07/09/2016

A reboque de Fogos e Murmúrio


Uma das principais características de uma colecção como a Novela Gráfica, que a Levoir e o Público têm disponibilizado ao longo das últimas semanas e até 22 de Setembro, é a sua heterogeneidade que, se não permite agradar a todos – longe disso – tem um leque de propostas capaz de atrair – de forma diferente, para títulos diferentes – leitores de um vasto espectro.
E, igualmente – mais do que isso até? – pela diversidade de propostas que apresenta, possui um enorme potencial de surpreender aqueles leitores que se atrevam a sair da sua ‘zona de conforto’.

Fogos e Murmúrio
Fogos e Murmúrio, é um dos exemplos mais evidentes disto na selecção de 2016 da colecção, especialmente porque é, prioritariamente, uma aposta gráfica de Mattoti, em especial na cor, inovadora aquando do seu lançamento na década de 1980, mas que hoje continua a apresentar potencial para desafiar e surpreender os leitores.
[Para mais podendo ser lidos em boas edições, em português ‘correctamente escrito”, a preços sem concorrência.]
Se não renego o que atrás escrevi, é evidente que, à partida, existem títulos fortes, ‘seguros’, que balizam e garantem o sucesso da iniciativa. V de Vingança, A Garagem Hermética e Valentina, pela sua importância histórica específica são três exemplos, a par dos livros de Taniguchi e Altarriba/Kim, fruto da boa aceitação que as suas obras – respectivamente O diário do meu pai e A arte de voar -  tiveram na colecção homónima de 2015. Presas Fáceis, pelo prestígio de Prado no nosso país, e Daytripper, de Gabriel Bá e Fabio Moon, pelos prémios e pelas boas críticas que o precederam, são outros títulos que podem ser associados a este grupo.
E são estes livros – com maiores tiragens logo à partida? – que permitem a aposta – mais arriscada – em obras igualmente de qualidade – ou com outras qualidades… - mas menos mediáticas.
Luna Park
A Dança das Andorinhas, Luna Park, Parque Chas ou este Fogos e Murmúrio – todos eles de leitura menos óbvia e/ou fácil, são exemplos que vale a pena espreitar – entenda-se ‘ler’ - , quanto mais não seja para depois poder dizer que se conhece e não se gostou. E porquê.
Sejam os motivos a falta (ou não) de argumento unificador em A Garagem Hermética, o ritmo excessivamente lento (ou não) de A Dança das Andorinhas, a importância (ou não) da ausência da cor em Luna Park, o excessivo envelhecimento (ou não) de Fax de Sarajevo, a poesia excessiva (ou não) em Fogos e Murmúrio, o hiato narrativo existente (ou não) em V de Vingança ou Parque Chas

Porque, inevitavelmente – na BD como noutras áreas – é da diversidade que vem a qualidade e é essa mesma diversidade que permite formar um gosto e estabelecer hierarquias e juízos de valor.

4 comentários:

  1. Anónimo8/9/16 10:32

    Não é fácil agradar a gregos e troianos, mas julgo que numa próxima edição de novelas gráficas, obras como o Ici Même, de Tardi, e o Colecionador, de Toppi, seriam boas apostas. Boas histórias, autores consagrados e lucro garantido.

    GP

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  2. O que o Pedro escreveu sintetiza perfeitamente o porquê de eu achar que as duas colecções novela gráfica são, pela quantidade, qualidade e variedade, a mais importante iniciativa editorial de bd em Portugal dos ultimos anos. Esperemos que continue com uma terceira.

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  3. Subscrevo inteiramente a opinião do Pedro, a colecção Novelas Gráficas tem sido repleta de boas surpresas. Apesar de haver um título ou outro que me agradaram menos tenho sido surpreendido quase semanalmente com grandes obras que outra forma poderia nunca conhecer. Embora já conhece-se alguns autores e algumas obras (Daytripper tenho a versão brasileira) esta é sem dúvida uma excelente colecção, o único mal é o espaço e o dinheiro, ambos começam a escassear.

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  4. Não tenho o tempo que gostaria de ter para ler tudo o que compro (e já só estou a flar de BD)
    Li o V assim que saiu e só este fim de semna li mais dois desta segunda série das NG.
    Daytripper e a Dança das Andorinhas.
    O Day foi agarrado devido a um post do Nuno Amado no seu blog onde fazia a sua apologia.
    As andorinhas derivam de eu ter gostado muito do Persepolis e este (mal ou bem) se enquadrar no mesmo tipo de registo.
    Excelentes os dois.
    Obrigado à Levoir.

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