Li (2, 3, 4? volumes d’)os Túnicas Azuis, em meados da
década de 1980, quando a Edinter os lançou. Os
Cavaleiros do Céu poderá até ter sido um desses títulos mas, se for o caso,
a verdade é que não guardei dele qualquer memória.
Depois, li Réquiem por
um azul, na edição ASA de 2003, e acima de tudo surpreendeu-me que uma
série humorística abordasse um tema tão delicado como o é a morte em combate.
Mais recentemente, o sucesso recorrente da serie em terras
francófonas levou-me a comprar o primeiro volume da
colecção integral, que me agradou francamente, embora os contornos
temporais e históricos fossem ainda outros, como veremos mais à frente.
Por isso, a (re?)leitura de Os Cavaleiros do Céu teve (praticamente) todas as características
de introdução à serie e de uma nova leitura.
O primeiro aspecto que quero destacar é a forma como Raoul
Cauvin consegue abordar sobre o ponto de vista do humor um conflito sangrento
que devastou um país e cujas consequências hoje, século e meio depois, ainda se
fazem sentir. Apesar de no seu início esta ser uma série ambientada no velho
oeste, em torno da guarnição de um forte em território índio, com a sua
evolução passou a ter como cenário os conflitos que tiveram lugar durante a
Guerra Civil norte-americana, ou Guerra da Secessão, situando alguns dos
episódios em momentos reais, partindo de situações que existiram para desenvolver
outros e incluindo pontualmente na sua galeria personagens históricos como os
generais Ulysses S. Grant e Robert Lee ou o presidente Abraham Lincoln.
Os protagonistas são dois soldados do Norte (que defendia a
abolição da escravatura), o sargento Chesterfield, militarista convicto
disposto a dar tudo pela sua bandeira, e o cabo Blutch, mais do que pacifista,
um eterno preguiçoso, que se coloca sempre em primeiro lugar. É com base no
confronto entre as suas posições, da predisposição recorrente de Chesterfield
para participar nas mais arriscadas missões, e dos estratagemas constantes de
Blutch para as torpedear, que são construídos boa parte dos argumentos.
Para além destes dois, há mais alguns elementos recorrentes,
entre os quais o Capitão Stark, comandante do regimento de cavalaria que
Chesterfield e Blutch integram, ou o general Alexander.
[Antes de entrar na
análise do álbum propriamente dita, uma nota para a selecção de títulos,
aparentemente caótica: segundo alguns conhecedores com quem falei e de acordo
com tops da série de leitores disponíveis online, os álbuns escolhidos pela ASA
estão quase todos entre os melhores da série e pertencem ao seu melhor período,
o que me parece configurar uma justificação.]
Em Os Cavaleiros do
Céu, oitavo tomo da série, com a cavalaria aniquilada e Stark capturado, há
que poder antecipar os movimentos do inimigo e para isso Chesterfield e Blutch
são colocados num aeróstato para do alto vigiarem as linhas inimigas.
Isso não é mais que um pretexto para Cauvin desenvolver uma série de situações nas quais explana o seu
humor, seja ele na piada visual imediata, em anedotas com segundo nível de
leitura, na crítica recorrente à instituição exército ou no recurso a alguns running gags bem conseguidos que fazem
da leitura um momento divertido e de descontracção – e, sim, a banda desenhada
também pode ter esse propósito.
O traço de Willy Lambil (que em 1972 substituiu o desenhador
original Louis Salvérius, entretanto falecido, a tempo de concluir o quarto
tomo da série) é solto, descontraído, dinâmico e utiliza diversos enquadramentos
o que proporciona um bom ritmo à narrativa e um bom encadeamento das situações,
pese embora o final algo abrupto.
Posto isto, reitero que, para mim, este foi um reencontro feliz
com os Túnicas Azuis e que justifica um novo encontro com eles na próxima
quarta-feira.
Volume #1 – Os Cavaleiros do Céu
Raoul Cauvin (argumento)
Willy Lambil (desenho)
ASA/Público
Portugal, 10 de Novembro de 2016
215 x 297 mm, 48 p., cor, capa dura
6,95 €
(pranchas da edição francesa disponibilizadas pela Dupuis;
clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)
partilho a mesma opinião: um doce reencontro.
ResponderEliminarEntão, continuação de... boas leituras!
EliminarLio-o ontem. Como nunca os tinha visto, não foi um reencontro mas sim um encontro. E realmente, conseguio dárme algumas gargalhadas e sorrisos.
ResponderEliminarCreio no entanto que a ASA deveria ter começado pelos números que fizessem a introdução das personagens e não por um album onde estas já estão estabelecidas....
Todos os albuns são "one shot". A propria cronologia original não tem qualquer critério. Há um album lá para o meio da série em francês que aborda como se alistaram portanto, entendo porque a asa acabou por fazer esta seleção. Este album foi o primeiro que li da serie quando tinha uns 7 ou 8 anos. É uma delicia :)
Eliminarpc069,
EliminarDesta vez sem visita ao SPAM! O Blogger está a aprender!
E a série arranca, já com Blutch e Cherterfield incorporados no exército, por isso não há nenhum álbum introdutório...
diogosr1,
Esse álbum que referes, 0 18.º da cronologia geral, curiosamente será o último da ASA...
Boas leituras!