24/07/2014

Maus














Como é difícil (re)escrever sobre obras com a importância e a dimensão de Maus!
Fica de seguida a minha leitura – actual - como convite para os que ainda não conhecem este livro fundamental.


Maus é a história de Vladek Spigelman, judeu polaco sobrevivente da perseguição nazi e do campo de concentração de Auschewitz.
É a narrativa, pormenorizada, crua, incómoda, do que passou, do que sofreu, dos que perdeu, do que teve de fazer – roubar, mentir, ignorar, matar… - para sobreviver.
É o relato dos acontecimentos terríveis que marcaram a II Guerra Mundial e também das marcas que deixaram no (agora) ancião. Que o tornaram desconfiado e sovina, mal-humorado e (tantas vezes) intratável, que fizeram dele um solitário necessitado de companhia que não consegue estimar.

Maus é a história da criação do próprio livro, através dos encontros/entrevistas que o seu criador, Art Spiegelman, teve com o sue pai, Vladek. E, da forma como os dois homens, pai e filho, nunca foram capazes de se compreender – nem de se aceitar? – nas suas diferenças e afinidades. Tem, por isso, por base, uma relação conflituosa, assente em incompreensão mútua, em choques e provocações constantes.
É a história da criação – ao longo de 13 anos - de uma obra atormentada e sofrida, motivada pelo peso das memórias de um, pela necessidade de afirmação do outro, pela tentativa mútua – mais forte em Art – de através dela chegar ao pai.

Maus é, ainda e também, um dos primeiros romances gráficos de sempre, distinguido com um Prémio Pulitzer – o único até hoje atribuído a uma banda desenhada.
Na forma, é uma história a preto e branco, de traço legível mas pouco atraente – onde o que se conta pesa mais do que a forma como é contado… Uma história protagonizada por animais antropomórficos – os judeus são ratos, os nazis gatos, os polacos porcos… - que de alguma forma assumem características e, mais do que isso os papéis, que as diferentes nacionalidades tiveram no conflito e na perseguição aos judeus.
É uma obra que abriu portas, quebrou barreiras, renovou perspectivas, provocou polémicas.

Maus, finalmente, é muito mais do que aqui fica escrito. É uma obra notável que é fundamental (re)descobrir.

Termino com algumas palavras sobre a actual edição portuguesa, cujo primeiro ponto positivo é o facto de reunir os dois tomos originais: O meu pai sangra História e E aqui começaram os meus problemas…
Pena é que o momento não tenha sido aproveitado para incluir também um texto introdutório que narrasse a génese da obra e explicasse a sua importância aos novos leitores a quem se dirige.
Positiva igualmente – e muito – é a tradução, que teve o cuidado de transpor para o português os erros de dicção de inglês de Vladek, chegado tardiamente aos Estados Unidos – como aqui se explica. O que provoca estranheza na leitura das primeiras páginas mas se torna depois natural para o leitor.

Maus
A história de um sobrevivente
Art Spiegelman (argumento e desenho)
Bertrand Editora
Portugal, Maio de 2014
149 x 235 mm, 296 p., pb, capa mole com badanas, 17,70 €

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