Kong the King, uma
releitura do clássico cinematográfico King
Kong, mas com pressupostos e desfecho díspares, que marca a estreia a solo
de Osvaldo Medina, tal como Milagreiro, era um dos títulos portugueses
lançados no Amadora BD sobre que recaíam maior curiosidade e expectativas. Tal
como Milagreiro,
cumpriu-as se não as tiver mesmo superado.
E, o mínimo que se pode escrever sobre esta estreia, é que é
uma grande estreia. Não pelo tamanho do protagonista, obviamente. Não pela
dimensão da obra: uma novela gráfica, muda, com quase centena e meia de páginas
– contidas numa capa dura que ajuda a fazer deste livro um belo objecto e uma
bela edição. Sim, pela grandeza inerente ao tema, pela grandeza (interior) que
Kong ostenta, pela forma como Medina sai valorizado da experiência, adicionando
ao seu reconhecido talento gráfico, o de narrador equilibrado, competente e
capaz de surpreender.
Não que Kong the King
tenha uma grande história – e não entendam mal esta frase - não era essa com
certeza a intenção, mas sobre ela não me quero alongar muito para não destruir
as surpresas que se podem encontrar ao longo da leitura. De forma simplificada
e obviamente redutora, diria que ela narra a rodagem de um filme numa ilha selvagem
que proporciona a descoberta de um indígena gigante. Salvador por casualidade
da actriz estrela, é convencido a embarcar com a equipa cinematográfica, para cumprir
o seu sonho de conhecer uma grande cidade. Aí chegado, descobrirá rapidamente
que a admiração que lhe era votada, rapidamente descambou em interesse
oportunista e de herói a explorado vai uma distância curta.
Abandonado, solitário, sem amigos nem protectores, apesar
das ofertas que lhe são feitas – fama, glória, dinheiro, sexo… - terá de fazer
o seu caminho para tentar reencontrar a felicidade, a simplicidade de vida, o
canto dos ‘seus’ pássaros e… algo mais.
Mas, a contrastar com esta linearidade do enredo, apesar
disso coerente, equilibrado e cativante, está a excelência da narrativa
gráfica, com Osvaldo Medina, sem uma única palavra escrita, apenas com o
recurso ao seu traço, à diversidade de pontos de vista que utiliza, a uma
planificação tradicional mais dinâmica e suficientemente diversificada, a ser capaz
de gerir tempos, emoções, reflexão e acção, e a transmitir a mensagem que
deseja passar, proporcionando uma leitura que não se torna cansativa nem
maçadora e, uma vez terminada, convida a voltar atrás para mergulhar – de novo
– na obra e (re)descobrir (novos) pormenores.
Nota final
Não sei se o facto de se tratar de uma edição destinada também
aos mercados inglês e polaco fez diferença, mas Kong the King – tal como Tormenta,
A Agência de Viagens Leming ou O Baile (3.ª edição), para citar só algumas edições recentes - surge com uma bela capa
dura, que dá outra consistência e (bom) aspecto à edição. Quero acreditar – sem
grande dificuldade – que é fruto do trabalho feito com a BD portuguesa nos
últimos anos, especialmente pela Kingpin Books e pela Polvo, que lhe confere
hoje um estatuto maior e se traduz na existência de um mercado que reconhece a
sua qualidade e está por isso receptivo a edições (ainda) mais cuidadas.
Kong the King
Osvaldo Medina
Kingpin Books
Portugal, Outubro de 2015
202 x 276 cm,
144 p., tons sépia, capa dura.
ISBN:
978-989-8673-19-9
16,99 €
(Imagens cedidas por Osvaldo Medina)
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