11/01/2017

Tex Edição Especial Colorida #6

Curtas ou compridas?







Para o bem e para o mal, segundo os diversos pontos de vista – comercial, financeiro, autoral, editorial, dos fãs – os anos recentes vão marcar todo o futuro de Tex.

Sem renegar o passado rico e incontornável, sem afectar a sua importância editorial em Itália (e no Brasil), sem beliscar o seu carácter único que o torna tão especial para milhares de leitores, a Sergio Bonelli Editore tem sabido diversificar a sua oferta actual para, a par dos leitores fiéis – que, naturalmente, terão tendência a diminuir com o passar do tempo – ir atrás de novos leitores.
Leitores que compram em livraria, leitores que valorizam boas edições, leitores que (só) lêem BD a cores, leitores que privilegiam narrativas mais curtas, leitores que compram motivados pela nostalgia, leitores cativados pelo preço baixo da edição publicada com jornais…
A colecção Color Tex – rebaptizada no Brasil Tex Edição Especial Colorida - que é editada duas vezes por ano, alternando uma edição com história completa e colorização tradicional (Bonelli) com outra com (quatro) histórias curtas e colorido mais moderno, é um dos vértices dessa mudança.
Relativamente a este número 6, actualmente distribuído em Portugal (e curiosamente sem ficha técnica), proponho um exercício: leiam cada uma das quatro histórias nele incluídas e tentem perceber se tinham ‘pernas’ para preencher uma ou duas das edições tradicionais ou se na verdade a sua ideia base se esgota nas três dezenas de pranchas que ocupam, mesmo sabendo que nalguns casos podem servir como um teste a novos autores.
Depois, comparem com o que escrevo a seguir.

Estrelas de Lata
Meda (argumento) e Benevento (desenho)
De alguma forma centrada em Kit Carson, que numa passagem, com o seu pard habitual, por Black Rust Town, reconhece dois antigos xerifes do seu passado, dedicados a outras ocupações – um tem um saloon, outro é dono de meia cidade – esta história tinha tudo para dar uma narrativa longa.
Bastava estender um pouco o episódio inicial, explorar melhor a relação passada de Carson com os dois ex-xerifes, aprofundar o roubo e a perseguição que esteve na origem das mudanças que a história retrata e ampliar a investigação dos dois rangers que havia matéria para (muitas) mais páginas.
Que, se permitiam aprofundar o carácter de alguns os intervenientes e dar-lhes espessura, não foram necessárias a Medda para contar uma história com princípio, meio e fim.

Encontro em Tularosa
Burattini e Camuncoli
Aqui é narrado um encontro entre Tex e um antigo coronel, ambos guiados pela mesma busca: vingar o assassinato da filha deste último.
Se a ideia base podia ter sido desenvolvida sem dificuldade para uma história longa, o impacto do final – curiosamente com muito em comum com o do conseguido L’Homme qui tua Lucky Luke – ficaria a perder pela diluição da carga dramática aqui concentrada em menos páginas.

No escuro
Boselli e Rossi
O estigma da diferença e o peso dos preconceitos são o mote de uma história trágica cujo desfecho perderia todo o impacto se o seu número de página crescesse.

Randy, o sortudo
Recchioni e Accardi
História atípica na cronologia texiana, com um fundo de humor que explora a superstição transformada na obsessão que toma conta de um fora-da-lei perseguido (ou não?) por Tex, (quase apenas figurante ausente…) esta é mais uma história que só podia funcionar como curta.

Completas em si próprias, com características específicas, no que ao ritmo, planificação e modo narrativo utilizados diz respeito, (est)as histórias curtas apresentam um Tex diferente, embora na continuidade da sua tradição, com o mesmo herói que (re)conhecemos mas maior liberdade nas abordagens que lhe são feitas.

Tex Edição Especial Colorida #6
Vários autores (ver acima)
Mythos Editora
Brasil, Março de 2016
160 x 210 mm, 128 p., cor, capa mole
Semestral
7,00 €/R$ 21,90


(clicar nas imagens para as aproveitar em toda a sua extensão)

5 comentários:

  1. Não diretamente relacionado com este titulo mas por serem lançamentos de Tex deste mês, recomendo vivamente o Tex Ouro 83 e o Tex Platinum 1.
    Sempre gostei de westerns quer em bd quer em cinema mas confesso que, ao contrário de blueberry ou comanche, Tex nunca foi um personagem cujas histórias me ficassem na memoria. Por causa disso, ao longo de mais de 20 anos contavam-se pelos dedos das mão os numeros de historias de Tex que li. A critica do Pedro ao Tex Platinum aguçou-me a curiosidade para dar outra oportunidade ao ranger e as criticas que li à historia do Tex Ouro num forum italiano levaram-me a comprar ambos e devo dizer que estes dois livros definitivamente mudaram a minha opinião sobre Tex. Duas excelentes histórias, em especial A Grande Invasão que é, sem duvida, um dos melhores westerns que li em bd. Janeiro de 2017 fica-me marcado como o dia em que, finalmente, o Tex me convenceu. Obrigado Pedro.

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    1. Eskorpiao77,
      Comentários destes são gratificantes porque mostram que este blog está a cumprir o seu propósito. Obrigado.
      E aproveitando a onda, aconselho a leitura do Tex: Patagónia, disponível em (boa) edição da Polvo, possivelmente a melhor história do ranger...
      Boas leituras!

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  2. Já estive para comprar o Patagónia umas duas vezes pelo menos. Depois destas duas leituras, acho que vai ser mesmo desta. Também li muito boas coisas do Oklahoma escrito pelo Berardi, de que sou fã por causa de Júlia (outra série que comecei a ler por causa de uma crítica tua) mas este vai ser difícil de arranjar. Talvez seja uma aposta futura da Polvo...

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    1. Compra, compra, que vais gostar de certeza - e o Tempestade em Galveston também é bom...
      Do Oklahoma - o primeiro Tex que comprei, já lá vão uns 20 anos... - confesso que não tenho memória, mas agora fiquei com vontade de relê-lo!
      E não me parece provável ser editado pela Polvo, pelo número de páginas (mais de 300) e pelo visual mais clássico...
      Boas leituras!

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  3. O Tex é provavelmente o maior western atual. E com propostas diversificadas para públicos distintos. Tex graphic novel, para o leitor de álbuns Franco belgas,pelo formato e técnica narrativa e estética. Tex especial colorido, com histórias longas e curtas, para quem só gosta de BD a cores. Tex anual, Grandes épicos! Tex gigante,sempre diferente e quase sempre prima pela excelência.
    Tex mensal, do normal ao sublime.
    Em qualquer das muitas propostas editoriais do Tex há obras primas inesquecíveis. Por exemplo, os assassinos, de font, o caçador de dinossauros, de ortiz...
    A quem nunca leu Tex, dêem lhe uma oportunidade. Irão gostar dele para sempre.

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