18/01/2015

Alack Sinner nasceu há 40 anos










Anos 1960, Nova Iorque, fim da noite. Um quarentão, de aspecto descuidado entra num bar, aproxima-se do balcão, bebe um copo e na jukebox põe a tocar “Cheryl Blues”, de Charlie ‘Bird’ Parker. Chamava-se Alack Sinner e estreava-se assim, há 40 anos, na revista italiana “Linus”.


A estreia aconteceu em "Il caso Webster", publicada na revista italiana Alterlinus, mas foi em Conversando con Joe que ficamos a conhecê-lo. Nela, narrava a Joe - barman e, por vezes, confidente – porque deixara a polícia - corrupta, violenta e corporativista – devido às suas convicções demasiado puras e utópicas, tornando-se detective particular.
Aos poucos, as histórias de tom policial foram assumindo um propósito claramente panfletário, para denunciar o racismo, a prepotência, a marginalização e o capital, que imperavam nos Estados Unidos que tantos viam como terra prometida de concretização de todos os sonhos.
Não por acaso, os seus criadores eram dois argentinos, Carlos Sampayo (1943-), o argumentista, e José Muñoz (1942-), o desenhador, de alguma forma fugidos da Argentina e da sua ditadura, em busca de um local onde pudessem contar as suas histórias em liberdade. Dois autores que o acaso reuniu em Espanha e que formaram uma das duplas mais consistentes e interessantes da banda desenhada das décadas de 1980/90, por vezes personagens nas suas próprias criações.
As histórias duras e cruas de Sampayo, assentes num retrato realista do quotidiano, encontram no preto e branco agreste e contrastante de Muñoz, progressivamente mais estilizado, o suporte e o veículo ideal para transmitirem a leitores ávidos de narrativas adultas e incómodas, das histórias policiais de tom mais negro que os quadradinhos já conheceram.
Se Alack Sinner nasceu na “Linus”, foi na “(À Suivre)” que se tornou uma referência, com quem os leitores se têm podido encontrar, de forma intermitente, ao longo dos anos.
Em Portugal, no entanto, Alack Sinner apareceu apenas no efémero “Lobo Mau”, em 1979, e igualmente no.... (ver comentário abaixo)

(Versão revista do texto publicado no Jornal de Notícias de 2 de Janeiro de 2015)

5 comentários:

  1. Uma das BD da minha vida...Pedro, não é verdade que só tenha sido publicado no Lobo Mau...

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    1. Tens razão, RC.

      A memória e as fontes por vezes fazem-nos destas traições... O Caso Filmore foi também editado na fase final do Mosquito (5.ª série).
      Descobriste-o em mais algum sítio?

      Boas leituras!

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    2. Desculpa-me a demora na resposta mas não conseguia fazê-lo no tablet. Não descobri, segui-a diariamente no meu Diário de Lisboa, onde também escrevia, no início da década de 80 :-)

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  2. Pedro,

    O Alack Sinner apareceu pela primeira vez na "alterlinus" com "Il caso Webster". A "Conversando con Joe" é já de 1978.

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    1. Olá André,
      Tens toda a razão, já fiz a correcção no texto....
      Obrigado pela leitura atenta.

      Boas leituras!

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