Fim de Ciclo
Já o escrevi várias vezes. Cresci com o Mundo de Aventuras,
li nele (quase) todo o género de banda desenhada; para o bem (muito) e mal (que
quase não identifico) foi a minha escola no que aos quadradinhos diz respeito.
No dia 21 de Agosto de 1974, numas férias nas Caldas da
Rainha, o meu pai ofereceu-me o meu primeiro MA, o #47 da II série (com histórias de Rip Kirby e Príncipe
Valente). Foi um momento de crescimento, de descoberta, o passo que iria marcar
toda a minha vida.
Semanas depois, já no Porto, onde então residia, já com
diversos números coleccionados e lidos (e relidos), vi à venda, num quiosque
perto de minha casa, de onde me chamou durante muitos dias, o número #46, um
especial de aniversário da revista, com o dobro das páginas (e do preço) – que
descobri durante a escrita deste texto, anunciava com um ano de antecedência o
26.º aniversário (que devia ser 25.º!). Não o pedi, mas ficou-me na memória,
com o encanto que os números especiais então tinham - e tiveram ao longo de
anos.
Depois, cruzei-me com ele várias vezes. O fascínio ficara,
parado no tempo, como um daqueles desejos que existem mas que não nos sentimos
impelidos a satisfazer, o que a par do mau estado das edições que fui
encontrando ou do seu preço excessivo nunca me levaram a comprá-lo.
Há cerca de ano e meio – tinha começado meses antes, de
forma desprendida, a completar a minha colecção do MA, pude adquirir os
primeiros 53 números (os de formato grande) da II série do Mundo de Aventuras,
entre os quais esse mítico (para mim) n.º 46.
A primeira ideia foi lê-lo de imediato, mas depois decidi
ler uma revista por semana, à procura, talvez, do encanto e do maravilhoso que
durante anos, com regularidade, alimentaram a minha sede de aventura e
descoberta.
Por razões diversas essa periodicidade perdeu-se, a leitura
tornou-se aleatória, mas finalmente, no passado mês de Dezembro, li a edição
#45.
O #46 ficou então, desde logo, para abrir – aos quadradinhos
– este novo ano, 2017.
Nele, reencontrei o (desgastado) Mandrake de Falk e
Fredericks a braço com um supercomputador que queria dominar o mundo (!), o
Tarzan (menor) de Bob Lubers, o elegante e divertido Robin dos Bosques de Jean
Olivier e Eduardo Teixeira Coelho e (o primeiro episódio de) um western protagonizado por Teddy Ted (!), criado por uma dupla franco-andaluza: Jacques Kambouchner e Yves Roy (pseudónimo de Francisco Hidalgo), mas nesta altura já da responsabilidade de Roger Lécureux e Gérald Forton.
Foi, como eu antecipadamente sabia, uma leitura
com muito de nostálgico e algum desencanto. Porque hoje procuro outras
leituras; por ver, agora, o que os meus olhos então ignoravam: o papel fraco,
a impressão borratada, traduções apressadas, legendagem
deficiente, cortes nas vinhetas...
Mas também surpreendido pelas diferenças que
reflectiam uma pujança editorial hoje desaparecida: a edição semanal,
um poster central a cores, os milhares de exemplares impressos, as
muitas páginas de publicidade – 9 (nove) só neste número, a dois bancos,
Lego, Scheweppes, motorizadas...
Uma leitura que foi, acima de tudo, acredito, um
fechar de um ciclo algures dentro de mim. Sem renegar nem esquecer tudo o
que o Mundo de Aventuras significou e o muito que reconheço que lhe
devo...
Mundo de Aventuras
#46
Vários autores
Vários autores
Agência Portuguesa de
Revistas
Portugal, Agosto de
1974
A4, 64 p., pb, capa
fina
Semanal, 10$00
(clicar nas imagens para as aproveitar em toda a sua
extensão)
O Teddy Ted já não era do Hidalgo, mas do Gérald Forton, com textos do Lecureux. E não era uma estreia, já tinha alguns episódios esporádicos no MA e no Selecções.
ResponderEliminarTem toda a razão, caro Anónimo.
EliminarFoi induzido em erro pelo site que consultei mas já fiz a devida correcção no texto.
Obrigado pela leitura atenta.
Boas leituras!
Dúvida pertinente, quantos dos bancos que anunciaram nós já tivemos de resgatar desde então?
ResponderEliminarSão estes Hunter: Banco do Alentejo e... Caixa Geral de Depósitos!
EliminarBoas leituras!
Pelo menos o Banco do Alentejo (BA) não resgatamos..
EliminarAs voltas que isto dá: O BA passou para o Fonsecas e Burnay que depois foi adquirido pelo BPI que um dia destes passa a La Caixa....