Anos 1960, Nova Iorque, fim da noite. Um quarentão, de
aspecto descuidado entra num bar, aproxima-se do balcão, bebe um copo e na
jukebox põe a tocar “Cheryl Blues”, de Charlie ‘Bird’ Parker. Chamava-se Alack
Sinner e estreava-se assim, há 40 anos, na revista italiana “Linus”.
A estreia aconteceu em "Il caso Webster", publicada na revista italiana Alterlinus, mas foi em Conversando con Joe que ficamos a conhecê-lo. Nela, narrava a Joe - barman e, por vezes, confidente – porque
deixara a polícia - corrupta, violenta e corporativista – devido às suas
convicções demasiado puras e utópicas, tornando-se detective particular.
Aos poucos, as histórias de tom policial foram assumindo um
propósito claramente panfletário, para denunciar o racismo, a prepotência, a
marginalização e o capital, que imperavam nos Estados Unidos que tantos viam
como terra prometida de concretização de todos os sonhos.
Não por acaso, os seus criadores eram dois argentinos,
Carlos Sampayo (1943-), o argumentista, e José Muñoz (1942-), o desenhador, de
alguma forma fugidos da Argentina e da sua ditadura, em busca de um local onde
pudessem contar as suas histórias em liberdade. Dois autores que o acaso reuniu
em Espanha e que formaram uma das duplas mais consistentes e interessantes da
banda desenhada das décadas de 1980/90, por vezes personagens nas suas próprias
criações.
As histórias duras e cruas de Sampayo, assentes num retrato
realista do quotidiano, encontram no preto e branco agreste e contrastante de
Muñoz, progressivamente mais estilizado, o suporte e o veículo ideal para transmitirem
a leitores ávidos de narrativas adultas e incómodas, das histórias policiais de
tom mais negro que os quadradinhos já conheceram.
Se Alack Sinner nasceu na “Linus”, foi na “(À Suivre)” que se
tornou uma referência, com quem os leitores se têm podido encontrar, de forma
intermitente, ao longo dos anos.
Em Portugal, no entanto, Alack Sinner apareceu apenas no
efémero “Lobo Mau”, em 1979, e igualmente no.... (ver comentário abaixo)
(Versão revista do texto publicado no Jornal de Notícias de
2 de Janeiro de 2015)
Uma das BD da minha vida...Pedro, não é verdade que só tenha sido publicado no Lobo Mau...
ResponderEliminarTens razão, RC.
EliminarA memória e as fontes por vezes fazem-nos destas traições... O Caso Filmore foi também editado na fase final do Mosquito (5.ª série).
Descobriste-o em mais algum sítio?
Boas leituras!
Desculpa-me a demora na resposta mas não conseguia fazê-lo no tablet. Não descobri, segui-a diariamente no meu Diário de Lisboa, onde também escrevia, no início da década de 80 :-)
EliminarPedro,
ResponderEliminarO Alack Sinner apareceu pela primeira vez na "alterlinus" com "Il caso Webster". A "Conversando con Joe" é já de 1978.
Olá André,
EliminarTens toda a razão, já fiz a correcção no texto....
Obrigado pela leitura atenta.
Boas leituras!