Em relação aos novos álbuns de Blake e Mortimer
pós-Jacobs, há duas correntes de opinião contrárias: os que os renegam à
partida, negando qualquer prolongamento da obra do mestre; os que os recebem de
braços abertos, por poderem reencontrar os seus heróis de eleição.
O equilíbrio estará algures numa posição
intermédia, mais próxima de um ou outro dos extremos, em função da qualidade
das obras apresentadas.
O mais recente - este O Bastão de Licurgo - revela-se um dos mais ambiciosos álbuns de
Blake e Mortimer apócrifos – se assim posso escrever. O resultado? Descubram já
a seguir.
A minha posição – já o escrevi várias vezes, de
diferentes maneiras, por aqui, está bem mais próxima da primeira do que da
segunda. Continuo a achar que a retoma de obras de cunho tão profundamente
clássico como Blake e Mortimer mereciam algum descanso e que o acrescentar de
novos títulos – mesmo quando inspirados - apenas serve para diluir a qualidade
do conjunto, despojando progressivamente os álbuns originais da sua aura
intemporal.
Li esta obra inicialmente na sua versão origina lno formato horizontal, correspondente a uma tira por página e reli-a na versão
portuguesa e a primeira impressão – pese tudo o que antes escrevi – até foi
positiva.
A ideia de criar uma aventura imediatamente
anterior a O Segredo do Espadão – a
(agora) trilogia com que Jacobs introduziu a sua dupla de heróis britânicos –
revelava-se bastante ambiciosa. Desde logo porque situava os heróis como
fundamentais para o desfecho da Segunda Guerra Mundial, ao mesmo tempo que
fazia a ligação entre esta e o terceiro conflito global provocado pela invasão mundial
levada a cabo pelo império amarelo, conforme narrada por Jacobs.
O tom de O
Bastão de Licurgo é decisivamente de espionagem, com a acção directa a
ocupar uma percentagem menor das páginas do livro, apesar do combate aéreo que
o inicia.
O Bastão de Licurgo |
O argumento de Sente acaba, no entanto, por
enfermar dos problemas que têm sido comuns às restantes abordagens a Blake e
Mortimer: a ficção-científica que Jacobs dominava, hoje em dia deixou de o ser
porque o que era narrado em termos futuros, agora é-o olhando para o passado;
alguns aspectos mais ingénuos – na forma, no estilo e nas opções gráficas e
narrativas – que caracterizavam a obra de Jacobs, hoje surgem datadas e
difíceis de aceitar – a forma como Blake passa tão depressa de piloto-aviador a
membro dos serviços secretos é apenas uma das mais gritantes…
O Segredo do Espadão III - SX1 contra-ataca |
A história é escorreita, tem tudo para agradar
aos fãs (actuais…) da série e até algumas ideias interessantes e bem
desenvolvidas que, inclusive, explicam mesmo algumas das opções ‘futuras’ de
Jacobs de forma consistente e coerente.
O lançar de diversas pontes para O Segredo do Espadão e a explicação de
algumas das suas sequências – algumas das quais ainda recordava, outras já
esquecidas - levou-me a uma nova (re)leitura desta obra, o que revelou um (aparente)
bom trabalho de casa por parte de Sente, que esmiuçou bem diversos aspectos que
contribuem para essa ligação, mas revelou também um erro crasso por parte do
argumentista.
Na verdade, quando a base secreta aliada está a
sofrer a acção de um traidor infiltrado – Olrik – a certa altura Blake
pergunta: “Olrik desapareceu???... “Heavens”! E se fosse ele?... Diz-me lá,
como é esse fulano? Alto?” (O Segredo do
Espadão III – SX1 contra-ataca, edição ASA/Público, p. 29). Algo que fazia
sentido aquando da criação da obra original mas que se torna muito estranho
quando neste O Bastão de Licurgo, Blake
e Olrik são apresentados e conversam mais do que uma vez…
Capa alternativa edição FNAC |
As aventuras de Blake e Mortimer
Segundo os personagens de Edgar P.Jacobs
O Bastão de Licurgo
Yves Sente (argumento)
André Juillard (desenho)
Étienne Schréder (arte-final cenários)
ASA
Portugal,
Novembro de 2014
240
x 310 mm, 64 p., cor, cartonado
15,90
€
Apenas uma nota negativa, numa obra competente e bem gizada: a traduçao é fraquita.
ResponderEliminarBasta tomar como exemplo a primeira página. Algo a rectificar pelos responsáveis da Asa.
Cumprimentos de um leitor fiel,
Rui Rodrigues
Li recentemente esta nova aventura, e tendo eu já os lidos todos achei também muito estranho a forma como Olrik entra na história,como sendo um perfeito desconhecido de Blake e Mortimer, quando neste mesmo livro e numa das páginas, Blake é felicitado pela sua actuação em "Santuário de Gondwana" e nesta aventura Olrik, Blake e Mortimer, já são velhos conhecidos de aventuras anteriores, e sendo este um seguimento do anterior fiquem sem perceber como de um para o outro deixam de se conhecer.
ResponderEliminarEntendi a ideia perfeitamente dos autores era dar um "inicio" ás aventuras das 3 personagens começando durante a II Guerra Mundial e fazer a ligação à triologia do Espadão, o que foi no meu ver muito bem conseguida, peca apenas por fazerem a ligaçao a aventuras anteriores onde como falei anteriormente já o nome do Coronel aparecia.
Abraços