09/01/2017

Mundo de Aventuras #46

Fim de Ciclo






Já o escrevi várias vezes. Cresci com o Mundo de Aventuras, li nele (quase) todo o género de banda desenhada; para o bem (muito) e mal (que quase não identifico) foi a minha escola no que aos quadradinhos diz respeito.
No dia 21 de Agosto de 1974, numas férias nas Caldas da Rainha, o meu pai ofereceu-me o meu primeiro MA, o #47 da II série (com histórias de Rip Kirby e Príncipe Valente). Foi um momento de crescimento, de descoberta, o passo que iria marcar toda a minha vida.
Semanas depois, já no Porto, onde então residia, já com diversos números coleccionados e lidos (e relidos), vi à venda, num quiosque perto de minha casa, de onde me chamou durante muitos dias, o número #46, um especial de aniversário da revista, com o dobro das páginas (e do preço) – que descobri durante a escrita deste texto, anunciava com um ano de antecedência o 26.º aniversário (que devia ser 25.º!). Não o pedi, mas ficou-me na memória, com o encanto que os números especiais então tinham - e tiveram ao longo de anos.
Depois, cruzei-me com ele várias vezes. O fascínio ficara, parado no tempo, como um daqueles desejos que existem mas que não nos sentimos impelidos a satisfazer, o que a par do mau estado das edições que fui encontrando ou do seu preço excessivo nunca me levaram a comprá-lo.
Há cerca de ano e meio – tinha começado meses antes, de forma desprendida, a completar a minha colecção do MA, pude adquirir os primeiros 53 números (os de formato grande) da II série do Mundo de Aventuras, entre os quais esse mítico (para mim) n.º 46.
A primeira ideia foi lê-lo de imediato, mas depois decidi ler uma revista por semana, à procura, talvez, do encanto e do maravilhoso que durante anos, com regularidade, alimentaram a minha sede de aventura e descoberta.
Por razões diversas essa periodicidade perdeu-se, a leitura tornou-se aleatória, mas finalmente, no passado mês de Dezembro, li a edição #45.
O #46 ficou então, desde logo, para abrir – aos quadradinhos – este novo ano, 2017.
Nele, reencontrei o (desgastado) Mandrake de Falk e Fredericks a braço com um supercomputador que queria dominar o mundo (!), o Tarzan (menor) de Bob Lubers, o elegante e divertido Robin dos Bosques de Jean Olivier e Eduardo Teixeira Coelho e (o primeiro episódio de) um western protagonizado por Teddy Ted (!), criado por uma dupla franco-andaluza: Jacques Kambouchner e Yves Roy (pseudónimo de Francisco Hidalgo), mas nesta altura já da responsabilidade de Roger Lécureux e Gérald Forton.
Foi,  como eu antecipadamente sabia,  uma leitura com muito de nostálgico e algum desencanto.  Porque hoje procuro outras leituras; por ver, agora, o que os meus olhos então ignoravam: o papel fraco,  a impressão  borratada, traduções apressadas, legendagem deficiente, cortes nas vinhetas...
Mas também  surpreendido pelas diferenças que reflectiam uma pujança editorial hoje desaparecida: a edição  semanal,  um poster central a cores, os milhares de exemplares impressos,  as muitas páginas de publicidade – 9 (nove) só  neste número, a dois bancos, Lego, Scheweppes, motorizadas... 
Uma leitura que foi,  acima de tudo, acredito,  um fechar de um ciclo algures dentro  de mim. Sem renegar nem esquecer tudo o que o Mundo  de Aventuras significou e o muito que reconheço que lhe devo...

Mundo de Aventuras #46
Vários autores
Agência Portuguesa de Revistas
Portugal, Agosto de 1974
A4, 64 p., pb, capa fina
Semanal, 10$00

(clicar nas imagens para as aproveitar em toda a sua extensão)

5 comentários:

  1. Anónimo9/1/17 15:50

    O Teddy Ted já não era do Hidalgo, mas do Gérald Forton, com textos do Lecureux. E não era uma estreia, já tinha alguns episódios esporádicos no MA e no Selecções.

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    1. Tem toda a razão, caro Anónimo.
      Foi induzido em erro pelo site que consultei mas já fiz a devida correcção no texto.
      Obrigado pela leitura atenta.
      Boas leituras!

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  2. Dúvida pertinente, quantos dos bancos que anunciaram nós já tivemos de resgatar desde então?

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    1. São estes Hunter: Banco do Alentejo e... Caixa Geral de Depósitos!
      Boas leituras!

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    2. Pelo menos o Banco do Alentejo (BA) não resgatamos..
      As voltas que isto dá: O BA passou para o Fonsecas e Burnay que depois foi adquirido pelo BPI que um dia destes passa a La Caixa....

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