Jogar em casa
Passada em Barcelona, este é mais um exemplo da banda
desenhada moderna espanhola que se ambienta e decorre nos locais que os
leitores conhecem.
E é a história de um grupo de adolescentes empenhados em
denunciar um abuso de poder por parte da autoridade.
Ou algo mais, porque o polícia em causa, um veterano, matou
um jovem.
Mas voltemos atrás. O cenário de Ojos grises é o bairro de Poblenou, às portas da zona histórica de
Barcelona, mas também na sua periferia. Antiga zona industrial em mudança, era
um bairro de operários, uma zona desfavorecida, onde coexistiam os que sofreram
sob o jugo do franquismo, os recém-chegados das zonas rurais em busca do sonho
citadino, jovens já nascidos e criados com aspirações e sonhos e uma larga
camada populacional acomodada, indiferente, que apenas sobrevive no marasmo e
na sucessão constante dos dias.
A acção decorre no Verão de 1990 e a proximidade dos Jogos
Olímpicos de 1992, antevê transformações profundas. O encerramento das fábricas
e indústrias que restam, o consequente desemprego, a limpeza (de traficantes,
prostitutas…) tendo em vista a requalificação da zona são apenas o pano de fundo
para uma história mais simples (mas humana) – inspirada, talvez, num caso
similar real, acontecido em 1989, referido por Andreu Mitjans no posfácio que
ajuda a situar o leitor no tempo e no espaço.
Que é, mais uma vez, Barcelona, cidade mítica e mítica já
enquanto cenário de muitas bandas desenhadas. O que é sempre – mesmo num tempo
de globalização – um aspecto extra para atrair o potencial leitor que mais
facilmente se sente identificado por ver os protagonistas calcorrear os espaços
que conhece ou em que até vive.
Numa noite de verão daquele ano, um jovem traficante é
violentamente espancado até à morte por um inspector, veterano da polícia. Mas
há duas testemunhas – ocultas – Lucho e um amigo, que por caso estavam próximos
do local onde tudo aconteceu. Impressionados, assustados, perdidos, têm opiniões
diferentes. Enquanto o amigo quer calar-se e esquecer, Lucho recusa-se a deixar
cair o caso e quer denunciá-lo.
História de adolescentes, felizes e (ainda) iludidos nos seus 14 anos, com toda a liberdade que o Verão trazia, os primeiros amores, a descoberta da vida, a força da amizade e das convicções mas também com o despertar dos valores que irão conduzir, a diferentes velocidades, para a idade adulta, Ojos grises, ao som da balada então na moda, com o tal pano de fundo já referido, que afecta de forma diferente cada um e às diversas famílias envolvidas, acompanha os tempos de indecisão, de dúvida, de incerteza sobre o que fazer e/ou como fazer.
História de adolescentes, felizes e (ainda) iludidos nos seus 14 anos, com toda a liberdade que o Verão trazia, os primeiros amores, a descoberta da vida, a força da amizade e das convicções mas também com o despertar dos valores que irão conduzir, a diferentes velocidades, para a idade adulta, Ojos grises, ao som da balada então na moda, com o tal pano de fundo já referido, que afecta de forma diferente cada um e às diversas famílias envolvidas, acompanha os tempos de indecisão, de dúvida, de incerteza sobre o que fazer e/ou como fazer.
Com um desenho agradável, realçado pelas vinhetas de
dimensões generosas e servida por magníficas cores, esta é uma narrativa
linear, de alguma (deliciosa) ingenuidade, que lança um olhar mais terno do que
crítico, mais emocional do que racional, sobre um local e uma época
determinados e sobre uma idade em que todos os sonhos são ainda possíveis.
Ojos grises
Llor (argumento)
Vidal (desenho)
Batlle (cor)
Evolution Comics
Espanha, Dezembro de 2016
ISBN: 9788490947883
235 x 310 mm, 64 p., cor, capa dura
14,00 €
(pranchas retiradas da página de Facebook da obra; clicar nas imagens para as aproveitar em toda a sua
extensão)
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