23/11/2016

Buddy Longway Integral

Um pouco por impulso, um pouco aproveitando (um)a oportunidade, li, em cerca de 15 dias, a saga completa de Buddy Longway.

Conhecia(-lhe) (do Tintin, da Bertrand, da Futura, do Mundo de Aventuras, das Selecções Western, da ASA…) o princípio e o álbum final, mas tinha várias lacunas na sua parte intermédia e, para além de as preencher, esta leitura (realmente) integral, permitiu-me constatar a unidade, e coerência da série e o seu equilíbrio temático em torno de dois vectores principais: o amor familiar – do núcleo Longway: Buddy, Chinnok, Jéremie e Kathleen, mas também de outras famílias com quem se vai cruzando – e a ligação do protagonista com a natureza, que vai crescendo ao longo dos álbuns.
Tudo comentado pelo autor, o suíço Derib (aliás Claude de Ribaupierre) e por alguns dos seus pares, no dossier profusamente ilustrado que abre cada um dos volumes e que, desta vez, se centra especialmente nas palavras do criador).
Como muitos saberão, esta é a história de um caçador de peles, que após salvar uma índia escravizada por dois brancos acaba por casar com ela e ter dois filhos: Jéremie e Kathleen.
A esta inovação temática – Buddy Longway nasceu no início da década de 1970 na Tintin belga – junta-se uma planificação também pouco usual, com vinhetas de pormenor ou grandes planos a serem abertas sobre vinhetas grandes, de conjunto, o que transmite maior dinamismo a uma narrativa cujo grafismo evolui notavelmente ao longo de uma série em que a palavra escrita está reduzida ao mínimo indispensável, para deixar ‘falar’ a natureza em si – as densas florestas, as planícies a perder de vista, as montanhas íngremes, as imensidões cobertas de neve… - , os animais e os seres humanos através da sua postura, acções,  reacções, emoções e sentimentos.
É uma saga que se desenrola ao longo de uns 30 anos e que, a par da vida dos Longway, acompanha também as mudanças que vão acontecendo no Oeste, com a chegada de cada vez mais colonos brancos, o estabelecimento de fortes militares, a construção de cidades, a corrida ao ouro, os inevitáveis confrontos com os índios, a expulsão destes últimos dos territórios que ocupavam há séculos e o seu confinamento em reservas.
Uma contextualização histórica que serve de pano de fundo e de motor de mudanças no quotidiano dos protagonistas, especialmente os sucessivos encontros de Buddy com os seus iguais – brancos ou índios – que trarão à sua existência pacífica dramas cada vez maiores e mais pungentes – para lá dos pequenos dramas quotidianos que sempre marcaram a sua vida e alicerçaram o carácter realista desta banda desenhada que pode  - deve - ser lida como um único – mas longo -  livro, tal a forma como Derib vai encadeando a acção e evocando sucessivamente acontecimentos passados. Dramas que passam – igualmente - pelas escolhas de vida dos filhos, mestiços aos quais o conflito de sangues diferentes proporcionará diferentes opções e posicionamentos.
Tudo isto serve de pretexto ao autor para colocar em oposição o que de melhor e pior há no ser humano, para exaltar o amor conjugal e familiar e para levar o seu herói a afastar-se cada vez mais dos seres humanos – e não apenas dos que têm a mesma cor de pele – embora encontre sempre, entre índios e brancos, amigos com quem contar.
Esta longa odisseia – e o subjacente périplo - termina, tal como Derib sabia desde o início, com o regresso dos protagonistas ao local das suas origens a dois e à posterior morte, ultrapassados já os 50 anos – anos duros e marcados pela dor e o sofrimento a par do amor que os uniu e lhes deu forças – unindo as poucas pontas soltas e fechando um longo círculo, carregado de emoções autênticas, como poucas vezes a BD (dita de aventuras) foi capaz.

  

 
Integral Buddy Longway
#1 Chinook pour la vie
#2 Kathleen et Jérémie
#3 La folie des hommes
#4 Loin des siens
#5 Ensemble à jamais
Derib
Le Lombard
Bélgica, 2010/2011
237 x 310 mm, 232 /240 p. (vol. #5), cor, capa dura
25,50 €

(imagens disponibilizadas pela editora; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)

4 comentários:

  1. Gostos não se discutem, bem sei, mas faz-me uma confusão dos diabos como se dá preferência a series como tunicas azuis ou ric hochet em vez de de series como esta ou comanche ou bois maury... Enfim, são gostos senhor.

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  2. Mais do que isso, Eskorpiao77, lamento a prisão ao passado, quando há, hoje, tantas séries interessantes em França...
    Boas leituras!

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  3. Uma série de 20 livros, é (digo eu que não sou editor) uma excelente aposta para coleção em conjunto com jornal.

    Em relação as edições interessantes, ontem li o primieiro da série "De Cape et de Crocs".
    Excelente

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  4. Esta obra é excelente e tenho esta colecção de integrais. Mas não significa que seja mais ou menos excelente que os Tunicas Azuis ou outras séries. Há momentos que apetece ler um Asterix ou Tunicas Azuis, outras super herois ou series americanas, outras um buddy longway ou um comanche e até há momentos que não apetece ler nada ;)

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