02/11/2012

Entrevista com Cyril Pedrosa


"Este livro ajudou a mudar muita coisa na minha vida"









Depois do texto que publiquei aqui no blog aquando da edição original de "Portugal" e do que fiz sobre esta obra para o catálogo do 23º AmadoraBD 2012, não penso fazer uma terceira abordagem ao livro que a ASA acaba de editar em português – e cuja compra e leitura aconselho vivamente.
Entretanto como no sábado passado tive a oportunidade de conversar com o autor, Cyril Pedrosa, no AmadoraBD, fica o registo de algumas questões que lhe coloquei, como complemento da entrevista que fiz quando da edição original francófona de Portugal.

As Leituras do Pedro – O desenho, os materiais e o formato das pranchas originais, vão mudando ao longo do livro. Porquê?
Cyril Pedrosa – Em Portugal há três formas diferentes de desenhar, uma para cada capítulo, correspondente a cada um dos pontos de vista da história.
No primeiro, segundo Simon, fiz uns esquissos ligeiros que passei depois a caneta bic; de seguida empreguei a técnica de aguada para criar pranchas monocromáticas e mais sombrias.
No segundo capitulo, segundo Jean, o pai, há um grande trabalho de base a lápis, para dar um ar mais pesado, foi duro de desenhar…
Finalmente, no terceiro e último, segundo Abel, o avô, usei aguarela, numa técnica de cor directa, cores mais quentes e um desenho muito livre…
Isso teve a ver com a evolução da personagem principal, com a forma como ele vai mudando; para o acompanhar, eu quis ter cada vez maior liberdade criativa.

ALP – Abel Mucha, o avô de Simon era espanhol. O seu também?
CP – Sim, o meu avô era espanhol; aliás, parte da minha família ainda se chama Pedrosa Muchacho. Esse era o nome de um rapaz que um dia foi trazido de Espanha por três cavaleiros que o deixaram numa aldeia perto da Figueira da Foz.
Quando descobri isto, achei perturbadora a coincidência com os três cavaleiros que surgem em Três Sombras [livro recém-editado pela Polvo em Portugal]...

ALP – A edição de Portugal, já traduzido em Itália, Alemanha e Holanda – e também de Três Sombras – em Portugal é importante para si?
CP – Sim, estou muito contente. O Três Sombras já era para ter sido publicado há alguns anos e na altura fiquei muito frustrado por a edição não se ter concretizado. Para mim é muito importante os meus livros serem editados em Portugal para que os meus familiares de cá e os meus amigos portugueses possam ver e ler o que eu faço.

ALP – Aquando da sua estadia em Portugal para preparar o livro, também esteve no CNBDI a pesquisar sobre a BD portuguesa…
CP – Eu tenho uma antologia sobre a banda desenhada feita em Portugal mas, como luso-descendente quis conhecer melhor a BD que se faz neste país com o qual sinto tantas afinidades.

ALP - No final de Portugal, Simon Mucha encontrou o seu caminho, o Cyril Pedrosa também?
CP – Sim. Este livro ajudou a mudar muita coisa na minha vida. Coloquei a mim próprio muitas questões, encontrei algumas respostas. Os livros não são uma forma de resolver problemas mas sim de dar respostas a perguntas.
Por outro lado, o sucesso do livro, que me surpreendeu pois via-o como uma obra muito pessoal com a qual os leitores teriam pouca afinidade, abre-me portas para abraçar projectos que de outra forma seria muito difícil.

ALP – Em que está a trabalhar agora?
CP – O momento de transição entre dois livros é muito complicado. Fazer um livro implica uma grande perda de energia, que depois é necessário recuperar. Para avançar tenho que saber as perguntas que vou colocar. Depois de o fazer, então posso seguir em frente para um novo livro. Possivelmente a minha próxima obra será sobre as relações entre os seres humanos e a vida em sociedade.












Portugal
Cyril Pedrosa
ASA (Portugal, Outubro de 2012)
235 x 330 mm, 272 p., cor, cartonado
35,90 €

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