"Este livro ajudou a mudar muita coisa na minha vida"
Depois do
texto que publiquei aqui no blog aquando da edição original de "Portugal" e do que fiz sobre esta obra para o catálogo do 23º AmadoraBD 2012, não penso
fazer uma terceira abordagem ao livro que a ASA acaba de editar em português –
e cuja compra e leitura aconselho vivamente.
Entretanto
como no sábado passado tive a oportunidade de conversar com o autor, Cyril
Pedrosa, no AmadoraBD, fica o registo de algumas questões que lhe coloquei, como
complemento da entrevista que fiz quando da edição original francófona de Portugal.
As Leituras do Pedro – O desenho, os
materiais e o formato das pranchas originais, vão mudando ao longo do livro.
Porquê?
Cyril Pedrosa – Em Portugal há três
formas diferentes de desenhar, uma para cada capítulo, correspondente a cada um
dos pontos de vista da história.
No primeiro,
segundo Simon, fiz uns esquissos ligeiros que passei depois a caneta bic; de
seguida empreguei a técnica de aguada para criar pranchas monocromáticas e mais
sombrias.
No segundo
capitulo, segundo Jean, o pai, há um grande trabalho de base a lápis, para dar
um ar mais pesado, foi duro de desenhar…
Finalmente,
no terceiro e último, segundo Abel, o avô, usei aguarela, numa técnica de cor
directa, cores mais quentes e um desenho muito livre…
Isso teve a
ver com a evolução da personagem principal, com a forma como ele vai mudando;
para o acompanhar, eu quis ter cada vez maior liberdade criativa.
ALP – Abel Mucha, o avô de Simon era
espanhol. O seu também?
CP – Sim, o meu avô era espanhol;
aliás, parte da minha família ainda se chama Pedrosa Muchacho. Esse era o nome
de um rapaz que um dia foi trazido de Espanha por três cavaleiros que o
deixaram numa aldeia perto da Figueira da Foz.
Quando
descobri isto, achei perturbadora a coincidência com os três cavaleiros que
surgem em Três Sombras [livro recém-editado pela Polvo em Portugal]...
ALP – A edição de Portugal, já traduzido em
Itália, Alemanha e Holanda – e também de Três Sombras – em Portugal é
importante para si?
CP – Sim, estou muito contente. O Três
Sombras já era para ter sido publicado há alguns anos e na altura fiquei muito
frustrado por a edição não se ter concretizado. Para mim é muito importante os
meus livros serem editados em Portugal para que os meus familiares de cá e os
meus amigos portugueses possam ver e ler o que eu faço.
ALP – Aquando da sua estadia em Portugal
para preparar o livro, também esteve no CNBDI a pesquisar sobre a BD portuguesa…
CP – Eu tenho uma antologia sobre a
banda desenhada feita em Portugal mas, como luso-descendente quis conhecer
melhor a BD que se faz neste país com o qual sinto tantas afinidades.
ALP - No final de Portugal, Simon Mucha
encontrou o seu caminho, o Cyril Pedrosa também?
CP – Sim. Este livro ajudou a mudar
muita coisa na minha vida. Coloquei a mim próprio muitas questões, encontrei
algumas respostas. Os livros não são uma forma de resolver problemas mas sim de
dar respostas a perguntas.
Por outro
lado, o sucesso do livro, que me surpreendeu pois via-o como uma obra muito
pessoal com a qual os leitores teriam pouca afinidade, abre-me portas para abraçar
projectos que de outra forma seria muito difícil.
ALP – Em que está a trabalhar agora?
CP – O momento de transição entre dois
livros é muito complicado. Fazer um livro implica uma grande perda de energia,
que depois é necessário recuperar. Para avançar tenho que saber as perguntas
que vou colocar. Depois de o fazer, então posso seguir em frente para um novo
livro. Possivelmente a minha próxima obra será sobre as relações entre os seres
humanos e a vida em sociedade.
Portugal
Cyril Pedrosa
ASA (Portugal,
Outubro de 2012)
235 x 330 mm, 272 p.,
cor, cartonado
35,90 €
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