15/12/2015

Batman Noir: Eduardo Risso










Introdução
Este volume compila as três (únicas) histórias de Batman da autoria da dupla Brian Azzarello/Eduardo Risso: Cicatrizes (publicada em Batman: Gotham Knights #8), Cidade Destroçada (Batman #620-#625) e Noite da Vingança (Flashpoint: Batman – Knight of Vengeance #1-#3).
E fá-lo da melhor forma: a preto e branco.

Desenvolvimento
As três histórias – à parte o belíssimo preto e branco contrastante e duro de Risso – têm em comum estarem mais próximas do registo policial negro do que da história tradicional de super-heróis – mesmo tendo em conta que o homem-morcego encontra/defronta alguns dos seus inimigos – Crocodilo, Scarface, Pinguim, Joker… - ou, mais exactamente, as suas versões (perfeitamente identificáveis) em forma de gangsters.

Passando à frente Cicatrizes, uma história curta sobre o que realmente é importante para um super-herói, surge Cidade Destroçada, a mais longa, o que lhe permite apresentar uma melhor e mais aprofundada caracterização da cidade e dos seus habitantes. Aliás, merece uma forte referência a forma como nela Azzarello caracteriza Gotham, transformando-a – sem a mudar! – num retrato duro do submundo do crime, dominada por ladrões, assassinos e gente a querer subir na vida sem muito trabalho nem consciência.
Entre a autêntica galeria de horrores que a co-protagonizam, ressalta a loucura de Arnold Mesker/Scarface, sendo impossível perceber se o primeiro é o ventríloquo por detrás do boneco, ou se é este o marionetista que puxa os cordéis… que bem pode ser uma perfeita alusão ao papel que Batman desempenha ao longo do relato.
Esta história tem como ponto de partida a procura de Angel Lupo, um bandido de segunda categoria que no decorrer de um assalto deixou um menino órfão. Devido à identificação imediata que Batman sente com ele, recordando, uma e outra vez, à exaustão – com ansiadas mas impossíveis variações – a perda traumática – tão traumática – que ele próprio sofreu muitos anos atrás num beco da sua cidade, situação que terá importância decisiva na resolução do caso, inicia uma perseguição implacável a Lupo, pisando ou ultrapassando mesmo os limites que a si próprio impôs.
Aliás, para além disso, na sua continuidade, Batman revela-se um fraco detective e um mau avaliador de caracteres, seguindo pistas erradas, perseguindo quem nada fez e deixando um rasto de violência e sangue que acaba por colocar em perigo não o culpado que merecia castigo mas inocentes que tiveram apenas o azar de se cruzar com o justiceiro mascarado, até ao final inesperado e violento que questiona, motivos, métodos e convicções e exibe despudorada e violentamente o lado mais negro de Gotham numa ‘constante e deprimente lembrança do potencial humano para o mal’.
O traço de Eduardo Risso revela-se o ideal para este registo, reforçando a aura de violência com que Azarello impregnou estes contos. Feito de contrastes – muitas vezes são as manchas de branco e negro que delimitam as figuras, (quase) sem qualquer (outro) tipo de traço, reforça o tom lúgubre das narrativas e apresenta uma curiosa dualidade, entre o registo quase caricatural utilizado em alguns cenários ou personagens, como o retrato duro, hiper-expressivo, anguloso e realisticamente chocante utilizado para Batman (bem próximo do de Miller em O Regresso do Cavaleiro das Trevas?) e para muitas das suas vítimas.

Se a fasquia já estava alta, a fechar o volume há Noite da Vingança, um autêntico achado - e uma história obrigatória - que tem como pressuposto que, no assalto aos Wayne, à saída do cinema, a vítima não fossem os pais e sim o filho.
Se isso não alterou (muito) a evolução da cidade, trocou as identidades dos habituais protagonistas: o pai, Thomas Wayne, gere um casino auxiliado pelo Pinguim e assumiu o lugar do justiceiro mascarado e, com a ajuda da polícia, privatizada, quase erradicou o crime de Gotham; Selina Kyle é a Oráculo; entre outras curiosidades, durante a investigação do rapto de duas crianças, o final, chocante e violento, desvenda a mais surpreendente e inesperada das mudanças introduzidas por Azzarello nesta Gotham - de uma realidade paralela? - a identidade do Joker…

A reter
- A oportunidade da edição, aproveitando a presença na Comic Con  Portugal 2015 de Risso e Azzarello. Parece algo óbvio, mas raramente aconteceu em Portugal. Recompensa: o facto de as cento e poucas cópias que foi possível levar para o evento terem esgotado ao início da tarde de sábado…
- A qualidade da edição, em capa dura, bom papel e impressão que realçam a excelência do preto e branco de Risso.
- Obviamente, a qualidade das histórias, com um Batman implacável, mais próximo do detective do que do super-herói, num registo bem próximo do policial negro.

Menos conseguido
- O facto de a edição ter sido distribuída com o jornal Público apenas no domingo, 6 de Dezembro, último dia da Comic Con. Não sei se a distribuição mais cedo (dois ou três dias) teria feito grande diferença em termos de vendas ou de presenças na Comic Con, mas teria permitido mais alguma publicidade. Tem como atenuantes o curtíssimo prazo que a equipa da Levoir teve para concretizar esta obra – o que abona muito a seu favor - e a necessidade de encontrar um dia em que o Público não tivesse outros lançamentos.

Batman Noir: Eduardo Risso
Brian Azzarello (argumento)
Eduardo Risso (desenho)
Levoir/Público
Portugal, 6 de Dezembro de 2015
175 x 265 mm, 216 p., pb, capa dura
11,99 €

4 comentários:

  1. Apenas uma correcção ao teu agradável (e elogioso para nós) texto: existe mais UMA história do Batman desenhada pelo Risso (e também com argumento do Azzarello), serializada numa série chamada Wednesday Comics, em formato jornal (grande!). Essa história está incluída na versão US de Batman Noir, que foi publicada num formato um pouco maior que o de comic. Mas mesmo num formato maior que o da edição da Levoir, que mantém o tradicional 17 x 26 das suas colecções de super-heróis, essa história era já quase ilegível, com os balões muito reduzidos em tamanho. Na nossa edição, teríamos perdido qualquer leitura, e teria sido um erro grande. por isso eliminámos esta história (que é curta, com 12 páginas) da edição portuguesa. Era impossível reproduzi-la bem. Esse facto é notado no prefácio de João Miguel Lameiras.

    Resta acrescentar que Broken City, Cidade Destroçada, foi editado em 2005 pela Devir em versão a cores, e quem tiver as duas versões poderá comparar o p/b e as cores!

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    1. Tens toda a razão, José Freitas.
      E ainda mais indesculpável é que li a introdução do João Miguel lameiras - como leio sempre - e até tenho a colecção completa dos Wednesday Comics, em formato jornal!

      Boas leituras!

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  2. "no domingo, 6 de Dezembro, último dia da Comic Con. "

    Sempre achei esse dia pessimo muitas bancas estou fechadas e depois so em bancas de Shopping(S)

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    1. Optimus,
      Não foi possível ter o livro pronto antes e o Público já tinha outros lançamentos, pelo que essa foi a única data disponível...

      Boas leituras!

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