Para lá da
imaginação
E para os que pensavam que depois de L’Homme qui tua Lucky Luke melhor não era possível, eis que
Guillaume Bouzard nos mostra - num registo diferente mas igualmente estimulante
- uma outra faceta igualmente irresistível de (um) Lucky Luke.
Tanto que, logo à prancha 7 - onde parei para escrever estas
primeiras linhas - já soltei diversas gargalhadas, pois Bouzard já conseguiu
satirizar, demolir, tudo o que há em Lucky Luke: a relação (?) com Jolly
Jumper, o abandono do vício de… mascar uma palhinha de trigo (!), as
semelhanças dos irmãos Dalton, a solidão do protagonista, o seu guarda-roupa, a
lentidão da sua sombra… num irresistível tom psicanalítico, assente num traço
aparentemente desleixado mas muito expressivo e (acomodadamente) dinâmico.
Apesar disso, o fio condutor de Jolly Jumper ne répond plus assenta no mutismo do fiel companheiro
do cowboy, tratado - e assumido por (este) Lucky Luke - como se de uma relação -
normal… - a dois se tratasse.
As tentativas de aproximação, de explicação, de partilhar
(de novo) o que já os uniu - a chávena de café, a pesca no ribeiro, o jogo de
xadrez - bem como as
tentativas de inovação - o novo (?) visual (igual na
continuidade, radicalmente diferente a ponto de o tornar irreconhecível?!) , os
diferentes jogos propostos… - conferem ao relato um tom absurdo mas muito
divertido ao mesmo tempo que fazem desfilar perante o leitor todos os pequenos
(enormes) nadas da série que fizeram dela uma das mais conseguidas e populares
no género humorístico franco-belga, bem como muitos dos seus títulos, inseridos
nos diálogos como referências ou em conseguidos trocadilhos.
As paródias ao herói original, aos Dalton, às personagens
recorrentes - e são várias aquelas que vamos reencontrar - multiplicam-se,
prolongam-se, por vezes, ao longo das páginas - e o que me apetecia citar,
reproduzir aqui algumas, muitas delas!
Com um final coerente, divertido, bem conseguido até dentro
da linha narrativa adoptada - mas a que falta impacto para constituir a ‘cereja
no topo do bolo’ - o conjunto, mostra, prova que, afinal - como já sabíamos… -
na banda desenhada não há mais limites do que a imaginação e capacidade
narrativa dos autores.
Jolly Jumper ne répond plus
Guillaume Bouzard
Lucky Comics
França, 27 de Janeiro de 2017
205 x 275 mm, 48 p., cor, capa dura
EAN 9782884713702
13,99 €
(imagens disponibilizadas pela editora; clicar nelas para as
aproveitar em toda a sua extensão)
Aqui está um excelente exemplo de como continuar um respeitável legado de BD. Seria bom que as novas aventuras do "Blake & Mortimer" seguissem este exemplo (se bem que há uma excepção de qualidade, nomeadamente as "Aventuras de Philip e Francis").
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