No regresso a(o) Rio, 10 anos depois da acção do primeiro
volume, Dieu pour tous, Louise Garcia e Corentin Rouge traçam (ainda) mais negro o retrato
da ‘cidade maravilhosa’, acentuando os seus (muitos) contrastes.
Rubens e Nina vivem agora com o casal White, os americanos
que os acolheram. Ela assumiu por inteiro o novo estatuto, aproveitou-o,
desfruta da oportunidade, mas o irmão é um eterno revoltado, marcado pelo
passado, perseguido pelas memórias e pelo desejo de afrontar continuamente o
pai adoptivo e aqueles que lhe tentam agradar. Os que contribuem para que
outras crianças cresçam na miséria que ele experimentou.
Porque, o relato começa com a denúncia das ligações
próximas, perigosas e pouco legais, entre as ONG a operar no Brasil, como
aquela que John White dirige, supostamente para benefício dos habitantes, e o
poder local, consubstanciado na pessoa do governador Soares. Sempre com o
pairar da sombra do capitão Jonas, corrupto e sedento de sangue, cada vez mais
poderoso no interior do corpo policial.
Mas o destino fará com que os equilíbrios instáveis criados
se desmoronem e as tensões latentes expludam quando o rapto de Nina der origem
a um violento e sanguinário confronto entre traficantes locais, interessados
num maior controlo das favelas e dos negócios escuros que elas abrigam e a
força policial. E levará Rubens de volta ao local onde nasceu.
Num final dramático, que deixa pontas soltas para o terceiro
volume, mais uma vez, acima das histórias de Nina e Rubens, dos seus amigos e
dos seus encontros ocasionais, ressalta a acção das ONG e da polícia, o tráfico
de influências, dinheiro, droga e vidas humanas, a vida miserável e violenta
nas favelas, a opressão policial, num retrato duro do Rio de Janeiro, de que
recorrentemente nos chegam ecos nos noticiários, que confirmam o que (est)a
ficção aos quadradinhos nos mostra.
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