Segundo a obra de Albert Camus
Li O Estrangeiro,
de Albert Camus, por volta dos 20 anos e foi um livro que na altura me marcou
bastante.
Tanto, que não me consegui libertar dessa memória para ler a
sua adaptação em banda desenhada por Jacques Ferrandez.
Da leitura do romance de Camus, retive como principal
impressão o total desprendimento – quase obsessivo - à vida por parte do
protagonista. Numa idade em que estava a despertar para a idade adulta, ainda
iludido e cheio de sonhos, a atitude diametralmente oposta de Mersault, o
protagonista, impressionou-me e fez-me pensar.
Possivelmente por isso, abordei a versão desenhada de
Ferrandez sem me conseguir desligar da leitura feita há tantos anos e à procura
dessa mesma imagem forte mas – talvez porque me faltava o desconhecimento da
trama que ocorria quando li o romance – não a senti com a mesma força, não me
causou a mesma impressão.
Defeito meu ou da obra? Inclino-me mais para a primeira
hipótese mas em consciência não consigo responder com clareza. Deixo a resposta
a outros leitores deste O Estrangeiro.
Isto não significa que não reconheça valor e interesse a
esta banda desenhada e até (?) a capacidade de marcar quem faça a sua leitura
sem conhecer o romance original.
Ferrandez, explana a narrativa de forma consistente,
apresentando, como Camus, Mersault como que espectador do seu próprio
quotidiano, desligado dele e completamente indiferente ao que vai acontecendo: a
morte da mãe, o alheamento durante o velório e o funeral, a relação distante e
impessoal com o patrão, os vizinhos ou mesmo a sua noiva (?) Marie, a frieza
com que abate um árabe ou o consequente julgamento.
Graficamente, se Ferrandez, sem deslumbrar, é um desenhador
competente, mostra um maior potencial quando troca o seu traço habitual pela
aplicação de cor directa em aguarela e deixa a vontade de ver um álbum todo
desenhado assim. As vinhetas em que ele utiliza este estilo, geralmente de foram
aberta e indefinida, ilustram paisagens (onde decorrem momentos da acção) da
sua Argélia natal – sempre presente na sua obra e daí também (?) a razão desta
adaptação – sendo patente uma implicação mais pessoal e íntima na sua execução.
O estrangeiro
Segundo a obra de Albert Camus
Jacques Ferrandez
Arcádia
Portugal, Outubro de 2014
210 x 288 mm, 136 p., cor, cartonado
ISBN: 978-989-28-0081-3
22,50€
Gosto muito do desenho e da utilização (tradicional) da cor do Ferrandez. Admito que seja uma memória nostálgica, inexplicável, mas é assim. A série Carnets d'Orient é muito boa, mas este não me atrai. Li o romance há alguns anos, não me marcou muito, não vou gastar 20 mocas numa adaptação meramente "competente". O Kongo do Tirabosco foi mesmo uma exceção :-)
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