por Chabouté com ternura, de forma contida e púdica, todos nós
iremos imaginar.
14. À
nossa maneira, segundo os nossos condicionamentos – e esse é o maior trunfo
desta obra: a grande liberdade (criativa/interpretativa) concedida ao leitor, à
sua imaginação.
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