Um pouco por impulso, um pouco aproveitando (um)a
oportunidade, li, em cerca de 15 dias, a saga completa de Buddy Longway.
Conhecia(-lhe) (do Tintin,
da Bertrand, da Futura, do Mundo de
Aventuras, das Selecções Western,
da ASA…) o princípio e o álbum final, mas tinha várias lacunas na sua parte
intermédia e, para além de as preencher, esta leitura (realmente) integral,
permitiu-me constatar a unidade, e coerência da série e o seu equilíbrio
temático em torno de dois vectores principais: o amor familiar – do núcleo
Longway: Buddy, Chinnok, Jéremie e Kathleen, mas também de outras famílias com
quem se vai cruzando – e a ligação do protagonista com a natureza, que vai
crescendo ao longo dos álbuns.
Tudo comentado pelo autor, o suíço Derib (aliás Claude de Ribaupierre)
e por alguns dos seus pares, no dossier profusamente ilustrado que abre cada um
dos volumes e que, desta vez, se centra especialmente nas palavras do criador).
Como muitos saberão, esta é a história de um caçador de
peles, que após salvar uma índia escravizada por dois brancos acaba por casar
com ela e ter dois filhos: Jéremie e Kathleen.
A esta inovação temática – Buddy Longway nasceu no início da
década de 1970 na Tintin belga – junta-se
uma planificação também pouco usual, com vinhetas de pormenor ou grandes planos
a serem abertas sobre vinhetas grandes, de conjunto, o que transmite maior
dinamismo a uma narrativa cujo grafismo evolui notavelmente ao longo de uma
série em que a palavra escrita está reduzida ao mínimo indispensável, para
deixar ‘falar’ a natureza em si – as densas florestas, as planícies a perder de
vista, as montanhas íngremes, as imensidões cobertas de neve… - , os animais e
os seres humanos através da sua postura, acções, reacções, emoções e sentimentos.
É uma saga que se desenrola ao longo de uns 30 anos e que, a
par da vida dos Longway, acompanha também as mudanças que vão acontecendo no
Oeste, com a chegada de cada vez mais colonos brancos, o estabelecimento de
fortes militares, a construção de cidades, a corrida ao ouro, os inevitáveis
confrontos com os índios, a expulsão destes últimos dos territórios que
ocupavam há séculos e o seu confinamento em reservas.
Uma contextualização histórica que serve de pano de fundo e
de motor de mudanças no quotidiano dos protagonistas, especialmente os sucessivos
encontros de Buddy com os seus iguais – brancos ou índios – que trarão à sua
existência pacífica dramas cada vez maiores e mais pungentes – para lá dos
pequenos dramas quotidianos que sempre marcaram a sua vida e alicerçaram o
carácter realista desta banda desenhada que pode - deve - ser lida como um único – mas longo - livro, tal a forma como Derib vai encadeando a
acção e evocando sucessivamente acontecimentos passados. Dramas que passam –
igualmente - pelas escolhas de vida dos filhos, mestiços aos quais o conflito
de sangues diferentes proporcionará diferentes opções e posicionamentos.
Tudo isto serve de pretexto ao autor para colocar em
oposição o que de melhor e pior há no ser humano, para exaltar o amor conjugal
e familiar e para levar o seu herói a afastar-se cada vez mais dos seres
humanos – e não apenas dos que têm a mesma cor de pele – embora encontre
sempre, entre índios e brancos, amigos com quem contar.
Esta longa odisseia – e o subjacente périplo - termina, tal
como Derib sabia desde o início, com o regresso dos protagonistas ao local das
suas origens a dois e à posterior morte, ultrapassados já os 50 anos – anos
duros e marcados pela dor e o sofrimento a par do amor que os uniu e lhes deu
forças – unindo as poucas pontas soltas e fechando um longo círculo, carregado
de emoções autênticas, como poucas vezes a BD (dita de aventuras) foi capaz.
Integral Buddy Longway
#1 Chinook pour la vie
#2 Kathleen et Jérémie
#3 La folie des hommes
#4 Loin des siens
#5 Ensemble à jamais
Derib
Le Lombard
Bélgica, 2010/2011
237 x 310 mm, 232 /240 p. (vol. #5), cor, capa dura
25,50 €
(imagens disponibilizadas pela editora; clicar nelas para as
aproveitar em toda a sua extensão)
Gostos não se discutem, bem sei, mas faz-me uma confusão dos diabos como se dá preferência a series como tunicas azuis ou ric hochet em vez de de series como esta ou comanche ou bois maury... Enfim, são gostos senhor.
ResponderEliminarMais do que isso, Eskorpiao77, lamento a prisão ao passado, quando há, hoje, tantas séries interessantes em França...
ResponderEliminarBoas leituras!
Uma série de 20 livros, é (digo eu que não sou editor) uma excelente aposta para coleção em conjunto com jornal.
ResponderEliminarEm relação as edições interessantes, ontem li o primieiro da série "De Cape et de Crocs".
Excelente
Esta obra é excelente e tenho esta colecção de integrais. Mas não significa que seja mais ou menos excelente que os Tunicas Azuis ou outras séries. Há momentos que apetece ler um Asterix ou Tunicas Azuis, outras super herois ou series americanas, outras um buddy longway ou um comanche e até há momentos que não apetece ler nada ;)
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