Foi – de alguma forma continua a ser – o álbum de banda
desenhada mais mediático – interpretem com peso, conta e medida este adjectivo
- lançado no nosso país em 2014.
Justifica-se? Continuem a ler.
Justifica-se pela coragem de levar a cabo uma adaptação de
Saramago, um autor que está longe de ser fácil ou até consensual. E pela
coragem de se ter partido do nada, pois o apoio da fundação que tem o seu nome,
só surgiu com a obra já avançada – e é sem dúvida significativo. E o mediatismo
alcançado - obviamente... - vem da ligação a Saramago.
De qualquer forma, é bom que haja edições assim, que dão
(alguma) visibilidade à banda desenhada – e à banda desenhada feita em Portugal
– no nosso país. E se noutras paragens está outra vez na moda a adaptação de
obras literárias em BD, porque haveríamos nós de ficar de fora, até porque elas
permitem chegar a leitores que geralmente lhe passam ao lado.
A história, é conhecida: narra a viagem de um elefante, de Lisboa a Viena, oferecido por D. João III ao seu primo, o arquiduque Maximiliano da Áustria, e as diversas histórias paralelas que a deslocação e os diversos relacionamentos foram originando.
Claro que o álbum tem limitações. Quando olhamos para a arte
de João Amaral, vamos descobrindo sucessivas limitações – já (re)conhecidas – e
oscilações ao nível do tratamento da figura humana e do detalhar dos rostos…
E há também a legendagem, mecânica, pesada e impessoal.
Menos-valia no conjunto das pranchas que apresentam uma planificação bastante
diversificada e aqui e ali até bastante bem conseguida.
Nota positiva para a inclusão de Saramago como narrador da obra
- embora falte no livro a explicação para o percurso paralelo do escritor e do
animal, que João Amaral forneceu nesta
entrevista – e para o facto do autor ter conseguido criar uma obra aos
quadradinhos, que se aguenta enquanto tal, segundo as regras do género.
Fiel ao original, mantendo o seu espírito? Não sei
responder, ainda não li o romance de Saramago. Mas, na sequência da leitura da
BD, A Viagem do Elefante, de José
Saramago, vai ser uma das minhas próximas leituras. Pela curiosidade e para
aquilatar da fidelidade.
E, dessa forma, cumpre-se - no meu caso, mas acredito que haverá mais... - um dos propósitos que João Amaral tinha
quando avançou para esta empreitada que durou dois anos e meio: “conseguir
que a banda desenhada traga novos leitores para o romance”.
A Viagem do Elefante
Baseado no Romance de José Saramago
João Amaral
Porto Editora
Portugal, Dezembro de 2014
195 x 260 mm, 124 p., cor, cartonado
19,90 €
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