27/01/2017

Jolly Jumper ne répond plus

Para lá da imaginação





E para os que pensavam que depois de L’Homme qui tua Lucky Luke melhor não era possível, eis que Guillaume Bouzard nos mostra - num registo diferente mas igualmente estimulante - uma outra faceta igualmente irresistível de (um) Lucky Luke.
Tanto que, logo à prancha 7 - onde parei para escrever estas primeiras linhas - já soltei diversas gargalhadas, pois Bouzard já conseguiu satirizar, demolir, tudo o que há em Lucky Luke: a relação (?) com Jolly Jumper, o abandono do vício de… mascar uma palhinha de trigo (!), as semelhanças dos irmãos Dalton, a solidão do protagonista, o seu guarda-roupa, a lentidão da sua sombra… num irresistível tom psicanalítico, assente num traço aparentemente desleixado mas muito expressivo e (acomodadamente) dinâmico.
Apesar disso, o fio condutor de Jolly Jumper ne répond plus assenta no mutismo do fiel companheiro do cowboy, tratado - e assumido por (este) Lucky Luke - como se de uma relação - normal… - a dois se tratasse.
As tentativas de aproximação, de explicação, de partilhar (de novo) o que já os uniu - a chávena de café, a pesca no ribeiro, o jogo de xadrez - bem como as
tentativas de inovação - o novo (?) visual (igual na continuidade, radicalmente diferente a ponto de o tornar irreconhecível?!) , os diferentes jogos propostos… - conferem ao relato um tom absurdo mas muito divertido ao mesmo tempo que fazem desfilar perante o leitor todos os pequenos (enormes) nadas da série que fizeram dela uma das mais conseguidas e populares no género humorístico franco-belga, bem como muitos dos seus títulos, inseridos nos diálogos como referências ou em conseguidos trocadilhos.
As paródias ao herói original, aos Dalton, às personagens recorrentes - e são várias aquelas que vamos reencontrar - multiplicam-se, prolongam-se, por vezes, ao longo das páginas - e o que me apetecia citar, reproduzir aqui algumas, muitas delas!
Com um final coerente, divertido, bem conseguido até dentro da linha narrativa adoptada - mas a que falta impacto para constituir a ‘cereja no topo do bolo’ - o conjunto, mostra, prova que, afinal - como já sabíamos… - na banda desenhada não há mais limites do que a imaginação e capacidade narrativa dos autores.

Jolly Jumper ne répond plus
Guillaume Bouzard
Lucky Comics
França, 27 de Janeiro de 2017
205 x 275 mm, 48 p., cor, capa dura
EAN 9782884713702
13,99 €

(imagens disponibilizadas pela editora; clicar nelas para as aproveitar em toda a sua extensão)

1 comentário:

  1. Aqui está um excelente exemplo de como continuar um respeitável legado de BD. Seria bom que as novas aventuras do "Blake & Mortimer" seguissem este exemplo (se bem que há uma excepção de qualidade, nomeadamente as "Aventuras de Philip e Francis").

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