28/01/2015

A Viagem do Elefante













Foi – de alguma forma continua a ser – o álbum de banda desenhada mais mediático – interpretem com peso, conta e medida este adjectivo - lançado no nosso país em 2014.
Justifica-se? Continuem a ler.


Justifica-se pela coragem de levar a cabo uma adaptação de Saramago, um autor que está longe de ser fácil ou até consensual. E pela coragem de se ter partido do nada, pois o apoio da fundação que tem o seu nome, só surgiu com a obra já avançada – e é sem dúvida significativo. E o mediatismo alcançado - obviamente... - vem da ligação a Saramago.

De qualquer forma, é bom que haja edições assim, que dão (alguma) visibilidade à banda desenhada – e à banda desenhada feita em Portugal – no nosso país. E se noutras paragens está outra vez na moda a adaptação de obras literárias em BD, porque haveríamos nós de ficar de fora, até porque elas permitem chegar a leitores que geralmente lhe passam ao lado.
A história, é conhecida: narra a viagem de um elefante, de Lisboa a Viena, oferecido por D. João III ao seu primo, o arquiduque Maximiliano da Áustria, e as diversas histórias paralelas que a deslocação e os diversos relacionamentos foram originando.
Claro que o álbum tem limitações. Quando olhamos para a arte de João Amaral, vamos descobrindo sucessivas limitações – já (re)conhecidas – e oscilações ao nível do tratamento da figura humana e do detalhar dos rostos…
E há também a legendagem, mecânica, pesada e impessoal. Menos-valia no conjunto das pranchas que apresentam uma planificação bastante diversificada e aqui e ali até bastante bem conseguida.
Nota positiva para a inclusão de Saramago como narrador da obra - embora falte no livro a explicação para o percurso paralelo do escritor e do animal, que João Amaral forneceu nesta entrevista – e para o facto do autor ter conseguido criar uma obra aos quadradinhos, que se aguenta enquanto tal, segundo as regras do género.
Fiel ao original, mantendo o seu espírito? Não sei responder, ainda não li o romance de Saramago. Mas, na sequência da leitura da BD, A Viagem do Elefante, de José Saramago, vai ser uma das minhas próximas leituras. Pela curiosidade e para aquilatar da fidelidade.
E, dessa forma, cumpre-se  - no meu caso, mas acredito que haverá mais... - um dos propósitos que João Amaral tinha quando avançou para esta empreitada que durou dois anos e meio: “conseguir que a banda desenhada traga novos leitores para o romance”.


A Viagem do Elefante
Baseado no Romance de José Saramago
João Amaral
Porto Editora
Portugal, Dezembro de 2014
195 x 260 mm, 124 p., cor, cartonado
19,90 €

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