O desenhador e argumentista francês Marcel Gottlieb faleceu
no passado domingo, contava 82 anos.
Natural de Paris, onde nasceu a 14 de Julho de 1934, filho
de judeus húngaros, desenhou desde a adolescência embora também tenha
desempenhado outras actividades como estivador ou farmacêutico.
Depois de frequentar um curso de desenho publicitário, em
1954 começou a trabalhar como legendador em várias publicações, entre elas “Le
Journal de Mickey”. Cinco anos mais tarde começava verdadeiramente a sua
carreira de desenhador, ilustrando livros infantis, álbuns para colorir e
manuais de desenho, tendo na mesma época realizado a sua primeira banda
desenhada, “Le Générale Dourakine”, na colecção “Petir Faon”, ao mesmo tempo
que descobria a revista humorística norte-americana “Mad”, que o marcou
profundamente.
Em 1962 entrou para a revista “Vaillant”, primeiro de forma
discreta, com séries de pouco sucesso, mas em 1965 criou Gai-Luron como
personagem secundário de “Nanar et Jujube”. Este cão vagamente inspirado no
Droopy da animação, revelou rapidamente um carácter fortemente cómico,
assumindo mesmo o protagonismo em “Gai-Luron ou la joie de vivre”, que Gotlib,
o seu pseudónimo artístico, escreveu e desenhou até 1971, só voltando a ele 15
anos mais tarde, mas com uma temática mais adulta.
Ainda nesse ano de 1965, o seu caminho cruzou-se com os de
Jacques Lob e René Goscinny, dois dos maiores argumentistas da BD francófona,
com quem viria a trabalhar. Nesse mesmo ano, entrou para a “Pilote, le journal
d’Astérix e Obélix”, onde, com argumento de Goscinny, desenhou “Les
Dingodossiers”, uma versão satírica da sociedade e da actualidade francesas,
que ao fim de três anos assumiria a solo sob o título “Rubrique à brac”.
Em 1972, ele e Lob imaginaram em separado um super-herói 100
% francês que, uma vez unificados os dois projectos, deu origem ao
“Superdupont”, com o seu uniforme tricolor, bigode farto e a tradicional boina.
Em 1973 vestiu pela primeira vez a pele de editor, fundando,
com Claire Bretécher e Nikita Mandryka a revista “L’Écho des Savannes”, onde a
sua produção aos quadradinhos se tornou mais provocadora, obscena e impúdica e
repleta de humor negro, marcando os anos 1970.
Três anos mais tarde, deixou-a para criar com Alexis e Jacques
Diament a “Fluide Glacial”, na dupla componente revista e editora, onde retomou
Gai-Luron e onde foram compiladas em álbum muitas das suas criações anteriores,
como o professor Burp, Isaac Newton, a Coccinelle ou o Hamster Jovial.
Angoulême reconheceu a sua importância e a inovação que
introduziu na BD francófona ao conceder-lhe em 1991 o Grande Prémio pelo
conjunto da sua obra.
(versão revista e aumentada do texto publicado no Jornal de
Notícias de 6 de Dezembro de 2016;
clicar nas imagens para as apreciar em toda
a sua extensão)
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