Como é difícil (re)escrever sobre obras com a importância e
a dimensão de Maus!
Fica de seguida a minha leitura – actual - como convite para
os que ainda não conhecem este livro fundamental.
Maus é a história
de Vladek Spigelman, judeu polaco sobrevivente da perseguição nazi e do campo
de concentração de Auschewitz.
É a narrativa, pormenorizada, crua, incómoda, do que passou,
do que sofreu, dos que perdeu, do que teve de fazer – roubar, mentir, ignorar,
matar… - para sobreviver.
É o relato dos acontecimentos terríveis que marcaram a II
Guerra Mundial e também das marcas que deixaram no (agora) ancião. Que o
tornaram desconfiado e sovina, mal-humorado e (tantas vezes) intratável, que
fizeram dele um solitário necessitado de companhia que não consegue estimar.
Maus é a história
da criação do próprio livro, através dos encontros/entrevistas que o seu
criador, Art Spiegelman, teve com o sue pai, Vladek. E, da forma como os dois
homens, pai e filho, nunca foram capazes de se compreender – nem de se aceitar?
– nas suas diferenças e afinidades. Tem, por isso, por base, uma relação
conflituosa, assente em incompreensão mútua, em choques e provocações
constantes.
É a história da criação – ao longo de 13 anos - de uma obra
atormentada e sofrida, motivada pelo peso das memórias de um, pela necessidade
de afirmação do outro, pela tentativa mútua – mais forte em Art – de através
dela chegar ao pai.
Maus é, ainda e
também, um dos primeiros romances gráficos de sempre, distinguido com um Prémio
Pulitzer – o único até hoje atribuído a uma banda desenhada.
Na forma, é uma história a preto e branco, de traço legível
mas pouco atraente – onde o que se conta pesa mais do que a forma como é
contado… Uma história protagonizada por animais antropomórficos – os judeus são
ratos, os nazis gatos, os polacos porcos… - que de alguma forma assumem
características e, mais do que isso os papéis, que as diferentes nacionalidades
tiveram no conflito e na perseguição aos judeus.
É uma obra que abriu portas, quebrou barreiras, renovou
perspectivas, provocou polémicas.
Maus, finalmente,
é muito mais do que aqui fica escrito. É uma obra notável que é fundamental
(re)descobrir.
Termino com algumas palavras sobre a actual edição
portuguesa, cujo primeiro ponto positivo é o facto de reunir os dois tomos
originais: O meu pai sangra História
e E aqui começaram os meus problemas…
Pena é que o momento não tenha sido aproveitado para incluir
também um texto introdutório que narrasse a génese da obra e explicasse a sua
importância aos novos leitores a quem se dirige.
Positiva igualmente – e muito – é a tradução, que teve o
cuidado de transpor para o português os erros de dicção de inglês de Vladek,
chegado tardiamente aos Estados Unidos – como aqui se explica. O que provoca
estranheza na leitura das primeiras páginas mas se torna depois natural para o
leitor.
Maus
A história de um sobrevivente
Art Spiegelman (argumento e desenho)
Bertrand Editora
Portugal, Maio de 2014
149 x 235 mm, 296 p., pb, capa mole com badanas, 17,70 €
Sem comentários:
Enviar um comentário