14/11/2016

Os Cavaleiros do Céu











Eu e os Túnicas Azuis, história de um reencontro (feliz).
Li (2, 3, 4? volumes d’)os Túnicas Azuis, em meados da década de 1980, quando a Edinter os lançou. Os Cavaleiros do Céu poderá até ter sido um desses títulos mas, se for o caso, a verdade é que não guardei dele qualquer memória.
Depois, li Réquiem por um azul, na edição ASA de 2003, e acima de tudo surpreendeu-me que uma série humorística abordasse um tema tão delicado como o é a morte em combate.
Mais recentemente, o sucesso recorrente da serie em terras francófonas levou-me a comprar o primeiro volume da colecção integral, que me agradou francamente, embora os contornos temporais e históricos fossem ainda outros, como veremos mais à frente.
Por isso, a (re?)leitura de Os Cavaleiros do Céu teve (praticamente) todas as características de introdução à serie e de uma nova leitura.
O primeiro aspecto que quero destacar é a forma como Raoul Cauvin consegue abordar sobre o ponto de vista do humor um conflito sangrento que devastou um país e cujas consequências hoje, século e meio depois, ainda se fazem sentir. Apesar de no seu início esta ser uma série ambientada no velho oeste, em torno da guarnição de um forte em território índio, com a sua evolução passou a ter como cenário os conflitos que tiveram lugar durante a Guerra Civil norte-americana, ou Guerra da Secessão, situando alguns dos episódios em momentos reais, partindo de situações que existiram para desenvolver outros e incluindo pontualmente na sua galeria personagens históricos como os generais Ulysses S. Grant e Robert Lee ou o presidente Abraham Lincoln.
Os protagonistas são dois soldados do Norte (que defendia a abolição da escravatura), o sargento Chesterfield, militarista convicto disposto a dar tudo pela sua bandeira, e o cabo Blutch, mais do que pacifista, um eterno preguiçoso, que se coloca sempre em primeiro lugar. É com base no confronto entre as suas posições, da predisposição recorrente de Chesterfield para participar nas mais arriscadas missões, e dos estratagemas constantes de Blutch para as torpedear, que são construídos boa parte dos argumentos.
Para além destes dois, há mais alguns elementos recorrentes, entre os quais o Capitão Stark, comandante do regimento de cavalaria que Chesterfield e Blutch integram, ou o general Alexander.
[Antes de entrar na análise do álbum propriamente dita, uma nota para a selecção de títulos, aparentemente caótica: segundo alguns conhecedores com quem falei e de acordo com tops da série de leitores disponíveis online, os álbuns escolhidos pela ASA estão quase todos entre os melhores da série e pertencem ao seu melhor período, o que me parece configurar uma justificação.]
Em Os Cavaleiros do Céu, oitavo tomo da série, com a cavalaria aniquilada e Stark capturado, há que poder antecipar os movimentos do inimigo e para isso Chesterfield e Blutch são colocados num aeróstato para do alto vigiarem as linhas inimigas.
Isso não é mais que um pretexto para Cauvin desenvolver uma série de situações nas quais explana o seu humor, seja ele na piada visual imediata, em anedotas com segundo nível de leitura, na crítica recorrente à instituição exército ou no recurso a alguns running gags bem conseguidos que fazem da leitura um momento divertido e de descontracção – e, sim, a banda desenhada também pode ter esse propósito.
O traço de Willy Lambil (que em 1972 substituiu o desenhador original Louis Salvérius, entretanto falecido, a tempo de concluir o quarto tomo da série) é solto, descontraído, dinâmico e utiliza diversos enquadramentos o que proporciona um bom ritmo à narrativa e um bom encadeamento das situações, pese embora o final algo abrupto.
Posto isto, reitero que, para mim, este foi um reencontro feliz com os Túnicas Azuis e que justifica um novo encontro com eles na próxima quarta-feira.

Os Túnicas Azuis
Volume #1 – Os Cavaleiros do Céu
Raoul Cauvin (argumento)
Willy Lambil (desenho)
ASA/Público
Portugal, 10 de Novembro de 2016
215 x 297 mm, 48 p., cor, capa dura
6,95 €

(pranchas da edição francesa disponibilizadas pela Dupuis; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)

5 comentários:

  1. partilho a mesma opinião: um doce reencontro.

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  2. Lio-o ontem. Como nunca os tinha visto, não foi um reencontro mas sim um encontro. E realmente, conseguio dárme algumas gargalhadas e sorrisos.

    Creio no entanto que a ASA deveria ter começado pelos números que fizessem a introdução das personagens e não por um album onde estas já estão estabelecidas....

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    1. Todos os albuns são "one shot". A propria cronologia original não tem qualquer critério. Há um album lá para o meio da série em francês que aborda como se alistaram portanto, entendo porque a asa acabou por fazer esta seleção. Este album foi o primeiro que li da serie quando tinha uns 7 ou 8 anos. É uma delicia :)

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    2. pc069,
      Desta vez sem visita ao SPAM! O Blogger está a aprender!
      E a série arranca, já com Blutch e Cherterfield incorporados no exército, por isso não há nenhum álbum introdutório...

      diogosr1,
      Esse álbum que referes, 0 18.º da cronologia geral, curiosamente será o último da ASA...

      Boas leituras!

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