Cyril
Pedrosa
Polvo
(Portugal, Outubro de 2012)
165
x 230 mm, 270 p., pb, brochado com badanas
17,00
€
Esta é uma obra ao mesmo tempo terna e chocante, cativante e
incómoda, doce e angustiante.
E sobre a qual é impossível escrever sem revelar o que está
na sua génese, embora isso retire ao leitor a possibilidade d(ess)a descoberta.
Por isso, se desejarem, parem por aqui a leitura deste texto e vão à procura
deste “Três sombras”, uma das mais aconselháveis bandas desenhadas editadas em
Portugal neste (fim de) ano.
Na origem deste livro está uma das mais chocantes e
incompreensíveis situações que um ser humano pode experimentar: a perda de um
filho pequeno devido a doença. Vivida por um casal amigo de Cyril Pedrosa,
empurrou-o a descrevê-la aos quadradinhos como catarse e libertação.
E Pedrosa fê-lo - num preto e branco de traço fino, solto e
muitas vezes impreciso, dinâmico e expressivo, vivo e singular, bem distante do
abundante colorido de Portugal - de forma terna, comovente, simbólica,
metafórica, onírica e maravilhosa, transformando numa fuga (literal) do
inevitável o que na vida real prende e imobiliza.
Por isso, em Três sombras, o pequeno Joaquim, que vive
despreocupado com os pais, quando três cavaleiros inquietantes começam a rondar
o seu lar, é levado pelo progenitor para o mais longe possível, numa viagem
singular mas perigosa, durante a qual, para o conservar, o pai experimenta
tudo, despoja-se de tudo e (quase) de si mesmo, dá-se completamente, arrisca
tudo – até a sua própria identidade e a relação conjugal – a família… - que se
revelará finalmente o porto de abrigo, o único local de conforto.
Ode ao amor paternal, retrato maravilhoso da infância –
desfrute-se da primeira vintena de pranchas, da harmonia e felicidade familiar
que emanam (tal como as últimas) – Três sombras é uma obra profundamente
humana, de início enganador que apenas torna mais densa a tragédia, mas também
um hino de esperança e de louvor da vida, que deve ser vivida de forma intensa,
numa dádiva diária para ser desfrutada plenamente.
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